Sabrina se obrigara a dormir. Depois de beber a metade final da garrafa de vinho que insistira em trazer, conseguiu sentir-se aquecida o suficiente e pouco sensível à luz do dia e ao chão duro cheio de baratas para pegar no sono.
Sentiu a garganta arranhar, mas relevou, pensando que esse seria um dos seus menores problemas.
Se sonhou, não conseguiu se lembrar. Dormira um sono perturbado, superficial, não chegando realmente a descansar em momento algum.
A garota acordou assustada com os sons altos ao lado de sua cabeça, como se as balas atravessassem a parede ao seu lado.
- Mas que merda?! - Noa estendeu-se no chão com as mãos na cabeça. Ele olhou rapidamente no relógio de pulso. Eles dormiram menos de cinco horas antes das balas começarem a rolar na cidade fantasma.
Pitt levantou-se com cara de emburrado e dirigiu-se à janela, como se fosse reclamar com o vizinho barulhento domingo de manhã.
- Saia da janela, imbecil! - Nina murmurou ao seu lado.
- Você não gosta mesmo de mim, né, ruiva? - Ele sussurrou, sem olhar para ela. - Eles não estão atirando aqui. Olhe você mesma.
Nina bufou e se levantou. Ela colocou-se devagar ao lado de Pitt e subiu nas pontas dos pés para conseguir olhar a janela através da barricada de móveis.
Ela viu quando os fardados atiraram nas criaturas como se não fossem nada. Como se não temessem. Foi nesse momento que ela ficou em dúvida de quem tinha mais medo.
- Começaram cedo a limpeza. - Mori exclamou, já abrindo um pacote de bolachas, dessa vez de chocolate, e colocando o mel cristalizado por cima.
Carla abriu a água e estendeu para o marido e o filho. Ela passou a mão sobre os cabelos de Beto, tão grandes que começavam a cair no olho.
- Como dormiu, filho?
- Bem. - O menino mentiu.
Ela nem percebera quando seu filho passara de uma criança sincera para aquele pré-adolescente que mentia para amenizar as coisas. Carla, mesmo sendo sensível do jeito que era, não deixou demonstrar seu peso no coração.
- Quanto tempo acha que vamos ficar aqui, mãe?
Carla o olhou nos olhos castanhos esverdeados, ainda mais vivos do que antes.
- Alguns dias, filho.
- Vamos morrer?
Ela procurou o apoio de alguém que a salvasse naquele momento, encontrando a mão quente do marido sobre a sua.
- Claro que não, filho, deixe de bobeira! - Mário abraçou Beto enquanto Carla levava as costas da mão ao nariz para segurar o choro. - Chegamos até aqui! Vamos até o final, tá legal? Vai ser uma história e tanto pra contar pros seus filhos, não acha?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Corpos Ébrios (Pausada)
HororComo qualquer outra noite de novembro, a Sra. Moon preparou um chá de camomila levemente adoçado com mel e fechou as janelas da cozinha assim que as primeiras gotas de chuva caíram do céu. Como qualquer outra noite de novembro, Sr. Moon a esperava c...