Capítulo 1- Ponto de Partida

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Kate Mandell

Escolher o que fazer na vida não é nada fácil, as vezes ficamos distraídos com planos de outras pessoas a nossa volta e mudamos nossos objetivos, eu que o diga, quando você chega a um ponto de fazer cinco faculdades para depois de tudo se tornar professora de português. É o fim do mundo! Nunca reclamei do meu trabalho, adoro ensinar.

Depois que começei a dar aula soube que era isso que eu queria fazer, me dou muito bem com crianças mas ultimamente o stress tem me dominado. Pelo meus turnos não consigo ir as festas e menos ainda tenho uma vida social invejável, meus colegas de trabalho me julgam o tempo inteiro e em dois anos nunca consegui nem dez centavos de aumento. Talvez vale a pena pelos meus alunos, talvez eu tenha sido um pouco egoísta mas sinto que nasci para fazer algo mais, fazer a diferença para alguém.

- Como foi seu dia Kate? - Pergunta Clara animada ao me ver passar pela porta, meu corpo estava todo dolorido mas pelo menos consegui chegar em casa com a única notícia boa dessa semana.

Clara é minha melhor amiga, nós moramos juntas desde a nossa primeira formatura e somos unidas desde o fundamental. Nos conhecemos depois que eu a vi chorando no chão do banheiro da escola, éramos zoadas pelas mesmas garotas então eu a consolei, depois daquele dia viramos amigas inseparáveis... Simplesmente a irmã que eu nunca tive.

- Adivinha o que me aconteceu? - Cheguei praticamente pulando de alegria quando abria a porta, joguei meus livros junto da minha bolsa e tirei os sapatos.

- Estou esperando você contar... - Disse revirando os olhos entediada.

- Eu fui contratada para ser governanta da família Fairchild e professora de uma garota de sete anos.

- Nossa, que maravilha parabéns!! Você merece, deve estar muito feliz né?

- Se eu tô feliz? Tá brincando? Eu vou trocar vinte e cinco crianças gritando por um garotinha e ganhar o dobro do que ganhava. Eu tô é explodindo de alegria. - Respondi pulando no sofá, ela viu minha felicidade e se juntou a mim me dando as mãos.

- Quando você começa a trabalhar?

- Amanhã a tarde, vou fazer minhas malas, visitar minha mãe e partir logo em seguida.

- Vamos comemorar. Adivinha o que eu comprei?

- Não!? - Disse surpresa.

- Sim!

Ela tinha comprado duas garrafas de vodka e nós enchemos a cara até ficarmos zonsas.

- Aproveita que você ainda pode ficar bêbada porque apartir de amanhã nunca mais senhorita babá.

- Hahaha. - Zombei. - Se acha que se livrou de mim? Eu vou vim te visitar sempre que puder.

- Acho bom mesmo mocinha.

- Tá mamãe. - Revirei os olhos. - Eu vou dormir, tive um dia cheio e to muito cansada.

- Boa noite Kate!

- Boa noite.
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No dia seguinte acordei bem cedo e Clara me ajudou a fazer as malas e colocá-las no carro. Tinha três grandes de roupas, uma de sapatos e duas pequenas de coisas pessoais, não queria levar muita coisa mas sabia que ela iria ficar com o resto para si.

- Me liga quando puder... - Disse com uma lágrima caindo.

- Claro que sim, vamos nos falar com frequência. - Disse lhe dando um abraço bem forte.

- Te amo muito Kate.

- Eu também te amo Clara.

Entrei no carro e ela acenou enquanto me via partir. Senti uma dor forte no peito, sei que íamos nos ver mas ela já passou por tanta coisa comigo e esse laço que tinhamos era muito forte.
Uma lágrima desce.

Vou dirigindo até o centro da cidade e desço do carro. Olho para a placa em cima daquele enorme edifício branco, leio "hospital psiquiátrico" e entro pelo portão. Depois de tanto lhe fazer visitas os outros pacientes acabaram se acostumando comigo, conhecia alguns, outros me eram estranhos na memória. Eu ouvia uma musica bem alta com fone para relaxar, na verdade não era nada calma, me fazia destrair e me manter afastada do mundo de vez em quando.

- Sagie Mandell - Informo para a secretária com uma plaquinha em seu uniforme branco escrito 'Betany'.

- Quarto 42. - Diz a simpática jovem.

Ando naqueles corredores enormes até achar uma porta com um número quarentena e dois, fico parada, respiro fundo e a abro.

- Mãe? - Pergunto ao vê-la sentada pintando, segurando um pincel em uma de suas mãos e a aquarela na outra.

- Kate... oh Kate. - Sussurra ao largar tudo e me abraçar.

- Oi mãe, como tem passado? - Pergunto tímida.

- Não vou mentir, aqui é horrível mas, acho estou me saindo bem.

- Que bom, tenho que dizer que irei partir e vou vim te visitar com menos frequência.

- Tudo bem, eu já estou acostumada.

- Oh mãe, não me faça com que eu me sinta culpada porque não sou.

- Eu também não fiz nada e olha onde eu estou.

- Fala isso para meu pai, você não pode porque ele tá morto!

- Eu já disse mil vezes que não fiz nada, se a minha filha não consegui acreditar em mim quem aqui vai?

- Eu tenho meus motivos.

- Talvez você devia ter ido com ele. - Gritou.

- Melhor que ser a sua filha. - Gritei e saí de lá o mais rápido que pude, tentando esconder que estava chorando.

- Kate!!

Eu a ignorei e sai do hospital.

Entrei no carro e coloquei tudo para fora, tudo que estava sentindo, todas as dores do passado e chorei por tudo que me havia acontecido na infância. Minha mãe até pode ter passado anos presa nesse lugar, talvez por minha culpa, porém nunca iria entender tudo que sofri por ela, meu maior alívio é saber que nunca mais fará mal a ninguém.

Enxugei minhas lágrimas e liguei o carro, fui em direção a casa dos Fairchild, em direção a minha nova vida e nada poderia me impedir agora, estava pronta!

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