Os Órfãos

Capítulo 5- Labirinto

Kate Mandell

Eu nunca dei aula para alunos acima do 6°ano, nunca precisei ter que lidar com adolescentes. Agora terei que aprender a conviver com um? Ainda se ele fosse um garoto comum, um que não me desse medo eu até poderia suportar.

Nessa noite não consegui dormir quase nada, primeiro que eu não me sentia confortável durmindo fora de casa, era como se eu estivesse incomodando, e depois pelo fato nada estranho de ter visto uma figura feminina amedrontadora no quarto de Flora minutos atrás.
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Eu levantei para tomar um copo de água mas quando passei pelo corredor encontrei Miles novamente, com medo regredi um passo.

Ele correu até mim, agarrou meu pescoço e jogou minha cabeça contra a parede fazendo então quebrar o espelho atrás de mim.

Levantei bem cedo no dia seguinte, sem ter conseguido dormir nada por conta do pesadelo. Estava tudo calmo... Como de costume.

Entrei na cozinha e Grose já estava preparando o café da manhã, a comprimentei com um doce "bom dia" e ela fez o mesmo.

Sentia um cheiro forte de café... Nunca gostei de café, mas quando se é professora você se acostuma com o gosto, melhor do que ficar sonolenta em turno de aula.

- Prove. - Disse ela colocando diante de mim um bolinho de canela. Dei uma mordida e olhei pensativa para o teto enquanto fazia a degustação do alimento.

- Hum... Está uma delícia.

- Que bom que gostou, é uma receita de família.

- Der ser uma delícia. - Disse o garoto entrando na cozinha.

- Bom dia Miles, não devia estar no Colégio? - Pergunta Grose confusa.

- Aquele lugar é um saco nunca mais volto, aliás estava esperando entrarmos em recesso.

- Tudo bem então, quero que conheça a nova governanta, Kate, esse é o Miles!

- Kate... - Sussurou ele me olhando com um sorriso de canto.

- Já fomos apresentados. - Revelei.

Ela me olhou surpresa, mas não disse uma única palavra. Flora chega quebrando o clima tenso.

- Miles!! - Ela grita e corre em direção ao irmão para abraça-lo.

Os ver daquele jeito me fazia lembrar da época em que eu tinha uma família normal, em todos os meus 24 anos nunca mais soube o que era sentir aquilo.

- Bom dia minha querida, tome seu café antes que esfrie e quando acabar Kate irá te dar aula.

- Sim senhora! - Falou sorridente.

Depois que Flora acabou sua refeição fomos para a sala de estar. Tenho que admitir, ela é bem inteligente para uma menina que estuda em casa, fácil de lhe explicar as coisas e uma criança adorável.

Grose estava se ocupando com suas tarefas diárias em algum outro cômodo e Miles estava trancado no quarto com sempre, foi um silêncio necessário.

Algo tira minha concentração dos estudos com Flora, o telefone estava tocando.

- Pode atender Kate? - Pergunta Grose da cozinha.

Corro até a estante da sala e pego o telefone fixo.

- Residência Fairchild? - Indagou a voz do outro lado.

- Sim? - Respondi nervosa.

- Olá, aqui é a diretora do Colégio onde estuda o aluno Miles Fairchild.

- O que a senhora deseja? - Miles o que você fez?! - Pensei.

- Estou ligando para informar que ele foi expulso e voltou ontem a noite.

- O que aconteceu?

- Ele agrediu gravemente um de seus colegas na tarde de ontem e eu tive de tomar certas providências.

- Eu entendo, obrigada por avisar.

- Imagina, tenha uma Boa tarde.

- Igualmente! - Eu estava boquiaberta, aquele garoto não precisa de um Colégio interno, mas sim de uma escola Militar.
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Uma semana tinha se passado e em minha opinião eu estava me saindo bem sendo babá, bom, mas ou menos.

Havia me esquecido de relatar a senhora Grose o motivo da expulsão de Miles mas depois deixei de lado.
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- Nossa, isso aqui é incrível! - Disse maravilhada quando entramos num labirinto no quintal. - Como você não se perde por aqui!?

- E como eu nunca tinha entrado alí ainda? - Pensei.

- Eu já me acostumei. - Respondeu ela.

- Seus amigos devem adorar tudo isso.

- Eu não tenho amigos.

- Nenhum? - Perguntei intrigada.

- Não.

- Bom, agora você tem. - Falei tentando anima-la.

- Eu sei, você é minha melhor amiga Kate... Mas queria amigos da minha idade.

- Obrigada, mas eu te intendo.

Ela me abraçou e correu na minha frente ao longo do caminho, eu estava preocupada que se a perdesse de vista não conseguiria sair de lá ou ela poderia se machucar sem minha supervisão. Então corri atrás dela.

Chegamos em um jardim dentro do labirinto, tinha um laguinho com água verde de lodo e uma árvore alí perto.

- Onde estamos? - Perguntei.

- Esse é o centro do labirinto. - Disse Miles saindo de trás da árvore me dando um belo susto.

- Ahhh!!!! - Gritei por extinto. Um grito alto estridente.

Ambos riram ao me ver assustada. Miles ficou sério ao ver algo atrás de mim, eu olhei para a mesma direção que ele e vi... Um corvo devorando as entranhas de um peixe que ainda se debatia na grama.

Flora gritou e todos nós corremos até eles, ela estava arrasada e eu vía tudo com repulsa por conta de ter estômago fraco para ver esse tipo de cena.

Miles, com um impulso esmagou a cabeça do pobre animal assim espantando o corvo, eu quase vomitei.

- Miles!!! - Gritei

- Nada devia sofrer assim. - Pelo modo que disse parecia ter gostado de ter feito aquilo e isso me deixou perturbada.

- Era meu peixe preferido. - Diz ela.

Ele saiu de lá correndo e Flora ficou me encarando, em seguida enterrei o animal e nós saiamos de lá.

Levei um tempo para parar que pensar naquela cena que me impressionou muito.

Flora rapidamente o esqueceu e voltou a correr pelo labirinto como se essa atitude do irmão fosse completamente normal.