Capítulo 4- Refúgio

835 152 26
                                    

Miles Fairchild

As pessoas tentam controlar tudo o tempo inteiro, sabem que isso não vai dar certo e mesmo assim jogam todas as suas expectativas nisso, se frustram quando falham mesmo sabendo que no fim nem deveriam ter começado.

Eu nunca tive controle da minha própria vida! Depois que meus pais morreram então, não tinha nem do ar que respirava.

Fui matriculado em um colégio interno pela senhora Grose um ano depois tudo acontecer, arrastado para esse inferno me tornei uma pessoa ainda pior do que eu já era.

Quando ainda era residente fixo do meu próprio lar tinha uma vida boa. Grose mantinha meus luxos, pagava minhas aulas de equitação e uma governanta para tomar conta de mim e Flora.

Depois de um tempo fui me tornando próximo de Quint, ele não era só meu professor, era meu amigo! O único naquela casa que realmente me entendia.

Nós confiavamos imensamente um no outro, um dia ele até teve a audácia de me dizer que estava atraído pela minha babá, então fizemos um trato: tentei o ajudar com ela e em troca ele me levava para sair com ele.

Nós saiamos de madrugada para beber, no começo eu recuei mas depois se tornou algo normal para mim, era legal ter alguém com quem conversar pra variar.

Quando me dei conta já estávamos frequentando os bares da cidade todas as noites. Um mês depois já havia começado a fumar e tinha adquirido um certo vício a tudo aquilo.

Enquanto ao Quint, ele tentou a sorte com a governanta, mas o que era para ser amor ou só uma queda que fosse, acabou se tornando um sentimento paranóico. Ela se demitiu, mas semanas seguintes havia desaparecido por completo. Tempo depois, ele sofreu um acidente com o cavalo e morreu.

Ao ser contratado, após a morte de meus pais, Grose percebeu em mim um comportamento estranho diante dele... mas não ligou, acha que eu sou santo e apostou que era stress pós traumático.

Quando ele sumiu, ela vía em mim ansiedade, ociosidade, como eu não tinha nada para fazer ali Grose resolveu me colocar em um colégio interno, no qual só a veria duas vezes no ano.

Mal sabe ela que eu ainda continuava fumando e enchendo a cara depois disso, aliás ela mal sabia sobre qualquer coisa ao meu respeito.

O Colégio era bem legal... Na verdade era ruim pra caralho, era pior do que ficar intediado em casa, pelo menos lá eu não sofria bullying, não era agredido por caras maiores que eu, nem o estranhão da turma e não era rejeitado pelas meninas.

Mas um dia eu estava cansado, cansado de ser zombado, cansado de ser excluido e de ser deixado de lado, estava na hora de ser temido! Um garoto, irmão mais novo de um dos valentões veio tirar satisfações comigo, veio falar mal da única coisa que ainda me importava, minha família.

Parti pra cima dele vorazmente, buscava vingança, estava com sede de violência. Eu queria mata-lo, infelizmente uma monitora que estava alí perto nos separou a tempo. Quebrei um de seus braços, foi só o que deu tempo de ser feito.

Paguei um de santo para a diretora dizendo que estava arrependido, felizmente não deu certo e fui expulso. Eu já queria sair de lá fazia um tempo mas não imaginava que iria ser dispensado por um motivo tão satisfatório a minha honra, a minha mente.

Estudar lá me deixou mais amargo, porém vulnerável em relação às pessoas as meu redor.

A diretoria teve o imenso prazer de me trazer até em casa para conversar com meus "responsáveis", porém estava tarde quando chegamos e ela só me deixou no portão.

Caminhei até a entrada e entrei por aquela porta com certeza de duas coisas, não estava nenhum pouco arrependo pelo que fiz e que, depois de ter estudado no Colégio interno nunca mais seria o mesmo.

Minutos depois de entrar em casa, escondido é óbvio, escutei um grito de mulher. Aquela voz não poderia ser de Flora muito menos de Grose, só podia ser... Ah não, de novo não!

- Outra professora de Flora. - Pensei me retorcendo mediante aquela ideia.

Todas as professoras de Flora além de ficarem tomando conta da minha vida não eram nada idiotas, desconfiavam que eu não era digamos, um adolescente "exemplar", além do mais não tinham nada fisicamente atraente como qual Quint pensava... Eram mulheres de idade.

Acabei tropeçando em algo no chão por conta da luminosidade escassa do lugar, e porque já nem me lembrava mais como os móveis estavam.

Subi as escadas, destranquei meu quarto e acendi a luz. Ele estava do mesmo jeito que o havia deixado.

- Senti saudades. - Pensei.

Encostei minhas malas no canto da minha cama e as abri... Escuto passos vindo em direção ao meu quarto, as fecho novamente e apago a luz, deito na cama e fico quieto esperando ela ir embora.

Me lembro de que não fechei a porta e disparo em direção a entrada do cômodo, a tranco divagar para não atrair ninguém e me deito novamente.

Escuto passos alí dentro do cômodo...

- Porra, eu tranquei a mulher no meu quarto! - Penso.

Tento achar sua silhueta e a preeciono contra a parede lhe tapando a boca com minha mão.

Ela começa a ficar ofegante e só ai eu percebo a besteira que acabei de fazer, mas não podia arriscar e ceder, o medo de outro grito dela me causar problemas com Grose era grande.

Tentei acalma-la e acendi a luz, quando a vi alí parada na minha frente pensei:

- Porra que mulher linda do CA-RA-LHO!

Ela tinha cabelo curto e bem claro, tais com que destacam-se olhos verdes grandes, tinha a boca rosada e era bem magra, não tanto quando eu que tava só a carcaça por conta da nicotina.

Sua cara de pavor ao me ver me fazia sorrir, ve-la negando isso me despertava um senso malicioso involuntário, queria que ela ficasse alí comigo mas ela me tomou as chaves e saiu.

- Pelo menos me deu Boa noite. - Pensei.

Ela devia ter me achando estranho mas eu nem consegui respirar perto dela, quem dirá medir as minhas ações.

Tentei dormir o mais rápido de pude para parar de pensar naquele desastre, quando me veio a cabeça. Ela vai morar aqui!?

Puta merda eu to perdido.

Os Órfãos Onde histórias criam vida. Descubra agora