Lembranças de um passado esquecido

Por que está aqui?

Rússia, 2012...

Mikhail Ivanoff se encontrava em um hospital com diversos aparelhos ligados a si. O homem, cheio de cicatrizes de queimaduras em boa parte do rosto e corpo, estava em um coma há pouco mais de 8 anos e tinha poucas chances de voltar a acordar, era o que os médicos diziam. A ex-esposa e filha já não o visitavam mais, seguindo com suas vidas sem o homem, já aceitavam que não tinha mais volta.

Mas às vezes, milagres acontecem e, mesmo depois de tantos anos e tantos problemas envolvendo sua saúde, ele acordava, sentindo aqueles fios grudados em si e um tubo que estava em sua garganta. Por puro reflexo, suas mãos foram diretamente para o tubo, tentando o tirar, porém alguém que já estava em seu quarto, que ele não conhecia, tirou suas mãos do local e apertou um botão de emergência que tinha perto da cama de Mikhail, que chamaria as enfermeiras para ajudá-lo.

– Se acalme, doutor. Logo poderemos conversar. – o homem disse para Ivanoff, saindo de perto dele assim que as enfermeiras entraram no quarto. Mikhail percebeu que elas falavam em russo, o que significava que já não estava mais nos Estados Unidos.

Depois de finalmente terem o desconectado de todas aquelas máquinas, o quarto foi liberado e o homem, que observava a cidade pelas janelas do quarto, começou a falar, enquanto Mikhail se sentava em sua cama, observando o próprio corpo.

Estava cheio de queimaduras horríveis. Como será que estava seu rosto? ele pensou.

– Dr. Ivanoff, o senhor sofreu um acidente terrível durante um experimento que, infelizmente, acabou em uma explosão. – o homem falava, sem ao menos olhar para o outro, que agora o observava, prestando atenção em tudo o que estava falando. – Você sofreu queimaduras de 2º e 3º graus e ficou em coma por 8 anos.

– 8 anos? – Ivanoff praticamente sussurrou, não conseguindo acreditar quanto tempo estava naquele estado. – Matthew e Harriet... Eles estavam no laboratório também. Eles estão bem?

– Eles faleceram. Uma grande perda. – disse o homem, sem qualquer sentimento.

– Não acredito que fui o único sobrevivente. – disse Ivanoff, se sentindo um pouco triste com a perda de seus amigos e colegas de trabalho. Trabalharam tanto tempo juntos naquele soro e nem puderam ver o resultado de todo seu esforço. Pensando nisso, Ivanoff decidiu perguntar. – Mas o experimento? Por acaso funcionou? – ele disse, voltando a observar seu corpo, tentando perceber alguma outra mudança além daquelas cicatrizes.

– Sim. – Ivanoff abriu um sorriso, orgulhoso. Seu trabalho deu certo! – Mas não no senhor. – Seu sorriso se desmanchou e ele olhou para o homem com uma feição confusa.

– Como assim? O soro não foi dado a mais ninguém, tínhamos apenas uma amostra. – ele perguntou. O homem, que até aquele momento observava pela janela, finalmente voltou a sua atenção a Ivanoff, com um sorriso cínico no rosto.

– É por isso que estou aqui, doutor. – ele disse, caminhando na direção de Mikhail. – O soro nunca foi dado ao senhor. Bem, não completamente. – o doutor estava incrédulo. – A maior parte da amostra foi dada à filha dos Chadwick. Madeline.

– Porque eles fariam isso? – o homem à sua frente apenas balançou os ombros, mostrando que não sabia as razões do casal.

– Claramente não confiavam no senhor. – o homem o encarou, com as sobrancelhas levantadas. – Bem, não quero continuar enrolando aqui. Vou ir direto ao ponto com o senhor. Você é único que tem total conhecimento sobre a fórmula do soro e que poderia fazer um estudo aprofundado de uma amostra vinda diretamente de Madeline. Queremos que o senhor trabalhe conosco, temos grande interesse neste experimento.