Lembranças de um passado esquecido

Assim como da última vez

Loki começava a acordar e, diferente do chão gelado que sentia quando adormeceu depois do show de horrores que aquela facada o proporcionou, sentiu que estava deitado em algo macio e confortável. Ao abrir os olhos, percebeu que já não estava mais naquele cômodo e sim nos aposentos de alguém, deitado em uma cama. Como havia parado ali, ele não fazia ideia. Será que caminhou até lá? Ou a jovem que o ajudou o carregou? 

Não fazia diferença. Loki apenas tinha em mente que tinha que sair daquele lugar, precisava descobrir o que acontecia com ele, porque voltou e qual o motivo de estar sem os seus poderes. Porém, assim que se sentou, sentiu uma dor aguda em seu ferimento que o fez pensar duas vezes antes de levantar totalmente. Mesmo com poucas esperanças, tentou um de seus truques para ajudar a se levantar, mas como já sabia, nada aconteceu. Com certa dificuldade, o deus da trapaça seguiu até a porta e se certificou de que a garota não estava ali. Como não ouviu nada, seguiu o seu caminho até a porta do apartamento quando, de repente, ouviu uma voz.

– Onde pensa que tá indo? – pergunta a mulher, encostada no balcão que dividia a sala da cozinha, tomando um copo de suco de laranja, fazendo Loki parar imediatamente e se virar lentamente em sua direção. A garota vestia um top e uma calça de moletom cinzas, seus cabelos presos insistiam em cair por conta do corte curto que não era próprio para aquele penteado. Ela parecia ter feito algum esforço físico pois estava um pouco suada. – Sei que está com medo que eu chame alguém, mas não precisa se preocupar. Não fiz isso a noite inteira, não é agora que vou fazer. Além disso, ainda vai precisar de atendimento médico por um tempo. – ela terminou de falar, apontando para a ferida de Loki e largando o seu copo no balcão.

– Não preciso da sua ajuda. – respondeu Loki, sério e convencido, tentando ao máximo esconder sua feição de dor. 

– Parecia precisar ontem. – ela respondeu passando por ele e esbarrando nele de propósito, para o provar o seu ponto. Loki se virou muito rápido e sentiu aquela dor pungente novamente, não conseguindo evitar um gemido de dor. A mulher, parecendo arrependida do que tinha feito, voltou sua atenção a ele novamente e, bem próxima dele, tocou seu ombro e disse: – Pelo menos hoje, tá bem? Preciso ter certeza que vai estar bem quando decidir ir embora.

Loki, ainda convencido de que não precisava de sua ajuda e que precisava buscar por respostas, observou aqueles lindos olhos negros que o encaravam e, por fim, cedeu. Não acreditava que estava fazendo aquilo, mas ele não podia negar que precisa de um lugar seguro, pelo menos por um tempo. E ele realmente duvidava que alguém fosse o procurar por ali. Pelo menos, era isso que ele se convencia estar fazendo. Sem dar resposta verbal qualquer para a mulher, ele simplesmente desviou o seu olhar de forma presunçosa e se sentou no sofá da sala.

– Obrigada. – ela respondeu, o olhando com um pequeno sorriso. – Vou trazer algo para você comer. – ela disse, saindo da sala e trazendo em seguida um prato com torrada e um copo de suco, assim como o que ela havia tomando antes, e se sentou ao lado do deus da trapaça. 

Antes de começar a comer, Loki observou as torradas com uma expressão estranha, e olhou para a garota com a mesma expressão. 

– O que foi? Não se preocupa, eu não envenenei a sua comida, não. Pode comer. – ela responde, rindo. 

Mesmo com um pé atrás, Loki começou a comer, e não havia percebido até aquele momento o quanto estava faminto. Enquanto se alimentava a garota não conseguiu evitar começar a fazer perguntas.

– Posso saber seu nome? – ela perguntou. Loki pensou um pouco antes de responder. Será que deveria dizer seu nome real? Não sabia o que aconteceria se a contasse, considerando seu passado naquele planeta.

– Loki. – ele respondeu, finalmente, esperando alguma reação da garota antes de voltar a comer. Loki percebeu que ela não expressou nenhum espanto ou qualquer coisa do tipo. Talvez ela não soubesse de tudo o que ele fez. Mas era meio difícil não saber, até porque ela morava em Nova York. Mas quando percebeu que ela não teve nenhuma reação ruim, continuou a comer.