Capítulo especial : Os Fantasmas de Umbrae

61 3 41
                                    

Atenção : Esse capítulo especial tem gatilhos como drogas, suicídio e abandono 

O olhar sério de Cosmo não tinha um foco naquela boate onde pessoas dançavam no ritmo daquele estranho gênero de música sombria com sintetizadores. A boate era um lugar cheio e em certos cantos obscenos, porque a escuridão do local era bem aproveitada para quem não tinha vergonha. Claro que nem tudo ali era tão escuro, as luzes brancas e azuis e às vezes vermelhas piscavam no ritmo da batida dando uma sensação de pura euforia, como se fosse uma droga de tão hipnótica.

    O ruivo segurava a bebida que de minutos a minutos tomava um gole, sua expressão era a mais desinteressada possível, mas a moça um tanto bêbada do lado dele que lhe tocava o peito parecia não notar isso. Não era só ela, do outro lado de Cosmo, havia outra moça dormindo com a cabeça em seu colo como uma provocação, mas nada disso o instigava para a tentação mais íntima e vulgar. Cosmo era um homem cobiçado entre as pessoas e as mesmas recebiam sempre a mesma resposta. Não, não estou procurando nada. Cosmo nunca teve atração por ninguém, era desprovido de desejos e sentia-se totalmente confortável consigo mesmo sobre isso. O que lhe irritava mesmo era a insistência das pessoas, e o fato dele apenas negar e não dar nenhuma explicação o tornava um arrogante na visão de outros.

    Era isso, chegou ao limite de sua paciência quando a moça bêbada o beijou perto dos lábios. Ele saiu do lugar que estava sentado imediatamente esfregando o local do beijo como se quisesse se livrar de algo pegajoso. Ouviu seu nome ser chamado várias vezes, mas nada o faria voltar para lá. Cosmo esbarrou com muitas pessoas até sair daquela boate, era como estar em um mar de corpos agitados, e sem que ele notasse, estava na direção contrária de todos eles.

    Ele segue a vida desse jeito, não escolhe o caminho alternativo, e sim corre na direção contrária, não por rebeldia, mas porque seu pensamento não se aquieta se ele agir como a grande maioria. Cosmo não queria elogios e prêmios por isso, era parte de sua personalidade, é algo totalmente natural e não algo para ser glorificado. Sua mente está fincada e trancada em suas ideias sobre si mesmo e sobre os outros. Não que ele julgue os indivíduos de forma tão severa a primeira vista, mas ele era abençoado com o terrível senso de ser realista, e ele já sabe que as pessoas não querem ouvir a verdade sobre si mesmas, pois a cegueira é melhor, é confortável e não machuca. O que as pessoas confundem com a brutalidade de suas palavras mesmo ditas em um tom calmo, não passam de sinceridade.

    Finalmente fora da boate, ele ainda conseguia ouvir o som da música e sua batida viciante. Estava ali pelas bebidas e pela música, mas como sempre....Alguém precisa acabar com o dia dele. E parece bizarro e literal dizer dia, mas, na verdade ainda era duas e pouco da tarde, mas os céus escuros de Umbrae pareciam dizer o contrário. Aquela cidade estava condenada a noite eterna, e quem não estava acostumado com o cenário da noite poderia ficar seriamente louco ou com sintomas de depressão. A cidade refletia no estilo de vida das pessoas de uma forma negativa, mas tão costumeira que isso não era problemas para quem vivia por lá.

    Ele já não tinha mais clima para festa nenhuma, então resolveu ir para sua humilde casa que era um contêiner, e ninguém o espera lá. Talvez se fosse para belíssima casa de seus pais que o adotaram, Cosmo tem a certeza de que seria recebido de braços abertos por sua mãe adotiva. Braços abertos e olhos carregados de lágrimas de uma esperança correspondida, mas Cosmo, mas não dar esse gosto para sua mãe adotiva. Existia algo naquela casa.....Não, naquela vida que teve de se submeter quando foi adotado que não entrava em sua cabeça. Não entendia como estava se sentindo sozinho por lá mesmo tendo tudo, não havia explicação e por isso ele odiava chegar neste assunto consigo mesmo. Já as ruas era diferente, era uma sensação de solidão mais cálida, era um lugar que ele conhecia como se fosse algo marcado na memória como uma cicatriz. Era a vida que ele conhecia e sabia lidar, talvez não do melhor jeito, mas ele sabia.

Empíreo do TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora