Empíreo do Tempo

Capítulo 27 - Decisões

Trinta minutos antes da notícia ser exibida.

Os dias de Angina pareciam estar monótomos, sentia a pressão de seu plano em sua mente e na presença de Boreas precisava se manter entretida mesmo que fosse uma mentira. Sentia-se mal por mentir para seu amigo, mas até agora ela não viu nenhuma brecha para falar o que queria fazer, doía dizer para si mesma que não confiava no mais velho.

    Mas o dia havia chegado.

    Assim que ouviu pelo pequeno robô que Leander estava indo para Nuncii ela teve de controlar sua reação, sabia que teria de esperar mais alguns minutos para poder agir. Fechou os punhos como se pudesse controlar o impulso e a ansiedade enquanto estava deitada na cama. Segurou com força o lençol como se pudesse descontar o que estava sentindo no tecido.

   No que ela conseguiu ouvir com um dispositivo único que ficava escondido em sua orelha direta pode ter a certeza que Leander estava enfurecido. Pelo que havia entendido, Notus Liuz era o membro mais forte da Armada em Nuncii, era supostamente a pessoa que teria de controlar uma rebelião, mas este foi exatamente quem incentivou o motim. Leander levou consigo Ruzena, Temple e Cornelio. Os quatro mais fortes estavam fora e restava apenas Boreas que praticamente foi obrigado a ficar por ordem de Leander, mesmo que o garoto tenha insistido para ser levado à Nuncii. Queria que ele fosse, pensou Angina tristemente.

    Agora terá de lidar com seu amigo.

   Depois de vinte minutos ela se levantou de seu leito normalmente, puxou a caixa de peças debaixo da cama para o centro do quarto e sentou-se no chão. Estava fingindo que criava algo, sendo que, na verdade algumas peças faziam parte do controle do minusculo robô. Construir era um comportamento típico de Angina, logo não haveria suspeitas mesmo que ela tenha sentado no chão de uma forma que seu corpo tampasse a caixa para o ângulo da câmera. Não está preocupada com Boreas por enquanto, se um dos mais velhos estivesse presente isso seria mil vezes pior.

   Está orando mentalmente para que a máscara esteja perto, mas, mesmo assim, será exposta ao pó vermelho até chegar à máscara, lembra-se bem que quando Boreas saiu e a deixou sozinha com Leander ele não havia demorado a voltar.

   É agora ou nunca.

    O robô entrou nos circuitos de energia do local e os destabilizou, Angina tinha consciência que isso iria durar pouco tempo, talvez quinze minutos ou um pouco mais. A energia reserva foi ativada e as luzes de baixo consumo foram acessas. Boreas que estava perto dos computadores para qualquer situação de emergência ou de comunicação, se levantou de sua cadeira na mesma hora. Não tinha ideia do que poderia ser feito agora por falta de conhecimento. Nem passou na cabeça do garoto em checar a câmera de Angina, ela, por outro lado havia reagido ao o que tinha acabado de acontecer propositalmente, fazendo até uma reação que convenceu facilmente Boreas de que ela também não estava entendendo o que estava acontecendo. O garoto começou a andar em certos lugares para tentar resolver a situação o mais rápido possível pensando não em Angina, mas em Leander que poderia entrar em contato.

    Enquanto isso Angina ainda manejava o robô com cuidado. Estava danificando alguns fios aleatórios, se a tranca da porta é padronizado alguma hora o pequeno robô achará o fio certo. Aquela não era uma porta com necessidade de senha, não havia nenhum painel perto da entrada. O barulho da tranca a fez prender a respiração por alguns segundos, como se não acreditasse ter finalmente conseguido a liberdade. Olhou para trás com certo receio com os lábios entreabertos, se esta porta está aberto, a primeira também deve estar.

   Agora terá que lidar com o pó vermelho, pensa que se for rápida e procurar primeiramente pela máscara cortará metade de seus problemas. Angina foi até a porta e respirou fundo três vezes antes de abri-la, não que respirar três vezes ajude na concentração, mas talvez lhe traga alguma coragem. A porta foi aberta e ela saiu correndo até a primeira porta. Precisa encontrar um ponto de equilíbrio porque ela não pode se cansar tanto enquanto corria senão irá respirar o pó vermelho. Sentiu seus olhos arderem e lagrimejarem. Fora do corredor ela olhou em volta pela busca da máscara e foi como ela imaginou, ela estava ali perto. Quase que soltou sua respiração em sinal de alívio, mas teve de segurar um pouco mais até colocá-la. Com a máscara cobrindo seu rosto, Angina respirou fundo mais de uma vez e aceleradamente para recuperar o ar. Um pouco mais tranquila, agora retornou toda sua atenção para o que deveria fazer, Boreas não estava ali, mas pode voltar a qualquer momento, ela sabe disso.