Coração de papel

24 1 0
                                    

Corri, corri para longe
Para longe de ti
Para longe dela
Para longe até
Daqueles que o mundo me prometeram.
Eu só corri, e corri mais
Corri até não aguentar
E desabar na minha companhia singela
Eu corri, corri muito
Para os braços da minha mãe
Para os braços do meu pai
Para os braços daqueles que não me abandonam
Para aqueles que não me apunhalam
Eu corri, mas não tinha mais forças
Corri durante dias
Fugi, menti, escondi
Mas não podia mais correr agora
Chegou a minha hora.
Então eu voltei da minha corrida
Voltei forte, voltei precavida
Voltei de armadura posta
Escudo ao peito
E espada na mão
Tudo isto para proteger o meu frágil coração.
Mas no entanto ninguém sabia que,
A armadura era de papel
O escudo de vidro
E a espada de madeira
Porque eu aparentava imbatível
Mas o fundo continuava sensível
Porque sempre fui assim
Sempre fui boa nas escondidas
Sempre fui boa no teatro,
Palavras fortes sempre me machucaram
Mas nunca deixei que ninguém soubesse
Porque sempre fui eu e eu apenas
A trabalhar em cada buraco deixado.
O meu peito sempre ardia,
Tal como os meus olhos regados de lágrimas
Mas só quando estava acompanhada
Da minha própria companhia.
Então eu voltei da corrida
Tão longa como a maratona
Tão comprida como a muralha da China,
E voltei com um sorriso
Mais falso que plástico
Mais fabricado que papel,
Era bem pensado
Diria até doce como mel,
No entanto tinha medo
Que em algum momento este fraquejasse
E a minha armadura se rasgasse
A espada partisse
O escudo quebrasse.
Queria eu poder mostrar a minha verdadeira face
Queria eu poder deixar ao de cima quem sou
No entanto não posso mostrar
Que ser trocada por ela me afetou.
Sempre achei que te fascinava
No entanto vias ela em mim
E no meu momento mais frágil
Deixas te me sozinha e muito abalada.
Quando soube disto, vi que não foste o único a ir
Aqueles em quem confiei um dia
Ajudaram te a fugir da minha alma
Aqueles que souberam os meus pesadelos
O meu passado
Os meus traumas
Espetaram me a espada mais afiada
Mas mas costas, porque na minha frente
Choravam...
A cobardia é uma fraqueza
Eu diria até um defeito
Quando ser fraco se junta a ser falso
A pessoa apodrece como uma mera fruta
Fica dona de um cheiro pútrido
Fica negra no coração
Fica pobre de espírito
E é por isso que decidi me afastar
Mesmo isso implicando me afastar de outros
Mesmo sabendo que nunca mais ia ser o mesmo
Mesmo sabendo que não nós íamos encontrar novamente
Nem rir como fazíamos
Eu sabia
Mas eu não podia deixar que o tóxico se apoderasse do meu bom ser
Não podia deixar que vivêssemos uma mentira
Uma falsidade disfarçada de amizade
Mesmo isso implicando eu ficar sozinha
Mesmo isso implicando eu deixar de te ver.
E foi assim, que vivemos o agora
Meros humanos vagueando pelo mesmo espaço
Fingindo que não se conhecem
Fingindo que não tocaram os lábios um do outro
Fingindo que nunca sentiram a pele trocada
Fingindo nunca saber das feridas
Nem dos traumas
Nem dos pesadelos
Esquecendo que já se acarinharam
Já viveram experiências trocadas
E conversas banais
Na companhia alheia 
E na bolha só deles.
Esquecendo que já sentiram o sabor
O calor
E o abraço um do outro
Esquecendo que por momentos foram um só.
E foi assim que nos tornamos isto,
Dois estranhos.
É triste saber que a nossa mais profunda promessa
Em minutos se tornou esquecida
Tal como os meses de cumplicidade
Tal como os momentos de amizade
Tal como as experiências de vida
É triste saber em como ela te deixou logo após
E é mais triste ainda pensar em como podíamos ter sido um só
Em como podíamos ter partilhado felicidade dos mesmos poros
Em como podíamos ter sido algo mais do que fomos se não me tivesses trocado.
Assim digo que, se algum dia te arrependeres
Sabe que não esperarei por ti
E nem te receberei de volta
Porque ao mesmo tempo que me substituíste
Fizeste me ver que só preciso de mim para ser feliz
E que tenho tudo o que preciso para me sentir suficiente.
Assim te digo, que tinha 20 000 aos meus pés, e escolhi te entre esses todos
Assim te digo, que no teu lugar queriam estar 50 000, e mesmo assim tu não aproveitas-te
Assim te digo, que perdeste a oportunidade que muitos invejavam e ainda invejam
E assim te digo, que num estalar de dedos, perdeste a tua melhor amiga, a tua amante e a tua confidente
Perdeste-me a mim, e todo aquele amor sentido.
E foi assim que me rasgaste o meu coração de papel
E foi assim que aprendi a me remendar sozinha
Foi assim que perdeste tudo
E foi assim que eu aprendi a não sentir nada.
Obrigada meu amor por me deixares
Obrigada por me ensinares a por mim ser amada.
Obrigada por te ires
Obrigada por me tornares uma forma alada.
Assim me despeço destes versos
Assim vou embora desta prosa
Quero que saibas meu amor
Que perdeste a mais bela rosa.
——————————————————
Na (notas da autora)- Olá estrelinhas, só para avisar que estou bastante cansada, foram dois poemas intensos hoje, então este poema não está muito bem pontuado. Irei tratar disso rapidamente mas por hoje já não consigo, obrigada por lerem
Beijos de coco 🥥✨

Os meus gritos escritos Onde histórias criam vida. Descubra agora