Sistema solar

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Olha onde estou agora,
Depois de explorar todo o sistema solar
Experimentar todo o tipo de sensações
E conseguir estar em todos os planetas.
Olha onde estou agora,
Perdida neste espaço vago,
Esvaziado pela segurança
Preenchido com o silêncio.
Olha onde estou agora,
Seguidamente de tudo o que presenciei
Seguidamente de tudo o que escutei
Olha onde estou agora.
Sempre me senti pequena, tal como Mercúrio,
Muito próxima do sol, dependente dele até,
Mas muito pequena
E muito invisível aos outros olhos.
Sempre fui Mercúrio,
Com temperaturas muito quentes
Mas dependente da ferida que tocavam
Podiam chegar a ser as mais frias,
Dependendo do lugar que exploravam
Podiam ser as mais negativas.
Sempre fui mercúrio,
Sem ninguém a sua volta,
Sem anéis e sem luas,
Sem qualquer alguém para conversar
Sem qualquer alguém que soubesse de si
E andasse à sua volta.
Eu sempre fui mercúrio.
Mas aí, algo em mim mudou,
Não sei se foi de te ver passar
Não sei se foi com a tua aproximação
E então, já não me sentia mais pequena.
Eu cresci, não sei se espirituosamente
Talvez não, talvez sim
Mas já não era mais mercúrio,
Eu era agora Vênus.
Ohhh como és belo Vênus,
Inspirado na mística Deusa do amor
Da beleza
Inspirada naquela que perfeição superou qualquer uma
Inspirada naquela como não outra há.
E eu era agora Vênus.
Com as mais quentes temperaturas,
Seria da tua proximidade ?
Seria da paixão arrebatadora que crescia em meu peito,
E agora me aquecia?
Seria apenas...calor?
Eu não sei, mas eu era Vênus.
Mas ao mesmo tempo que era quente,
Era insuportavelmente quente,
E nada se podia aproximar de mim
Pois eu estava descontrolada.
A paixão era tanta,
Que chegava a ser mais quente que o inferno
Queimava mais que um incêndio,
Então eu não queria ser mais vénus.
Foi assim que me tornei Terra.
Oohhhh como és gloriosa Terra,
Aquela que nos deu vida,
Que nos acolheu como mãe ao seu filho
Como o solo acolhe as sementes,
E fa-las crescer e se tornarem belas.
Oh gloriosa terra, que nos fermentaste e aqueceste
Como nunca ninguém tinha feito,
E nos fizeste crescer
E nos tornar esbeltos.
Assim eu era Terra.
Acolhi-te nos meus braços
E fiz-te crescer, comigo.
Acolhi-te e abracei te como nunca ninguém tinha feito.
Mutuamente, assim nos ajudamos
E crescemos
E nos tornamos belos.
E agora veio Marte,
O planeta vermelho, como teus cabelos.
E eu era Marte.
Porque tudo que é bom pouco dura,
E nossa paixão pouco durou.
Logo apareceram os meus vulcões e crateras
E tu exploraste-as sem dó de mim
E da minha dor.
Assim explodi, e começaram as discussões de lava
E as palavras a nos atingirem como meteoritos.
E foi assim que se foi Marte,
Porque nós o destruímos,
Porque tu me destruíste.
Mais tarde renasci,
Eu era Júpiter agora.
Renasci, pois não era sozinha agora
Eu tinha luas,
Muitas luas a minha volta.
E com muito tempo de cuidado e paciência
Elas me reconstruíram pedacinho a pedacinho
Me tornando em outro alguém
Mais crescido
Mais maduro,
Eu era Júpiter.
Eu era grandiosa agora,
Muito grande, muito bela.
Tão madura e crescida que muitos me invejavam,
E de ti,
Eu já não queria saber,
Eu era a Grande Júpiter.
Mais tarde me tornei Saturno,
Pobre coitada
Enganada mais uma vez por o coração tolo
Deixei que uma das minhas luas,
Chegasse mais perto...
E foi assim que me tornei um planeta com anéis,
Porque me tinha apaixonado por uma das luas,
Porque fiquei fascinada...
Pela forma que me reergueu,
Em como se preocupou em juntar cada peça quebrada de mim
E foi assim que me tornei Saturno.
Deixei me ser levada por um astro,
Deixei me ser levada na sua beleza
E brilho estonteantes.
Mas não podia correr bem, podia?
Bem, não correu.
E foi assim que me tornei Urano,
Arranquei fora o meu anel,
Porque mais uma vez fui enganada.
Urano, eu era Urano agora,
Pois como arranquei o meu anel
Mais de metade das minhas luas partiram.
E não me arrependo pois, de as deixar ir.
Quem me amava ficou,
Quem não, de mim fugiu.
Assim entendi que as luas que me reergueram
Não eram assim tão fiéis,
Não foram assim tão sinceras.
Assim me tornei Urano.
Assim fui durante muito tempo.
Gostei muito de ser Urano,
Pois cresci como nunca tinha feito,
E aprendi ainda mais com isso.
Mas, eu mudei de novo.
Tive de mudar, precisava disso.
Porque mesmo as luas que ficaram,
Não me eram sinceras,
E eu senti que precisava de mudar.
Então eu, vesti-me com Neptuno.
Oh sim Neptuno.
O último do sistema solar,
Aquele que não me desiludiu,
Aquele que sou hoje.
Com as minhas temperaturas gélidas,
E apenas as minhas luas fiéis,
Sou Neptuno.
Neptuno, o planeta azul,
Aquele que tem o nome do Deus do mar,
Deus das águas
Deus da beleza do mundo na minha visão.
Oh Neptuno,
Demorou tanto para te encontrar,
Mas não pretendo mais daqui sair.
És o estágio que eu mais desejei ser
Eras tu Neptuno, aquilo que me faltava para eu ser.
Então eu vesti-me com Neptuno,
E nunca mais o tirei.
Protejo-me com o frio,
Agasalho-me com as minhas luas,
Aquelas que nunca me deixaram.
E foi assim que cheguei onde estou agora
E foi assim que percorri todo o sistema solar,
Sou Neptuno hoje, e não pretendo mudar.

Os meus gritos escritos Onde histórias criam vida. Descubra agora