O Convite

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Na noite anterior os humanos não apareceram, mas ao amanhecer, os primeiros navios foram avistados. 

- Espertos são esses humanos. - diz o Conde Gorus Thorn. Gorus tem sido de grande serventia para mim e tem demonstrado grande lealdade. Ele trouxe metade de seu exército para ajudar, cerca de cinco mil soldados. Sou grato à ele. Outros lordes também se juntaram a mim, trazendo mais soldados, suprimentos e navios. Olho para Enzo, e aceno a cabeça. Ele entende meu recado e da a ordem para os navios levantarem ancora. Os navios começam a navegar. Minutos depois ouve-se explosões, de onde estamos em terra firme, os navios não passam de pequenos pontos negros, brilhantes quando disparam os canhões. É preciso usar a audição vampírica para ouvir os tiros. 

- Tempos difíceis virão, ao que parece. - disse um dos lordes, não prestei muita atenção. Stardoff confirmou. Eles agora conversam entre si sobre o futuro rei, Zennon e sobre os grandes feitos que ele fará. Eles não parecem felizes, dizem que Zennon só sabe gastar e roubar daqueles que não podem se defender. Continuo com os olhos fixos nos pontos pretos. Os tiros param, alguns dos pontos caíram, não consigo distinguir quais. Onze navios foram enviados, mas apenas três estão voltando. Um dos nossos, dois dos deles. 

- Preparem suas armas! Não sabemos que tipo de armas eles possuem, acabem com eles assim que botarem os pés para fora do barco! - falo tão alto que tenho certeza que aqueles que estavam á 30 metros conseguiam ouvir. Os soldados acataram minhas ordens, rifles com binóculos foram empunhados e apontados para os navios que estavam a vir. O nosso navio esbarra no outro de propósito mas não muda seu destino. 

- Quantos minutos até chegarem em terra firme? - inclino meu pescoço ao lado, esperando a resposta de um dos lordes. Sei que um deles é o lorde da marinha. 

- Vinte a vinte e cinco minutos no máximo, milorde. - me responderam, então eu digo. - Eles não sabem com quem estão mexendo. Thorn, faz um favor para mim? Tem uma pequena cabana aqui perto, uso-a para guardar armas e petróleo para manter suas peças em forme. Leve alguns homens e traga barris. - Gorus girou seus calcanhares, saindo em alta velocidade. 15 minutos depois ele voltou, com sete homens, cada um deles trazia um barril. 

- Não entendo, milorde.- Stardoff estava curioso, olhava atentamente para o barril e depois para mim, como se eu estivesse ficando maluco.

- Tiro ao alvo, Stardoff, tiro ao alvo. Pense bem, nossos braços são as armas e os barris as munições. - os olhos de Stardoff brilharam, presumo que seja de admiração. Stardoff fala:

- Exato, milorde. Podemos jogar os barris neles, queimar a maior parte da tripulação inimiga, salvando mais vidas vampiras. Brilhante, milorde!

- Pensa rápido, Stardoff, gostei. - levo minha mão direita à manga da minha camisa, rasgando-a até um pouco a cima do cotovelo, enrolo-a, abro a pequena tampa do barril do tamnho de uma rodinha de mala e precioso a manda da camisa para dentro. Os soldados fazem o mesmo. Os barcos estão próximos o suficiente para lançar. - Fogo. - peço  e de imediato uma tocha aparece. Coloco fogo na ponta da manga, pego o barril em mãos e o arremesso contra o navio. Por sorte o fogo não apagou. O barril caiu dentro do navio, explodindo. Os lordes riam de felicidade e excitação, os soldados rugiam, cantando o hino do reino. E algo me surpreendeu, os outros barris não foram lançados pelos soldados, mas sim pelos lordes. O nosso navio soltou ancora, já os outros não. Bateram na areia e os soldados vampiros não esperaram, subiram no navio mesmo em chamas. Que orgulho que estou sentindo. 

Já era tarde. Todo o gelo fino que fora quebrado já estava a se formar novamente. Recebemos uma mensagem da capital, informando que a ameaça no portão já tinha sido controlada. Eu e os lordes tomamos algumas taças de sangue e em seguida seguimos para a capital. Tenho sorte de morar perto da capital, não aguentaria ficar viajando de um lugar para o outro constantemente. Odeio viajar.

Chegamos ao Palácio Real, entramos. Nos separamos sobre o palácio, conversando com um ou outro. Zennon aparece, me da um estranho abraço, sussurrando em meu ouvido

- Eu sei de suas intenções, quer passar por cima de mim, mas não vou permitir. Fique sabendo, assim que eu me tornar rei, você será morto por traição e minha irmã ficará viúva até que algum pretendente que valha a apena se case com ela.

Ele me da um leve beijo no rosto, um sorriso e sai de perto de mim, cumprimentando Barth, o lorde protetor da torre. Estou paralisado, vou morrer, e sem ter feito nada para merecer! Ele está paranoico, ele vai me matar, basta uma ordem dele e ninguém poderá questioná-lo. Tenho pouco mais de 10 mil soldados, vou comparecer à coroação para não demonstrar medo, mas quando a festa começar vou para o meu castelo, juntamente de Lucrécia e estaremos protegidos, dez mil soldados leais a mim, e com a minha fortuna posso comprar mais soldados, Zennon não tentaria me matar.

Todo o meu corpo treme, eu vim em companhia dos lordes, não trouxe minha guarda pessoal. Estou quase vulnerável. Sou bom em lutas de corpo a corpo, mas não consigo derrubar mais de três vampiros. Ando pelo palácio procurando por Thorn, o acho, trago-o até um canto, dizendo:

- Não posso lhe explicar agora, mas posso estar correndo perigo e preciso de sua ajuda. 

- Ah, claro, milorde. Pode falar.

- Preciso que você me empreste cinco de seus guardas para a minha proteção esta noite e que envie outro para meu castelo, enviando uma mensagem para Enzo, o comandante do meu exército.

- E qual seria essa mensagem, milorde?

Meus olhos agora encontram os de Gorus Thorn. Foi transformado quando velho, presumo. Seus cabelos são grisalhos e ele também possui uma barba estranha. Começa grossa e termina fina. 

- Diga que... diga que a águia caiu de seu ninho. - sussurro para Gorus, tenho  impressão de que ele não conseguiu compreender, mas ele acena a cabeça afirmativamente e sai do salão de jogos. Estou sozinho no salão de jogos, me assusto quando ouço a porta se escancarar. Cinco dos guardas Thorn entraram, dizendo que foram enviados para a minha proteção noturna. 

- Certo, senhores. Agora quero que jurem. Jurem lealdade a mim durante toda esta noite, que irão me proteger, mesmo que o preço a pagar seja sua vida.

Eles desembainharam suas espadas quase na mesma hora, encostando um de seus joelhos no chão e a ponta de suas espadas um pouco a frente. Um deles começou a jurar, e os outros repetiam quando o orador pausava.

- Nós, servos de Gorus Thorn, juramos perante todas as divindades e pelo reino de Habbor proteger-te, Duque Wulfric se preciso com a nossa vida, durante toda a noite deste dia.

Mal começara a anoitecer e então fui para o quarto, no caminho, um mensageiro me entregou uma carta e disse que a outra já tinha sido enviada à Lucrécia. Digo aos soldados que não quero ser perturbado por ninguém. Entro no quarto, abro  carta, mas não era uma carta e sim um convite. 

                         '' COROAÇÃO REAL

                           Prezado Duque e Duquesa Wulfric,

                           Contamos com sua ilustre presença na cerimônia de coroação 

                            do então Duque Zennon Habbor, irmão do antigo rei e sucessor

                           legítimo do trono.

                                                                                   (2015, Palácio Real de Habbor)''

Ele foi rápido. Será coroado como rei e nada mais vai impedi-lo. Zennon é ambicioso e cruel. Não pensa em perdas e sim em lucros, há boatos até mesmo que ele tenha roubado de alguns inferiores à ele. Nada disso é comprovado e eu não me importo. Minha cabeça está em jogo. Assim que Zennon for coroado e a festa de comemoração começar, eu vou pegar Lucrécia e voltar para o meu castelo, vou rodeá-lo dos meus fiéis soldados e estarei protegido de ameaças.

São com esses pensamentos que consigo finalmente dormir.

O Reino dos VampirosOnde histórias criam vida. Descubra agora