INVERNO - 4

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A cada noite em que meus olhos se fechavam era um novo terror que minha mente doentia desenterrava. A cada dia, preso naquele quarto, preso em um corpo que não se recuperava rápido o suficiente, era um arrastar de horas em solidão. Mas eu aceitava tudo aquilo.

Kakashi veio me dizer que ia tentar usar a influência que tinha para convencer o conselho de Konoha que eu também fui responsável por salvar o mundo ninja. Que eu havia feito as coisas certas. Mas as fiz por todos os motivos errados. Aceitava qualquer punição que quisessem me dar, ser preso, banido, morto.

Ao lado da minha cama, uma pilha de livros que não olhei mais que a capa. Sakura trouxe livros de romance, ainda preferia chafurdar na minha própria miséria a ler essas coisas. Mas Naruto me emprestou seu maior tesouro, o primeiro livro de Jiraya-Sannin. Isso me deixou desconfiado, mas ele jurou que era um livro sobre o maior ninja do mundo, e não as besteiras que o Kakashi lê. Abri a primeira página e comecei a ler as aventuras do ninja Naruto, o que era bastante egocêntrico da parte dele, afinal.

O tempo passou mais rápido do que eu poderia esperar enquanto lia. Parece que Jiraya não era um idiota tão grande no fim das contas. As histórias do livro me lembravam minhas próprias histórias de Genin, então a leitura não avançou muito. Olhei pela janela e percebi que já era o início da noite e Sakura não havia aparecido ainda.

Esperava sinceramente que tivesse ido para casa descansar, ou que tivesse visitado seus pais, ou saído com seus amigos em vez de gastar seu tempo livre com um imprestável como eu. Mas, mesmo assim, alguma coisa em meu peito se apertou, e tranquei aquilo rapidamente em um lugar escuro.

Naquela noite me vi novamente em um Distrito Uchiha abandonado. Meu coração batia descompassado enquanto andava lentamente por aquelas ruas escuras, empurrando o ar pesado que cercava tudo ali com meu próprio corpo de criança. Então encontrei o primeiro cadáver, uma senhora gordinha que me dava bom dia toda manhã quando eu ia para academia. Minha visão periférica pareceu captar um movimento na noite, então sai correndo para casa. Gritava por meus pais, mas não havia respostas, nunca havia respostas. Empurrei a porta da sala principal e, sobre o tatame, jogados um sobre o outro, encontrei os corpos sem vida do meu pai e da minha mãe. Havia uma poça de sangue escuro, meus pés formaram uma trilha rubra enquanto andava perdido sem saber para onde ir. Nesse momento, Itachi entrou na sala, pegou meus braços com violência e me jogou em um cubículo com tamanho suficiente apenas para eu me encolher nas sombras. Seus olhos têm o brilho vermelho do sharingan e eu tenho certeza que ele vai me matar também. Mas outra sombra surgiu atrás dele, um olho tem o mesmo brilho avermelhado, o outro, um tom lilás. Antes que eu possa avisá-lo, a ponta da katana vai surgindo no meio do peito do meu irmão, uma rosa vermelha se espalha em volta do metal. Ele me encarou com um olhar bondoso e caiu na minha frente. Não queria ver a sombra, pressionei a cabeça nos joelhos com força e tampei os ouvidos com as mãos porque também não queria ouvir suas risadas. Mas então, pela primeira vez, senti um toque gentil nos meus cabelos. Surpreso, olhei para a figura que estava ajoelhada na frente da porta daquele armário. Precisei piscar várias vezes até conseguir, no meio das lágrimas, discernir aquele rosto que sorria para mim com bondade. Ela tinha grandes olhos verdes e um cabelo rosa pálido.

Acordei antes do dia nascer, mas só abri os olhos quando o sol invadiu o quarto. Passei esse tempo todo com uma sensação estranha dentro do peito. Estava encolhido na cama, sem me mexer para não afugentar aquela pequena chama que aquecia meu coração. As mãos no meu sonho me ajudaram a sair daquele lugar escuro e apertado, os braços me envolveram contra o peito. Eu não queria abrir os olhos porque ainda podia sentir o fantasma daquele abraço, meu coração batia como um pássaro encurralado. 

SASUKE: RedemptionOnde histórias criam vida. Descubra agora