Eu estava há bons quinze minutos sentada naquelas pedras ásperas a beira do rio, os pés cansados mergulhados na água fresca, peixinhos curiosos investigando se, por acaso, eu era comida.
Sasuke-kun cochilava sob uma grande árvore, a capa jogada de lado, a camisa um pouco aberta no pescoço devido ao calor que começava a se tornar insuportável. Era a nossa rotina agora que o verão havia se instalado de vez.
Nossa viagem acontecia sem pressa, encontrávamos pessoas, visitávamos vilas atrás de pistas sobre Kaguya ou sobre a organização que sequestrava as crianças, mas não havíamos encontrado nada de relevante até o momento.
Mas também andávamos até lugares que Sasuke-kun conhecia e queria que eu visse, uma montanha, uma praia isolada, um templo abandonado. Também íamos a vilas em que se hospedou e fez amigos, e me apresentava como sua esposa. No começo achei que meu coração não aguentaria tamanha felicidade.
Era mais do que eu havia pedido, do que eu havia imaginado, estar ao lado dele todos os dias, todas as horas. No início, meu coração parecia estar em uma corrida desabalada, e minha cabeça sempre um pouco tonta. Sua presença discreta ao meu lado era o mundo todo para mim.
Mas nos acostumamos um pouquinho mais um com o outro, com o tempo, e agora eu tinha o prazer de captar um olhar, um sorriso ou de, simplesmente, sentar ao seu lado em silêncio e observar uma árvore ao vento, ouvir o barulho de um rio.
E sob o manto da noite, eu aprendi a conhecer cada detalhe dele. Do corpo dele, da voz sussurrada no meu ouvido. Podia sentir meu rosto corando mesmo agora. Pouco importava se minhas costas doíam de dormir na relva, ou se meus pés estivessem sempre doloridos, era tudo um preço baixo demais a ser pago.
Mas agora havia aquilo. O que poderia mudar tudo.
Eu estava desconfiada há algum tempo, mas mesmo uma ninja médica como eu não poderia ter certeza em um período tão curto. Nos últimos dias, porém, a pequena faísca de um chakra diferente cintilava perceptivelmente dentro de mim.
Pelas minhas contas, foi naquela primeira vez, antes até de nos casarmos. Sorri ante a lembrança daquela noite e me levantei, voltando para a sombra densa da árvore, até Sasuke-kun.
Pequenos raios de sol se esgueiravam pela copa frondosa e faziam recortes sobre o rosto tranquilo do meu marido, sobre a camisa escura, sobre o braço que descansava sobre seu colo, como um caleidoscópio vivo.
- Ei, anata – falei baixinho me sentando à sua frente.
Sua pálpebra tremeu levemente, antes que as abrisse. O olho negro me encarando com carinho, um pouco preocupado, o rinegan escondido sob os cabelos desgrenhados pelo vento.
- Aconteceu alguma coisa, Sakura? - Falou enquanto se sentava com a coluna reta, se aproximando de mim e olhando ao redor, mesmo que não houvesse nenhuma chakra claramente perceptível ali.
Eu sorri, nervosa. Não havia decidido como contaria aquilo a ele.
- Sasuke-kun, eu preciso te falar uma coisa...
Ele me olhava com curiosidade, talvez sem entender bem porque o havia acordado, esperando que eu falasse logo o que era, ele sempre era muito direto.
- Anata, eu não posso dizer que não esperava em algum momento, embora tenha tomado cuidado com tudo, mas então já era tarde, na verdade – eu ri – nossa viagem está tão maravilhosa, que seria melhor deixar para depois, mas a vida tem dessas coisas... - eu não era nada direta, especialmente quando estava nervosa.
- Sakura, o que você está querendo dizer?
Mordi o lábio, talvez a melhor estratégia fosse ser rápida, como para tirar um curativo.
- Sasuke-kun, acho que vamos ter um bebê.
Observei seus olhos se arregalando enquanto ele processava a notícia que eu havia dado. A íris negra esquadrinhando cada centímetro do meu rosto. Então ele olhou para minha barriga, minhas mão descansavam protetoramente sobre ela. Seus olhos e seus dedos voltaram para o meu rosto em um toque muito suave, como se eu fosse alguma coisa preciosa demais que poderia se quebrar.
Então ele me abraçou, me puxando contra seu peito e me prendendo sofregamente.
-Sakura... - ele tentou falar, mas sua voz soou embargada.
Ele não precisava falar nada, eu havia visto tudo nos olhos dele, confusão, alegria, medo, esperança. Eu também soluçava em seus braços, enterrando o rosto no pescoço dele, os cabelos fazendo cócegas na minha pele.
- Eu posso ver? - Ele perguntou baixinho, um tanto inseguro, alguns minutos depois.
- Sim – me afastei para que ele tivesse espaço.
O brilho vermelho do sharingan brilhou em seu olho, enquanto ele analisava meu corpo. Levou a mão até minha barriga ainda reta quando captou aquele chakra pequenino, que parecia querer se mostrar.
Sorrisos e lágrimas se alternavam em seu rosto, eu só poderia imaginar o que significava para ele ter alguém de seu próprio sangue ali, depois de tudo.
- Sakura, precisamos voltar para Konoha – disse se levantando e me puxando pela mão – você não pode ficar andando por ai grávida.
- Sasuke-kun, tudo bem – eu ri – estou perfeitamente saudável.
- Mas é perigoso e cansativo – ele estava sério, um vinco entre suas sobrancelhas.
- Ainda é cedo, anata, prometo que aviso quando ficar cansativo.
- Você estará em casa muito antes disso – ele disse obstinado.
- Você não pode voltar para Konoha agora, então eu não vou voltar para Konoha agora.
- Naruto pode ficar de olho em você enquanto eu acabo essa missão.
- Sasuke Uchiha, eu não vou ficar em Konoha sozinha, longe de você. Estou perfeitamente bem, se tem alguém nesse mundo que pode lidar com essa situação sou eu, esqueceu que sou médica? - Estava um pouco irritada, achando que ele queria se livrar de mim.
Ele me olhava contrariado. Eu respirei fundo.
- Escuta, querido, vamos viver um dia de cada vez. Se as coisas se complicarem, eu prometo que volto, ok?
Ele suspirou, esfregando o mão no rosto frustrado.
- Você é irritante, Sakura.
Eu sorri, radiante por ter vencido a discussão.
- E eu te amo, Sasuke-kun.
- Vamos procurar uma hospedaria – ele respondeu com um mínimo sorriso.
VOCÊ ESTÁ LENDO
SASUKE: Redemption
FanfictionA Quarta Grande Guerra Ninja acabou. Todos os países trabalham arduamente na reconstrução do mundo shinobi. Sasuke Uchiha acorda no hospital sem nada na vida a não ser arrependimentos... Sabemos o futuro que o aguarda, mas o que acontece até lá? De...