Ep. 22

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- Então, pai... - estava esperando uma resposta sua, mas novamente nada saía de sua boca. Oque me deixou frustrada.

Já faz uns dias que ele anda diferente. E achei extremamente desnecessário aquele dia em que ele me pegou com o Park na porta de nossa casa e me fez contar sobre nós. Ele nunca foi de se importar tanto com oque eu deixo ou não de contar para ele. Mas isso explica tudo? Não sei...

- Mel... - o Park me chamou atraindo sua atenção - Eu vou indo, acho melhor você ir com o seu pai. - ele sabia, sabia que eu queria conversar com ele. Assenti e dei um selinho antes de adentrar o carro do mais velho, sem mesmo pedir permissão.

Já dentro do automóvel, fiquei olhando para o meu pai, e ele em nenhum momento desde que entrei nesse espaço não olhou diretamente até mim. Logo ele suspirou pesado finalmente me olhou nos olhos, em seguida pegando em minhas mãos e começando a falar.

- Filha... - percebi ele ficar tenso - Conversamos em casa, ok? - assenti, despachando qualquer pensamento ruim.

Fiquei olhando para aquela pequena e grande cidade. Me recordei de momentos em que tive com alguns amigos, que ainda estão ao meu lado e outros não. Alguns porque foram embora da cidade, e outros porque nos distanciamos conforme os dias foram passando.
Ainda me lembro da minha primeira paixão, sorri ao lembrar dele. Ele era meu vizinho, fomos criados juntos pode se dizer assim, nossas mães eram muito próximas.
Infelizmente, na sexta série aconteceu um desastre enquanto ele estava voltando pra casa. Voltávamos juntos, mas nesse dia fiquei doente e não fui. Ainda lembro de como recebi a notícia de que ele havia...falecido.
Meus olhos se enchem de lágrimas assim que me lembro dele.
Ele foi a uma loja de conveniência, e um cara foi acertar as "contas" com o vendendor, pelo que soube ele estava devendo e o dono do estabelecimento foi cobrar em sua casa e brigaram ali mesmo, na casa do assassino. Chegou lá na loja atirando nele, mas infelizmente o Hian, nome do meu primeiro amor, estava no caixa já pagando o que havia acabado de pegar, e acertou dois tiros nele e mais três no homem que estava no caixa, o dono. Felizmente o mais velho não foi atingido em partes de seu corpo que o deixou em estado grave. O Hian, morreu na hora. Foi atingido na costela e outro na cabeça.
A única coisa que vinha em minha cabeça era " Por que ele foi pra lá? No dia e na hora errada? Ele não ia pra esses lugares ". Mais tarde soube que ele foi até lá para comprar uma barra de chocolate de morango, um dos meus doces preferidos. Ele foi lá pra comprar pra mim. A cada dia que passava eu me culpava por isso. Sim, eu sei que não sabia que ele ia até lá, mas mesmo assim. Ele foi lá por mim.

- Melissa, tá tudo bem? - só agora percebi que estava chorando.
- Pai... - falei com dificuldade por causa do choro. - Ele não devia ter ido lá... - comecei a chorar mais ainda. Meu pai me olhou preocupado e parou o carro mais a frente. Em um lugar seguro.

Por conta desse acontecido, eu acabei desenvolvendo ansiedade e tive depressão. As meninas me ajudaram nesse tempo e foi assim que nos tornamos melhores amigas, antes éramos só amigas próximas de escola, depois disso elas frequentavam minha casa quase todos os dias.

- Pequena, você sabe que não tem culpa. - me encontrava em seus braços, chorando feito um bebê. - Por que você ficou assim tão de repente? - me perguntou acariciando meus cabelos.
- A loja... acabamos de passar por ela. - falei após engolir o choro, mas me pôs a chorar de novo.
- Oh... - só agora ele percebeu onde estávamos.

Estávamos na rua onde tudo aconteceu. Tinha flores e uma foto do Hian, na frente da loja. Que estava um pouco atrás do nosso carro, mas dava para ver. Ali se tornou um local para homenagear o mais novo, por isso desde sua morte evito passar por esse caminho, ele é mais próximo de casa, mas não quero ver isso, não preciso.

- Querida, quer visitá-lo? - após sua fala, o encarei.
- Não, pai. Não quero. - eu disse firme, mesmo querendo o ver. Já faz muito tempo desde a última vez em que fui ao cemitério.
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Depois do acontecido no carro, fomos para casa e assim que cheguei me tranquei no quarto.
Não quero ver ninguém e nem falar, quero ficar sozinha.
Mas parece que tem alguém contra mim. Olhei para tela do meu celular e vi que era uma notificação do Park, perguntando se eu havia conversado com meu pai.
Pois é, acabei me esquecendo. Mas também já não me importa agora, só quero ficar na minha.
Deixei meu celular de lado e me pôs a chorar novamente. Estava soluçando, me culpando, mesmo que não tivesse culpa. Não conseguia controlar oque estava sentindo no momento. Só conseguia liberar toda aquela dor, em lágrimas.

Senhor Marques~On

Me dói tanto ver a Melissa daquele jeito de novo.
Não tinha percebido que estava passando por aquele caminho, as vezes vou por ele. Também sinto falta do Hian, ele era como um filho pra mim. Doeu muito se despedi dele, mas me doeu mais ainda ver a minha pequena tão mal por algo que ela não fez.
Na época em que ela teve depressão eu não conseguia trabalhar, tirei um tempo e em seguida comecei a trabalhar de casa mesmo. A ajudava em tudo, no banho e na hora de comer. Sempre puxava assunto com a mais nova, mas ela não falava nada, só chorava ou ficava calada e aérea.
E agora, ver ela passar por tudo isso novamente, me dói em dobro. Pois foi eu quem a fez lembrar disso, e ainda por cima tem algo que eu preciso muito contar a ela e a minha esposa. Mas não dá pra falar agora, a garota está mal e se eu contar talvez piore ainda mais.
Enquanto pensava em mil formas para contar oque estava acontecendo pra elas, meu celular toca e eu vejo quem é, infelizmente tenho que atender.

- O que você quer, Celine? - falei um pouco irritado. Massageando minha cabeça com uma de minhas mãos.
- Calma, Lorenzo. - falou a mulher no outro lado da linha.
- Como você quer que eu fique calmo? - falei já alterado - Você me esconde as coisas, a minha filha tá passando por um momento ruim e você quer que eu fique calmo? - indaguei indignado - Por favor, Celine. Se for pra falar sobre aquilo, eu já sei dos meus deveres.
- Aquilo é...
- É minha filha. - interrompi ela - A filha que você escondeu todos esses anos de mim. Eu também tinha direito de saber da existência dela. - falei alto, logo me acalmando mais. Eu estava gritando, correndo perigo da Melissa ouvir e entender tudo errado. - Celine, vou desligar. Depois conversamos melhor.

Em seguida desliguei o telefone sem ao menos deixar a outra falar algo.

- O que eu faço? Como vou contar pra Helena e pra Melissa que tenho uma outra filha. Que nem eu sabia. - sorri sarcástico.

Estou a flor da pele, minha cabeça está quase explodindo. Não sei oque fazer.
Não posso contar agora pra elas, isso só vai piorar a situação da Melissa. Mas também não posso esconder isso.

O que eu faço?

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