Capítulo 4

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Iara

Escuto alguns sons distantes. Ouço algumas vozes. Sinto muita dor na cabeça, no quadril. Por que dói tanto o meu corpo?

Onde eu estou? O que está acontecendo? Não consigo abrir os olhos. Tudo está tão confuso. Meu corpo está pesado, meus braços, minhas pernas. Não tenho força. Continuo ouvindo pessoas conversando, não sei exatamente o quê.

Meu corpo relaxa cada vez mais, o som fica cada vez mais distante...

Sinto dor, minha cabeça, meu corpo parece flutuar, tento abrir os olhos novamente e não consigo. Minhas pálpebras estão pesadas. Percebo um cheiro bom, um corpo quente próximo ao meu.

— Shh... Vai ficar tudo bem, podes descansar — uma voz fala ao meu ouvido.

Vou perdendo os sentidos novamente.

Abro os olhos lentamente. Os olhos estão pesados. A cabeça dói, meu corpo todo dói... Vejo uma janela parcialmente aberta, com venezianas cobrindo a claridade do sol. Há uma escrivaninha próxima à janela, muitos livros sobre ela. Papéis, figuras de papéis... Vou seguindo o ambiente com os meus olhos, tentando me localizar. Vejo uma porta. Não sei onde estou. Estou confusa. Viro-me para analisar melhor o ambiente. Ah! Tem alguém atrás de mim! Sento rapidamente na cama.

— Ai. — Coloco a mão na cabeça. — Minha cabeça dói.

— Calma. — A pessoa levanta da cadeira e vem até mim. — Fique calma, devagar...

Que voz estranha, tem um sotaque.

— Onde eu estou? Quem é você? O que aconteceu? — vou questionando confusa, me afasto de perto do estranho.

— Está tudo bem. Fique calma. — Ele tenta me deitar novamente. — Imaginei que possivelmente sofrerias com amnésia temporária — fala com os olhos azuis lindos vidrados nos meus. — Tu não te lembras de mim? — pergunta com um leve sorriso. — Sabes quem és? — continua perguntando.

— Claro. — Reviro os olhos, como se isso fosse óbvio. — Eu sou Iara Costa, tenho uma empresa de shows e eventos. Moro na cidade de Salvador. Tenho total controle de minha vida e não admito está acordando em uma cama estranha, em um quarto que eu não conheço e falando com uma pessoa que eu nunca vi. — Respiro voltando a sentar na cama. — Você pode me fazer o favor de explicar o que está acontecendo aqui. Você por acaso me drogou? — Coloco a mão na boca e abro ainda mais os olhos. — Você me atacou? — Meu Deus! Será que eu fui abusada?

— Claro que não, meu Deus! — Ele parece cético com as minhas perguntas — És sempre assim tão... — Ele para me olha e continua. — Intensa? — Ele para, respira como se precisasse se acalmar e pensar no que dizer e fala: — Tu sofreste um acidente com um veículo. Bateste com a cabeça, causando um leve trauma craniano. Tivestes uma concussão e isso explica a tua falta de memória para eventos recentes. — Ele me olha novamente e fica tenso. — A culpa do teu acidente foi minha. Foi tudo minha culpa. Perdoa-me! Por favor, perdoa-me! — ele fala e eu vejo a culpa em seus olhos. A tensão vai aumentando e a respiração se acelera. Ele coloca o dedo indicador e polegar entre os olhos e aperta. Fica com a cabeça baixa e os dedos na junção dos olhos como se precisasse se acalmar. Por fim levanta a cabeça tira a mão do rosto e fala. — Nós estávamos no estacionamento da faculdade, nós meio que... — para olha para mim —, estávamos a discutir — fala como se estivesse sem jeito. — E tu saíste a correr e o veículo atingiu-te.

— Quanta maluquice! Não estou entendendo nada... Por que eu estaria discutindo com você? Eu nem te conheço — falo abrindo as mãos interrogando.

— Nos conhecemo-nos ontem, na faculdade. Eu sou um professor da faculdade. Chamo-me Fernando de Castro e tu estavas a apresentar um projeto. — Sinto um tom meio irônico em sua fala.

A Dona do Show - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora