Iara
Já tem um tempo que estou rolando de um lado para o outro na cama e nada de sono. A falta de exercício está cobrando o seu preço. Meu corpo não está acostumado a ter tanto descanso.
Decido me levantar para tomar um pouco de água. Saindo do quarto vejo uma fresta pelo corredor. Uma luz trêmula por uma porta. Eu olho pela pequena fresta da porta e vejo várias velas acesas. Coloco um pouco da cabeça pela porta e o que vejo me deixa perplexa. Lá está ele... Fernando... de joelho, próximo às velas, apenas de cueca. Dá para perceber seu corpo perfeito, forte, músculos bem definidos, mas sem excesso. Meu Deus, perfeito! Nada de gordura, todos os contornos perfeitos. A bunda redonda, as costas firmes, braços e pernas rígidos. Vou curvando o meu corpo à medida que a cabeça vai descendo para analisar cada pedaço daquele corpo másculo. Percebo que estão muito tensos, dá para observar as descargas por cada músculo. Vejo tremores, como se colocasse muita força. Então identifico o local em que ele está com os joelhos. Ele está sobre um tapete de metal que parece ser em alto relevo. Lembrei-me de minha avó contando sobre o castigo da sua escola. Eles colocavam os alunos para ajoelhar no milho. Mas isso aqui é muito pior! Parece que ele está ajoelhado em várias cabeças de prego... Isso deve doer muito! Sinto o seu sofrimento através contração dos seus músculos. Ele não se mexe. Meu Deus! Não consigo ficar olhando para isso, parece uma autoflagelação.
Corro em direção a ele levanto o seu braço para ajudá-lo a se levantar. Ele se vira de repente, me olha assustado. Sai de perto de mim e se encosta na parede me olhando com os olhos arregalados, assustado, surpreso.
— Saia daqui agora mesmo — fala, com um tom firme e autoritário. — O que pensas que estás a fazer?
— D... desculpe... eu... — Também estou assustada, quando olho para os seus joelhos e vejo o sangue escorrendo pelas pernas. Corro em direção à cama e pego uma toalha. Aproximo de Fernando para enxugar aquele sangue. Minhas mãos tremem.
Ele se afasta novamente arranca a toalha das minhas mãos e se enrola.
— Já disse para sair daqui agora mesmo. — Seus olhos são de raiva, vergonha, surpresa... Não sei desvendar a infinidade de emoções que transmitem.
Saio rapidamente de volta para o quarto para fugir dessa situação estranha. A imagem não sai da minha cabeça. Um sentimento estranho me invade. Uma angústia, uma tristeza toma meu corpo. Por que alguém precisa se castigar dessa forma? Não consigo entender. Há pouco tempo estávamos conversando numa boa durante o jantar. Parece existir algo nebuloso dentro dele. O fato de ele tentar me afastar com sua grosseria mostrava muito mais do que um cara rude. Tem alguma coisa errada, ele está se castigando por algo, mas o quê?
Deito na cama e fico com aquela imagem martelando em minha cabeça. De qualquer maneira, vou fingir que não vi nada. Deu para perceber que ele não gosta de falar de sua vida. As poucas vezes que perguntei, ele foi bem objetivo na resposta. Sem qualquer detalhe. Com certeza ele precisa de ajuda. Parece estar perturbado e pior, sozinho. Fico comovida, afetada... Sinto uma angustia em meu peito. Dói vê-lo o sofrer. Por que um homem tão másculo, forte, lindo, de um modo que não consigo imaginar maior perfeição, poderia estar vivendo sob tortura daquela maneira? Gostaria de poder ajudá-lo. Não sei como.
Passo boa parte da noite atormentada com os meus pensamentos até por fim pego no sono.
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A Dona do Show - Degustação
Romance"Ela é uma mulher empoderada, bem resolvida e independente. Assume sua posição e não se preocupa com a opinião dos outros." Iara é uma empresária bem-sucedida da área de show e entretenimento na cidade de Salvador na Bahia. Ela é solteira e não quer...