Capítulo 13

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Iara

Vejo o sol despontando em minha janela. Começo a me espreguiçar para a minha corrida matinal. Quando me levanto sou tomada por tontura. Essa tontura... Hum... Recordo que estou de repouso. Ai, o acidente! Eu recordo! Segunda na universidade... O professor de Castro, aquele idiota arrogante. As coisas desagradáveis que me disse. Que cretino! Filho de uma chocadeira, desgraçado!! Faltou me chamar de prostituta! Insinuando que conquisto o meu espaço através da sensualidade. Idiota, presunçoso! Como sempre, o velho estigma da mulata brasileira vende o seu corpo em troca de dinheiro, de status... até para conseguir casamento. Prática comum em nosso país? Infelizmente sim. No entanto, esses são casos ao acaso e não a regra. Não se pode julgar a maioria baseado em exceções. Estou me sentindo suja, humilhada... Como ele pode ser tão preconceituoso?Nem me conhece.

Ainda teve a coragem de me levar para a casa dele!! Meu Deus! Deve me achar uma vadia. O que ele queria de mim? Mas não me fez nada. Pelo contrário, cuidou muito bem de mim. Lembro-me de tê-lo visto muito preocupado e até mesmo se sentindo culpado. E aquela cena de joelho, o que foi aquilo?

Ele tentou acabar com a minha apresentação. Fez o possível para desqualificá-la. Quem ele pensa que é? Tem uma vida fudida, sem graça e acha que todo mundo é obrigado a ter também. Vai caçar o que fazer! Ele deveria ter ficado lá pela Europa, já que não estamos a sua altura.

Preciso de um banho, preciso me lavar, tirar toda essa sujeira do meu corpo. Estou fedendo... banho, banho agora.

Me esfrego sem parar. Já passei sabão em meu corpo umas dez vezes e ainda não estou limpa. Minha pele já está ardendo de tanto que me esfrego.

Preciso me limpar, tirar essa sujeira de mim.

Uma hora depois entro no prédio em direção à empresa.

Venho mastigando tudo que aconteceu e decido que isso não vai ficar assim. Ninguém mexe comigo e sai imune. Eu vou mostrar direitinho para ele todos os encantos e sensualidade das brasileiras. Ele não perde por esperar.

Preciso tomar algumas providências com relação a isso. Aí meu Deus, hoje é quinta! Tem evento! Preciso formular um plano B para fechar definitivamente o contrato da formatura.

Passo pela porta da empresa e encontro Marcos em sua mesa. Ele dá um pulo e vem ao meu encontro.

— Ai minha mãe Iansã! Como você está? Já está voltando ao trabalho? Rach disse que você precisava de repouso. — Começa a passar a mão na minha cabeça me inspecionando toda. — Quase desmaiei quando Rach me falou do acidente! Você sabe que não posso sobreviver sem a minha diva, não é? vermelha, o que aconteceu com a sua pele?

— Sem drama Marcos. Já estou bem. Repousei tanto que nem quero ouvir falar mais disso. — Dou um abraço em meu fiel escudeiro. — Minha pele ficou um pouco irritada. Deve ser alergia de algum produto. Logo passa.

— Mas vamos com calma, minha diva. Esse negócio de pancada na cabeça é perigoso!

Sorrio. Ainda bem que ele se concentrou no acidente. Essa figura não existe.

— Tudo bem. Estou bem calma, bom? Pede a Rach para ir a minha sala. Estamos até o topo de trabalho. — Dou um abraço gostoso em meu amigo. — Estou bem! Obrigada por se preocupar e eu estava com saudade...

— Você sabe o quanto te venero, ? — fala, com os olhos brilhando de admiração. — Falo com a Rach agora mesmo. — Ele pega o telefone. Eu dirijo-me a minha sala.

Começo a analisar a minha agenda e verificar os compromissos pendentes. Tenho marcar outra reunião com a comissão de formatura da UFBA. Reunir com a equipe da formatura de odontologia que será na próxima semana. Preciso ver como andam os detalhes do festival, reunir com os empresários e fechar todas as pendências.

Rach entra na sala com seu habitual estilo executiva. Hoje está de gravata borboleta vermelha e um terninho slim branco perfeito em seu corpo.

— Que história é essa de sair do repouso? — Dispara sua irritação por eu já está na ativa.

— Hum... Ligando o foda-se para essa história de repouso — falo convicta, e ela estreita os olhos. — Sei o que vai me fazer bem. Garanto que se ficar em casa, vou enlouquecer.

Ela concorda com a cabeça, mas nada satisfeita.

— Sempre arrasando no look, cobrinha! — Mudo logo de assunto.

— Você também florzinha. Essa saia lápis vermelha dentro dessa bunda, faz qualquer filho de Deus pedir arrego. — Bate em minha bunda e fala: — Gostosa demais!

Isso me faz lembrar que estou sem exercício quase essa semana inteira.

— Preciso me exercitar. Esse repouso me deixou fora de forma.

— Só você mesmo... — Ela balança a cabeça. Ela me olha mais atentamente e vira a cabeça de lado como se estivesse me investigando.

— É impressão minha ou você está com a pele vermelha novamente? — Ela pega o meu braço e passa a mão eu puxo logo para evitar mais especulações. — Faz tempo que essa alergia não aparece. — Olha-me desconfiada.

— Verdade. Acho que deve ser algum produto novo. — Tento mudar de assunto novamente. — Rach, acho que vou usar aquela sugestão que você me deu sobre levar a comissão para a formatura de odonto...

— É? Por quê? — Ainda bem que a técnica funcionou. Ela sempre encontra um jeito de arrancar as coisas de mim.

— Hoje cedo recuperei as lembranças da segunda. — Solto o ar dos pulmões. — Aquele professor de merda fez uma cena na reunião. Insinuou que o evento e a festa são desnecessários e que utilizamos o mundo da sensualidade para entreter as pessoas. Faltou me chamar de prostituta na lata. — Olhamo-nos por uns segundos. Rach sabe que não vou deixar isso barato.

— Qual a cartada então? — ela pergunta

— Inicialmente, vou levar a comissão para a formatura do outro final de semana. Sei que depois disso, eles fecharão com a gente. Nossa produção é um sonho para qualquer pessoa e você sabe que fazemos preços e parcelamento para atender as necessidades de todos. — Ela confirma com o movimento de cabeça. — Agora, em relação ao professor de Castro... — falo, com um sorriso e as sobrancelhas pulando. — Vamos mostrar para ele o que se entende por sedução. Ele não perde por esperar...

Rach dá um sorriso iluminado e diz:

— Não tenho qualquer dúvida sobre isso. — Dá uma gargalhada e eu a acompanho.

— E você adora. Não é, cobrinha? — Rach é diabólica. Ela é uma irmã que me defende com unhas e dentes. Assim como faria por ela sem sequer piscar. Quando precisa ser boa, ela é ótima. Mas, se precisa ser má... Ela é excepcional!

Continuamos o trabalho resolvendo todas as pendências. No horário do almoço encerro o meu dia no escritório. Recebo uma mensagem de Fernando que me informa a consulta de amanhã para as 15h. Marca de me pegar em casa. Não contesto. Amanhã vou lidar com ele.

Às 14h já estou em casa, após um almoço no shopping com a Rach. Fechamos todos os preparativos para o evento da noite e combinamos de nos encontrar mais tarde.

Rach está muito triste. Tenta disfarçar mais é perceptível que a sua situação com a Ana não está bem. Vamos ter que conversar melhor sobre esse assunto. Não suporto ver sua insegurança com relação a sua namorada. Não queria interferir, mas se a Ana estiver fazendo a minha amiga de besta, eu vou ter que bater um papo reto com ela.

A Dona do Show - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora