Capítulo 12

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Iara

Fecho a porta e me viro para olhar a cara debochada de Rach que sorri para mim.

— Sinto dizer florzinha, mas você está lascada¹¹. — Ela sorrir ainda mais com a sua constatação. — Esse homem é um castigo para qualquer mortal, o Thor resolveu desintegrar aqui dessa vez. — Tira onda da minha cara. — De Asgard para a Bahia...

Gargalha e eu sorrio com ela de suas palhaçadas.

— Não fode mais a minha cabeça sua cobra. Já estou em uma confusão dos infernos. — Admito. — É muito lindo, né? — Ela confirma. — Ele perguntou se somos namoradas... — Rach gargalha virando a cabeça para trás

— Mal sabe ele que você gosta tanto de homem, que ultimamente um só não tem sido suficiente. — Ela ironiza.

— Também não é assim, Rach — falo, enquanto ligo o aparelho celular. — Isso só acontece quando eu tenho muita energia para dissipar. — Faço um biquinho e pisco o olho em tom de brincadeira. — Será que eu vou conseguir resgatar tudo nesse aparelho?

Ela pega o celular para fazer o trabalho por mim. É sempre assim, Rach tenta facilitar a minha vida em tudo quanto é possível. Ela sempre foi um anjo para mim. Eu a conheço desde o colégio. Fomos colegas e tive a demonstração de sua amizade e sua lealdade quando tinha 16 anos. Quando me envolvi com o Richard, irmão de Rafaela minha colega no colegial. Nós três éramos inseparáveis, íamos à casa uma das outras, saíamos juntas para shoppings, festas e foi nessa época que Richard começou a se aproximar de mim. Ele era mais velho que eu uns quatro anos e muito mais experiente. Eu já havia beijado alguns garotos, mas nada além de beijos e abraços. Ele começou a ficar no meu pé e armar para ficarmos sozinhos. Eu ficava fascinada com os seus papos, seu corpo todo musculoso e acabei sendo seduzida por ele. Chegou um momento que eu comecei a criar desculpas para ir até a casa de Rafaela, Rach ia comigo e me dava cobertura. Ele não queria que ninguém soubesse. Em um determinado dia as coisas ficaram quentes e acabou acontecendo com ele a minha primeira transa. Ele dizia que iria me assumir para todo mundo e que me amava. Eu acreditava em toda fantasia que ele colocava em minha cabeça. Ficamos nesse lance por dois meses. Até que um dia ele apareceu com uma garota mais velha que eu. Ele apresentou para todo mundo como namorada. Foi a maior decepção que eu podia ter. Fiquei em pedaços, destruída, me sentindo um trapo. Fui até ele no dia seguinte e ele jogou um balde de água fria sobre mim. Pisou ainda mais em meu orgulho ferido. Disse que jamais assumiria uma molequinha como eu, que ele gostava de mulheres experientes e não pirralhas bobas que não sabia nem dá prazer a um homem. Para completar o desastre, menos de um mês depois, descobrir que estava grávida. Rach ficou do meu lado o tempo todo e fomos nós duas até ele para contar a novidade. Ele surtou, xingou e veio para me agredir. Rach impediu e o ameaçou. Ele, então me obrigou fazer o aborto. Eu estava tão desesperada com todo o desprezo e humilhação que essa parecia à única saída para acabar com todo aquele pesadelo. Fomos os três a um lugar que ele descobriu e tudo foi feito de forma clandestina e sem qualquer cuidado apropriado. Essa inconsequência me custou uma hospitalização e muito tempo de acompanhamento psicológico. Minha mãe acabou sabendo de tudo logo após o procedimento, quando passei mal a caminho de casa. Foi um baque grande para ela. Apesar disso não deixou de me apoiar e garantir que o culpado arcasse com as consequências na justiça.

Desde então nunca mais tive um relacionamento com ninguém. Passei muitos anos querendo distância de qualquer ser do sexo masculino. Até em um determinado dia Rach me convidou para ir a uma casa de stripper. A partir desse dia aprendi a me divertir apenas assistindo seus shows. Depois de um bom tempo passei a contratá-los para me servirem, sob o meu comando e sempre os mais novos que eu. Hoje em dia faço dessa prática sexual uma brincadeira bem interessante que não me deixa sentir necessidade de mais nenhum envolvimento amoroso.

Quando Rach vai embora já é bem tarde. Jantamos juntas e passamos o tempo falando besteira e sorrindo, como sempre.

Deito-me na cama e o pensamento se volta para aqueles olhos azuis misteriosos. Não consigo esquecer a sensação de tê-lo tão próximo. Não sei exatamente o que tem com esse cara que me deixa perdida, sem raciocinar. Sem contar que não me esqueço da sua imagem de joelhos em forma de penitência. Não dá para imaginar que seja a mesma pessoa. Em um momento ele é forte, másculo, poderoso. Em outro o vejo naquele quarto de joelho, tão frágil, tão humilhado. Pude sentir tanto o sofrimento físico quanto espiritual naquele corpo trêmulo. Essas recordações me afetam mais do que eu gosto de admitir.

11- Está em situação difícil

A Dona do Show - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora