Capítulo 15

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Iara

Saímos para o estacionamento e chegamos ao seu carro. Ele para ao meu lado e me pergunta:

— Vistes em teu carro? — Olho para ele com a ira me consumindo e conto até um milhão para não socar esse seu rosto lindo e arrogante.

— Não. Preferi um táxi. — Ele assente satisfeito. Detesto o fato de ter feito exatamente o que ele sugeriu.

— Ótimo. — Ele abre a porta do passageiro de seu carro para que eu me acomode.

Sento no banco do passageiro de braços cruzado parecendo uma criança com birra. Ele me olha e sorri. É um sorriso divertido, que nunca presenciei.

— Posso providenciar um chupa-chupa¹² para essa miúda emburrada? — ele me diz, e continua sorrindo. Minha espinha gela e sinto uma fisgada no meio das pernas.

— Que diabo é chupa-chupa? Miúda??

Ele abaixa em minha direção e o meu coração para... Então, ele abre o porta-luvas e pega um pirulito e me entrega.

— Isso — esclarece. — Miúda é criança, e o chupa-chupa já funcionou.

Sorri e eu sorrio também. Nunca poderia imaginá-lo fazendo brincadeiras como essa. Seu lado divertido e carinhoso me surpreendeu. Nem parece o mesmo homem que me insultou tão duramente na segunda e ainda a pouco ameaçou fazer um escândalo em meu evento.

— Como soube onde eu estava? — Tento quebrar o clima dentro do carro e ele começa a sair do estacionamento. O rádio está ligado e toca Carnavalia de Tribalistas. Dessa vez ele não reclama da música.

— Bom, primeiro, eu sabia que não ficarias em casa de repouso. — Ele me olha como se isso fosse óbvio. Será que sou tão transparente assim? — Segundo, tenho meus meios. Encontrar-te é o menor de meus problemas com relação a ti

O que ele quer dizer com isso? Ficamos em silêncio por um tempo apenas ao som da música.

— Quem está a cantar? — ele pergunta.

— Tribalistas. — Ele assente. — Eles são bons, não é?

— Realmente, uma linda melodia!

Ficamos escutando mais um pouco e eu falo:

— Se gostou dessa canção, acho que deveria escutar as demais deles. São singulares, usam instrumentos inusitados. Fazem um som incrível.

— Tu pareces gostar muito — ele afirma, e eu não estou entendendo esse clima amistoso. A única vez que ele me tratou melhor foi quando estava em sua casa, mesmo assim ele apenas se limitava a responder minhas perguntas, por obrigação, sem essas conversas desproposita, sem importância.

— Eu gosto. Esse gênero é o que eu mais escuto. Ouço outros ritmos também. Na verdade, a música depende do meu estado de espírito. Ele me olha e balança a cabeça em negativa. Estava demorando a começar com a sua veia preconceituosa. — Nem vem com essa de que a nossa música é uma porcaria, que nosso país não presta, nossa cultura é passar os outros para trás e viver enrolando todo mundo... — cuspo com toda a minha irritação.

— Ei, espera... eu não disse isso. — Olho para ele com uma cara de ironia. — Tudo bem, talvez eu tenha dito uma coisa ou outra. — Ele engole seco balança a cabeça e continua. — Eu concordo que eu posso ter exagerado em algumas coisas com relação a vós.

A Dona do Show - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora