Capítulo 6

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Iara

Passei o restante da tarde no computador e depois peguei no sono. Quando acordei já passava das sete da noite. O quarto estava escuro e o apartamento bastante silencioso. Eu não o vi mais desde o momento que entrou no quarto para me entregar os medicamentos.

Vou até o banheiro me aliviar e ver como está a minha aparência no espelho. Meu cabelo está todo bagunçado e tenho marcas pelo rosto e pelos braços. Pego um elástico, prendo o cabelo e volto para o quarto.

Decido verificar o que está acontecendo lá fora... Está tudo muito silencioso. Fernando deve ter saído. Vou andando pela casa. Passo pela cozinha para tomar um pouco de água. Vejo tudo bem organizado. Armários e balcão tudo em preto e branco, eletrodomésticos de inox. Próximo à geladeira há uma adega enorme cheia de vinhos. Apesar de não beber, sei que são bem caros. Em meu trabalho é fundamental conhecer tudo sobre bebidas. Vejo que tem vários tipos de uvas. Ele deve gostar mais do tinto, porque esse prevalece. Dentro da geladeira tem de tudo um pouco. O que me faz pensar que ele usa a cozinha para preparar suas refeições com frequência. Diferente de mim... Eu quando não como fora ou peço comida, uso a técnica de descongelar. Sou péssima na cozinha. Eu aproveito os preparos do buffet para manter o meu congelador abastecido. Dou uma risada, ele ficaria horrorizado com a minha geladeira.

De repente a porta de serviço se abre ao meu lado. Eu que estava com a geladeira aberta, fico envergonhada de estar bisbilhotando a geladeira alheia...

Ele me olha e não diz nada. Fico com mais vergonha ainda da situação. Tento consertar.

— Estava tomando água — minto e fecho a porta. Ele coloca várias sacolas sobre a pia.

— Tudo bem — ele diz, ainda mexendo nas sacolas e guarda os itens no armário. — Como estás? — ele pergunta.

— Estou bem, acho... Sinto um pouco de dor na cabeça e no quadril, mas estou bem. — Ele me olha e a nossa proximidade permite que eu sinta um perfume agradável. Ele deve ter tomado banho. Está com outra roupa. Agora está vestindo uma calça jeans escura com uma camisa polo branca. Ele está sempre bem vestido, mesmo estando fora do trabalho... Em nosso clima tropical normalmente nos deparamos com homens de bermuda e camiseta quando estão em casa. Já ele, é sempre muito formal e muito elegante. Não posso dizer que não ache muito charmoso. Só não estou acostumada com homens tão sérios e formais em situações do cotidiano. Aqui em Salvador normalmente as pessoas que estão fora do trabalho costumam andar bem à vontade. Vão para o shopping, padaria, supermercado de bermuda e chinelo. Ele definitivamente, não é do nosso mundo.

— Vou preparar algo para o jantar, o que desejas? — ele pergunta

— Não precisa preparar nada para mim. Posso comer qualquer coisa. Um Iogurte, um biscoito. — Não quero que se incomode.

— Humpt — resmunga com desagrado. — Isso não é comida... Eu prepararia algo mesmo que não estivesses aqui. Gosto de cozinhar — fala me olhando. — Então, o que gostarias? Uma massa, uma sopa?

— Engraçado que você falou logo os meus dois pratos favoritos. — Sorrio e ele se vira para as compras para fazer o seu trabalho.

— Se quiser, podes tomar um banho enquanto eu preparo.

Tenho a impressão de que ele quer me manter longe o tempo todo. Vive me mandando fazer alguma coisa em outro lugar. Será que sou tão desagradável assim?

— Você precisa de ajuda? Eu não sei fazer muita coisa, mas posso tentar... — aguardo a resposta, apesar de saber que sou um desastre na cozinha.

— Não. — fala ríspido. — Podes retirar-te, eu cuido de tudo.

Não entendo esse cara. Em um momento ele é gentil e se preocupa comigo, no momento seguinte parece um tirano. O que eu fiz?

A Dona do Show - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora