Capítulo XLII

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Paramos bem atrás do colégio e eu me senti confusa.

-Dener, por que estamos aqui? Eu falei que não queria vir ao baile. - falei pra ele cruzando os braços e o fitando.

-E eu ouvi. A propósito, também achei a cerimônia o suficiente pra mim.

Dener foi homenageado na cerimonia por nossa sala apesar de não ser mais nosso professor.

-Então, por que estamos aqui? - tirei o cinto e ele também.

-Quero te mostrar uma coisa. - anunciou saindo do carro.

Estranhei muito, mas saí do carro também. Dener já andava em direção ao portão do colégio e eu dei uma pequena corridinha para acompanhá-lo, logo, colocando a mão de supetão dentro do seu bolço do sobretudo, onde a dele já repousava. Entrelaçamos as mãos naquele bolço aconchegante e quentinho e ele virou o rosto para mim e sorriu, ajeitando os óculos com a outra mão. Estava tão frio que podíamos ver o ar aquecido dos nossos pulmões, saindo dos nossos lábios quando abríamos a boca.

-Não está de luvas? - perguntou Dener distraidamente, quando adentramos o colégio.

-Ah, eu esqueci.

-No carro?

-Em casa.

Ele parou de andar e me encarou contraindo o rosto em frustração. Dener odeia quando eu esqueço as coisas, seja aonde for. Não pelo fato do descuido, mas que talvez eu possa fazer isso com algo importante e gerar um problema pra mim.

-Você nunca esqueceu nada assim? - perguntei constrangida e irritada.

-Sim, claro, mas não como você. É a pessoa mais esquecida que eu conheço, Emily. Pelo menos, com objetos. - falou.

-Bem, você não está usando luvas. - rebati.

-Mas não porque esqueci-as - ele apontou com o dedo - mas porque não quis usá-las, posso aguentar o frio.

-Ora, eu também! - afirmei.

-Hum... - ele estreitou os olhos para mim.

Fiquei um pouco apreensiva com aquele olhar. Eu odiava quando Dener ficava chateado comigo, peguei um certo trauma desde aquela vez que eu o magoei. Mas ele continuou me encarando, e seu olhar tenso e irritado começou a brilhar e um pequeno sorriso se formou em seus lábios.

-O que foi? Por que está me olhando assim? - perguntei. Ele apertou mais ainda minha mão contra a sua.

-Você é a criatura mais linda que eu já tive o prazer de contemplar. - disse de forma abrupta - você é magnífica, sabia?

-Dener?

-Sim?

-Anote isso.

-Não é preciso, basta que eu olhe para você e me lembrarei.

Dei um tapa forte em seu peito, mas ele nem o sentiu.

-Pare com isso! Você é apenas um literário romântico. - falei sorrindo e voltamos a andar pelo corredor do colégio.

-Ou talvez, apenas talvez... - repetiu de forma divertida - eu esteja completamente apaixonado por você! - Começamos a rir juntos.

Dener me conduziu para dentro da biblioteca que ficava perto do salão de festas da escola, então escutamos o som animado do baile e abafado. A biblioteca estava escura, mas percebi que Dener estava me levando para a porta que ficava nos fundos dela. Era uma porta que dava para uma área em construção do colégio. Lembro-me que até colocaram caixas pelos corredores para que os alunos dessem suas opiniões sobre o que fazer com aquela área, anonimamente. Por que Dener me levaria para lá?

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