Capítulo IV

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Acordei cedo e fiquei um bom tempo me observando no espelho do banheiro. Eu queria entender os meus pensamentos e os meus sentimentos em relação a tudo que aconteceu. Penteio meus cabelos curtos e ondulados como normalmente faço, depois me aproximei muito do espelho e encarei meus próprios olhos de cor escura, que quase tinham a mesma cor do meu cabelo, que é castanho-escuro. Me afastei e sorri para meu reflexo, meu coração não estava palpitando, meu rosto não estava vermelho, talvez estivesse tudo bem. Convenhamos, o Sr. McWillians é solteiro, tem um porte físico bom, um rosto jovial, uma carreira bem-sucedida e não é tão velho assim, qualquer garota ficaria balançada se ele tocasse em suas mãos e logo eu, que nunca havia ficado tão próxima de um homem, é comum estar mexida, mas já passou, foi só naquele momento. A última coisa de que preciso é dessa complicação. Dei uma última olhada no espelho, ajeitando minha saia, depois desci para tomar café.

-Bom dia Pai - falei ao avistá-lo na mesa.

-Bom dia. - respondeu com os olhos fixos no jornal que segurava.

Me aproximei da mesa e me sentei, meu pai levantou-se em seguida. Recebi a hostilidade e fingi que não havia notado, como sempre.

-Não vai terminar seu café? - perguntei preocupada.

-Não. Preciso estar na editora em 5 minutos - ele disse enquanto pegava sua pasta.

-Tenha um - ele saiu sem que eu terminasse a frase - bom dia - murmurei para mim mesma, ainda olhando para porta por onde meu pai acabara de passar.

Meu pai, Jonathan Dan-i é dono de uma editora a Dan-i Books ou DB, eu já havia mencionado antes. Desde que minha mãe ficou doente, nós dois não temos mais a amizade de pai e filha que tínhamos no início e, depois da morte dela, eu virei apenas a colega chata de quarto dele. Eu entendo o seu lado, perder minha mãe foi difícil para ele. Os dois foram o primeiro amor um do outro e construíram a editora juntos, realmente foi muito difícil a morte da minha mãe para o meu pai. O problema é que eu também sou parte da família e também foi difícil para mim e ao contrário dele, às vezes parece que eu perdi os dois.

Cheguei cedo à escola e fui direto para meu armário. Guardei alguns livros e peguei outros, encarei o interior do meu armário sem graça, depois o fechei, mas não me movi do lugar ao avistar o professor McWillians vindo em minha direção. Ele não sorriu. Ótimo, parece que ele está normal, como um professor deve ser. Quando ele finalmente chegou até mim, bateu no meu ombro de leve com o livro que tinha me dado no dia anterior, fazendo com que eu me encolha pela repentina ação.

-Esqueceu no carro ontem. - disse.

-Ah, desculpe. - peguei o livro e abri meu armário, guardando-o.

Mal notei quando um garoto superanimado se aproximou de nós e interagiu alegremente.

-Olha só quem eu encontrei por aqui - ele disse sorrindo e passando o braço por cima do ombro do professor.

-O que faz aqui Dave? - o professor perguntou, ríspido.

-Só passeando pelo corredor das segundas séries. - disse. Seus olhos caíram sobre mim e depois de uma breve analisada, ele perguntou: - você não é aquela garota inteligente do segundo ano? Hum... - colocou a mão no queixo e tentou lembrar meu nome. - Daniela... Dani.. Daiane... não...

-Dan-i. - falei.

-Isso mesmo. - ele apontou para mim. - Você tem descendência coreana, não é?

-Sim, por parte dos meus avôs paternos. - falei sem olhá-lo, na verdade eu ainda não o tinha encarado desde que chegara - você dois são parentes? - perguntei.

-Sim, eu sou Dave McWillians, irmão mais novo do seu professor de literatura. - ele finalmente se desgrudou do professor e ofereceu a mão para mim.

Quando eu levantei os olhos a fim de ver sua mão, avistei também um sorriso doce e resplandecente, bem diferente do professor. Ele tinha olhos mais claros e um semblante carismático. Seu cabelo era idêntico ao do professor e sua estatura também, embora o professor fosse um pouco mais forte. Os dois são muito bonitos e charmosos, parecem mesmo irmãos. Apertei sua mão com delicadeza, enquanto ele apertou a minha com um pouco de brutalidade, o que me fez lembrar das análises de mãos que eu e o Sr. McWillians fizemos ontem.

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