Capítulo XIV

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Eu precisava correr com todas as forças que eu tinha. Eu precisava fugir daquela situação, daquele sentimento, de mim mesma, mas eu sabia que era impossível. Em meu consciente, eu sabia exatamente para onde estava correndo, mas a verdade, era que eu não queria correr para lá, não queria porque não era certo, era errado de muitas formas que deveriam entrar em minha cabeça de uma vez, mas eu não estava pensando nisso. Depois de um tempo, apenas correndo sem olhar para os lados, comecei a avistar a casa do professor e eu o vi colocando um saco de lixo dentro da lixeira metálica em frente a sua casa. Ele me viu e estreitou os olhos a fim de reconhecer a aluna de uniforme, correndo em sua direção, quando eu já estava mais perto, ele gritou:

-Emilly!?

Ele começou a correr ao meu encontro, quando eu tropecei na rua bem no meio da rua. Senti o asfalto esfolar meu joelho e minha perna. E ali se sucedeu um momento muito rápido de perigo, vi luzes fortes que vinham na minha direção e me cegaram. Um carro. Escutei um grito estridente e esganiçado, que foi seguido de um freio brusco:

-Pare!!!

O professor, de repente, estava entre mim e o carro que havia parado apenas a alguns centímetros dele. Uns minutos a menos ou a mais, e aquilo poderia ter sido um acidente horrível.

-Você ficou maluco!? - vociferou o professor para alguém que saía do carro.

-Foi você quem pulou na frente do carro de repente! - gritou saindo do carro, a outra voz, que logo reconheci. Era Dave. Ele se aproximou e me avistou: - Emilly?

Não olhei para ninguém, apenas fiquei parada, encarando o chão e me sentindo extremamente abalada por tudo, inclusive, aqueles segundos de quase morte. O professor se abaixou a minha frente e me encarou.

-Vamos para o hospital, agora! - anunciou tocando em meu ombro. Aquele aperto quente da sua mão me trouxe de volta aos sentidos originais.

-Não, por favor professor. Estou bem, foram apenas - as lágrimas retornaram - alguns arranhões - falei baixinho junto de um suspiro e com a voz falhada.

-Vamos levá-la para dentro, Dener. - disse Dave. - deixa que eu... - ele se ofereceu vindo em minha direção e erguendo os braços, mas o professor o interrompeu de forma abrupta.

-Não! - ele gritou com uma certa brutalidade e esticou a mão aberta para Dave, pedindo que se afastasse. - não toque nela! - exclamou na defensiva. Dave deu um passo para trás, meio perplexo, meio paralisado com a repentina mudança de seu irmão. - deixa que eu faço isso. - disse em um tom mais baixo e um tanto irritadiço ou desconcertado.

Ele pegou minha mochila colocando-a em seu ombro, depois me pegou no colo com cuidado e eu segurei firme em sua blusa. Não havia necessidade daquilo, eu conseguiria andar, devagar, mas andaria, entretanto, suspeitei de que meu corpo não se moveria do chão nem que eu quisesse e não pela dor externa, mas pela horrível dor interna.

Sentir o calor dos seus braços estava me deixando um pouco mais calma. O professor me levou para sua casa e me sentou no sofá com delicadeza. Depois, começou a cuidar dos meus machucados em um silêncio sepulcral que foi interrompido por Dave. Ele estava em pé, do outro lado da sala com uma certa desconfiança de toda aquela situação. Cruzava os braços como alguém realmente enfurecido por perceber certas coisas...

-Desculpe por quase te atropelar, - ele pediu - mas o que estava fazendo no meio da rua a essa hora? - perguntou.

O professor, que estava abaixado a minha frente, levantou os olhos para mim, franzindo o cenho e percebeu a falta de expressão em meu rosto. Ele sabia que eu não diria nada naquele momento.

-Dave, por que não arruma o quarto de hóspedes para a Srta. Dan-i? - ele sugeriu com cuidado na voz.

-Ela não pode dormir aqui, é sua aluna Dener! - ele protestou. - isso vai contra todas as regras da escola e um pouco mais! - ele pestanejou enraivecido, era imperceptível saber se a causa eram as regras escolares ou eu.

-É minha aluna, sim, e está machucada e claramente com problemas em casa, então, é minha responsabilidade como professor garantir que fique bem e se sinta bem, além do mais, não estamos na escola, Dave. - ele disse inexpressivamente. - então, por favor...

Dave suspirou, mostrando sua aversão aquela ideia, mas, mesmo assim, saiu da sala subindo a escada. Uns minutos se passaram e eu continuei imóvel e calada. O professor terminou os curativos, lavou as mãos e retornou para perto de mim, sentando no sofá ao lado. Ele não disse nada por uns minutos até começar a me encarar como um detetive.

-Emilly... - ele me chamou pelo nome e isso me fez estremecer levemente - essa marca avermelhada no seu rosto está me deixando muito irritado - ele disse aparentando calma. - faço uma ideia de como aconteceu, mas, ainda assim, estou ficando irritado. Te dei um tempo para se acalmar, - ele levantou-se - mas se não me contar nada, terei que descobrir sozinho e talvez, machucar alguém... - ele começou a andar com pretensão de sair e quando passou por mim, segurei em seu braço a fim de impedi-lo.

-Professor... - chamei-o baixinho.

Segurei firme o torso de sua mão. Ele olhou para mim, esperando uma resposta que o fizesse ficar.

-Eu acho... - comecei um pouco incerta das minhas palavras - que meu pai me odeia, professor. - às lágrimas voltaram a cair. - mas eu não sei o que fiz. - balancei a cabeça, olhando para um ponto fixo no chão. - eu é que deveria odiá-lo, mas não consigo, eu o entendo, acho que o entendo até demais, mas o ar na minha casa é pesado, há vezes que fica difícil respirar... - falei com a voz embargada e o coração apertado.

O professor apenas me encarou por uns segundos e depois livrou-se da minha mão, passando a segurá-la com uma ternura que eu nunca havia sentido antes. Ele acariciou com carinho meus dedos e as costas da minha mão, sentando-se ao meu lado. Com a sua outra mão, ele segurou minha cabeça delicadamente contra seu peito e a sensação inaudível que percorreu meu corpo foi acolhedora. Era como se ele me dissesse que ali, eu poderia chorar, que entre aqueles braços e no calor daquele peito, tudo bem em desabar, porque eu estava segura. Segurança e acolhimento; essas são sempre as sensações que eu sinto quando estou com Dener McWillians. Mas não é assim que um professor deveria fazer seus alunos se sentirem? Seguros e acolhidos? Será que está tudo bem em tornar esses sentimentos em algo romântico? Essas foram as perguntas que eu me fiz envolvida naquele abraço, e que logo desapareceram com a chegada do desespero das minhas lágrimas e com as frustrações que assolavam meu coração.

 Mas não é assim que um professor deveria fazer seus alunos se sentirem? Seguros e acolhidos? Será que está tudo bem em tornar esses sentimentos em algo romântico? Essas foram as perguntas que eu me fiz envolvida naquele abraço, e que logo desapar...

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