O Que Há Nas Entrelinhas?

Capítulo XI

Ashley saiu do banheiro exibindo seu visual meio princesinha e meio Alice. Era um vestido rodado com pano grosso de cor azul e com um avental branco por cima, usava uma meia arrastão com listras prestas e brancas na horizontal e um salto alto preto. Era um perfeito Alice-princessa, ela estava linda nele e seu enorme cabelo de cor dourada contribuiu fortemente, para isso.

Assim que Ash me viu, seus olhos brilharam e ela abriu a boca impressionada.

-Emily! - ela gritou me assustando.

-O quê!?

-Você está linda! - disse se aproximando e tocando em meu braço.

Eu não estava vestida de Alice, mas de gato de Cheshire. É um ótimo personagem do livro, meu preferido, na verdade. Meu vestido cobria os joelhos e era rodado. A parte de cima era preta de alcinha, colada ao corpo e entre os seios descia uma renda azul-escuro até a cintura onde um laço grande e preto contornava a mesma. Em baixo era uma saia de tule com partes pretas e azuis na vertical em pregas. Eu também estava usando uma meia arrastão de listras onduladas de cor preta e azul. Também coloquei um salto alto preto com detalhes brancos. Uma verdadeira Alice-gato de Cheshire.

-Eu queria estar vestida apropriadamente. Gosto muito desse livro. - falei timidamente.

-É estranho como esse tipo de roupa combina com a sua personalidade, mas você está incrível! - ela sorriu bastante animada.

Quando eu vi essa roupa em uma loja online, eu nunca imaginei que iria usá-la na minha vida, mas aqui estou eu, usando-a. Acabei comprando porque gosto muito das cores e do estilo. Saímos do banheiro e andamos de volta para sala. Alguns meninos estavam me olhando estranho, então tive que desviar o olhar para o chão várias vezes. Chegamos a sala e todos começaram a nos elogiar. Mark não parava de me olhar, inquieto e se aproximou.

-Vocês duas estão lindas. - ele disse timidamente.

-Obrigada, senhor Tímido! - Ashley disse sorrindo e apertando a bochecha de Mark.

Todos também começaram a aparecer fantasiados, a maioria das meninas estavam vestidas do mesmo modo que Alice e os meninos vestiam trajes engraçados como o do Chapeleiro maluco, rimos muito. Eu nunca tinha me sentido daquela maneira, nunca tinha feito algo com mais de duas pessoas e com pessoas que não fossem Ashiley e Mark, mas agora, percebo que essas pessoas estavam comigo o tempo todo, desde o ano passado e vamos continuar todos juntos até o ano que vem. Mesmo que eu não tenha conhecido de um modo profundo a todos, tudo bem, são todos estranhos que passam a maior parte do dia comigo e isso é como ler um livro. Você precisa continuar a leitura até conhecer todos os personagens.

Terminamos os preparativos do túnel e 4 alunos ficaram responsáveis pela recepção das pessoas do lado de fora da sala. O festival começou às 15:30 e as pessoas começaram a encher os corredores largos do colégio. Ás 17:00 horas, ainda não tinha avistado o professor McWillians em nenhum momento, então disse a Ashley que daria uma volta sozinha e ela não se opôs. Andei pelos corredores, observando as atrações dos outros alunos nas salas e todos pareciam animados. Parei em frente a uma sala onde os alunos falavam sobre um autor japonês, eu o conhecia, era Nastume Soseki, um dos maiores escritores da era Meiji. Entre seus maiores sucessos, está Eu sou um gato. Os alunos estavam com seus livros em mãos e falavam sobre seus romances com as visitas, também vestidos de acordo com a época Meiji. Talvez o autor não fosse o foco da atração deles e sim, a época em que ele escreveu.

-Eu deveria fazer isso mais vezes... - falei baixinho para mim mesma.

-O que deveria fazer mais vezes? - perguntou uma voz masculina macia e limpa. Era Dave McWillians, que se aproximou segurando em meus ombros.

-Ah, Dave... - sorri e desviei o olhar para o chão.

-Sabia que você está... - ele se afastou e me observou dos pés a cabeça com minuciosidade. - estonteante.

-Estonteante? - perguntei, rindo.

-Viu? Também sei falar palavras difíceis. - ele disse sorrindo genuinamente.

-Ouvi, na verdade. - ri. - não precisa fazer isso.

Eu comecei a andar e ele ladeou comigo.

-Isso o quê? - ele perguntou.

-Não precisa falar palavras difíceis comigo. - eu disse.

-Se você prefere assim, eu me esforço. - ele falou colocando a mão nos bolsos da jaqueta do time.

-Eu prefiro que você seja você mesmo. - falei. - então, o que a sua sala está fazendo? - perguntei.

-Ah... a minha sala está mostrando uma linha do tempo sobre esportes e me pediram que eu falasse um pouco sobre isso com as pessoas. Estou indo para lá agora. - respondeu.

-Por isso a jaqueta do time hoje... - comentei.

-É... - ele contraiu os lábios. - sabe, eu estou surpreso com a sua presença nesse evento escolar, não querendo ofender, mas me pareceu que você não curte essas coisas. - ele disse.

-É. - suspirei. - não curto muito, mas achei que poderia tentar e estou me divertindo bastante até agora.

-Que bom! - ele disse meio nervoso. - acho que meu irmão também pensou que poderia tentar, mas acho que falhou miseravelmente.

-O professor McWillians? - perguntei o encarando. - ele não veio? - comecei a ficar... Não sei... Era uma sensação estranha, fazia meu coração acelerar, mas também relacionava-se com uns incômodos em minha barriga.

-Não, ele veio sim, mas está em alguma sala dos clubes lendo, ou, seja lá o que ele faz quando está sozinho. - ele riu.

-Ah. - desviei meu olhar para o chão novamente e sorri sorrateiramente.

-Vou para minha apresentação... - ele disse e eu assenti me dirigindo a escada mais próxima, até que sua voz me chamou: - Emily? - virei-me de volta para ele.

-Sim?

-Está bonita. - ele falou contraindo os lábios em um sorriso e mostrando um olhar diferente.

-Obrigada. - respondi meio confusa.

O vi entrar em um corredor em direção a sua sala. Dave McWillians não parecia muito confortável hoje, talvez algo tenha acontecido com ele. Pelo que vejo, ele parece mais um cara namorador e cheio de lábia, mas as vezes, parece ser mais do que isso. Quando estou perto dele, sempre sinto como se ele quisesse algo de mim, mas nunca sei o que é. Tenho muito medo que seja algo que eu não possa dar, como o meu coração, e fico com mais medo ainda pelo meu coração ser algo que eu não possa dar a um jovem da minha idade com um sorriso carismático e uma possível atração por mim.

Lembrando que às fantasias não estão exatamente iguais e também, vocês têm total liberdade para imaginarem da forma que quiserem, né? Kkkk 😘❤️