Dois dias depois daquele ocorrido, comecei a deixar à questão de lado. Só porque ele me deu aquele livro (que, obviamente, eu já tinha um exemplar em casa) e escreveu uma coisa boba sobre meu primeiro dia de aula, não quer dizer que ele vá falar comigo de novo. Ele é meu professor de literatura, nada mais e nada menos, isso e o fato de que ele conheceu minha mãe são as únicas coisas que nos ligam.
Estávamos no vestiário, nos trocando para a aula de educação física que hoje seria sem supervisão do professor e isso facilitaria minha fuga. Eu nunca participo, odeio essa matéria, sou boa apenas teoricamente, o professor sempre me deixa escapar, bem, pelo menos, eu sei que ele sabe que eu fujo sempre, mas também sei que ele não sabe que eu sei.
—Parece que hoje será uma aula divertida! - anunciou Ashley animadamente. - não são muitas reuniões dos professores que nos dão oportunidades como essa. - ela disse sorrindo maliciosamente.
—Eu não sei você, mas eu vou para onde sempre vou nas aulas de educação física. - digo sem olhá-la.
—Sabia que isso é totalmente sem sentido? - ela perguntou enquanto eu colocava meu uniforme da aula. Um short curto, preto e uma blusa branca com o símbolo e o nome da escola. - até para agir como uma delinquente você age como uma nerd. - disse.
—Do que está falando? - perguntei rindo.
—Essa coisa de escapar das aulas de educação física pra ficar na biblioteca, você podia tirar esse tempo para fazer algo realmente insano aproveitar sua juventude enquanto pode! - ela segurou no meu ombro e balançou a cabeça expressivamente.
—Tipo o quê? - perguntei colocando meu casaco escolar.
—Tipo dar uns amassos com o professor de Matemática no banheiro feminino! - ela afirmou de modo enfático. Parecia tão séria que me assustou.
Não sei por que o Sr. McWillians me veio a mente, mas ruborizei na hora com aquela ideia absurda, até porque, nosso colégio tem regras, regras que a maioria dos outros colégios não têm com relação ao contato entre professores e alunos. Ashley sabe disso mais do que ninguém, por isso que essa ideia dela é claramente uma brincadeira na qual ela exagerou.
—Você está exagerando... - falei virando o rosto.
—Não acha o professor de matemática, um deus grego? Principalmente com todos aqueles músculos e números que saem de uma maneira tão sexy da boca dele. - ela gesticulou com as mãos e mordeu o lábio inferior. - Você já notou como na nossa escola tem alguns professores bem charmosos? Será que isso é só por causa do fato de nosso colégio ser bem mais rígido do que os outros nessa questão?
—Hã... não. - virei-me para meu armário e organizei minhas coisas.
O professor de matemática era até bonito, mas com certeza o Sr. McWillians era bem mais charmoso, entretanto, eu não poderia conversar sobre isso com minha melhor amiga, porque é um assunto meio estranho e delicado e, certamente, já passou, além do mais, como ela acabou de dizer, nosso colégio é rígido nesse aspecto.
—Tudo bem... - ela me olhou de uma forma desconfiada. - mas eu achei que você se interessasse pelos professores... - sua voz saiu meio insinuante e eu comecei a ficar nervosa.
—Do que está falando, Ashley? - fechei o armário com uma força desajeitada e a encarei com uma pontada de nervosismo.
—Nada, nada Migles... - ela voltou a sorrir normalmente. - te vejo depois da aula de educação física. - e saiu junto com as outras meninas.
Bati a cabeça no armário meio envergonhada por ter agido como uma criminosa. Eu não fiz nada de mais, mas, mesmo assim, fiquei nervosa e agi como se tivesse feito algo demais.
Cheguei a biblioteca e acenei para a bibliotecária que já me conhecia. Ela me deu um sorriso simpático e uma olhada como se dissesse "você nunca aprende, não é?" sorri de volta como se dissesse um "não" e nós duas rimos. A senhora Mary é uma bibliotecária alegre e bem sabia, às vezes eu converso com ela, e por incrível que pareça, seus 35 anos têm muitas histórias.
Passei por ela em direção aos fundos da biblioteca onde era o melhor lugar para se ler. Os melhores livros, melhor ambiente, melhor luz, e onde as pessoas não podem te ver. Observei bem cada prateleira como de costume, mas quando cheguei próxima a última, escutei um barulho de um livro caindo no chão, andei mais rápido até ela e quando cheguei, me deparei com o Professor McWillians deitado no chão. Ele parecia assustado e fazia uma careta engraçada de dor como se tivesse acabado de acordar brutalmente. Logo, deduzi que estava dormindo ali e um livro caiu nele, o acordando de supetão. Pude ver o livro no chão próximo ao seu estômago.
—Está tudo bem? - perguntei meio tímida.
—Ah... Dan-i, é você. - ele disse parecendo mais aliviado ao me ver. - está tudo bem. - respondeu sentando-se no chão e apoiando os braços nos joelhos. - foi só um susto. - ajeitou os óculos e me encarou contraindo os lábios em um pequeno sorriso. Ele era o primeiro professor que eu via dormindo no chão da biblioteca e isso, com certeza, é estranho.
Seus olhos pairaram sobre as minhas roupas da educação física e ele pareceu incomodando por um momento ou foi apenas impressão minha. Ele pigarreou, desviando a atenção.
—Você não deveria estar em aula? - ele perguntou.
—É que... - pensei na desculpa que poderia dar, mas não sou boa nisso – e o senhor, não deveria estar em uma reunião? - perguntei meio audaciosa e nervosa.
Ele olhou apressadamente para o relógio em seu pulso, parecia mesmo que ele não lembrava. Me olhou com os olhos arregalados por um instante.
—É verdade... – murmurou.
Se levantou apressado pegando os dois livros que estavam no chão; o que ele estava possivelmente lendo antes de dormir e o que havia caído em cima dele. Colocou o segundo na prateleira e manteve o primeiro em mãos. Arrumou suas coisas na sua pasta preta e posicionou a alça dela no ombro, depois passou por mim em direção a porta, mas logo parou como se tivesse esquecido algo ou lembrado de algo. Virou-se de volta e retornou erguendo o livro que tinha em mãos para mim.
—O que é isso? - perguntei sem entender seu movimento.
—Um livro. - disse de modo cômico.
—Eu sei, mas...
Ele me interrompeu, pegando em meu pulso como da primeira vez que nos vimos. Ele colocou o livro em minha mão e disse:
—Estou atrasado, sem tempo para conversa... - e saiu em seguida, sem me dar nem tempo de revogar.
Fiquei sem entender. Dessa vez, o livro era da Agatha Christie, Assassinato no campo de golfe. Tinha algumas imagens sugestivas na capa dura. Analisando apenas o lado de fora, pensei: e se tiver outra observação do lado de dentro. Abri o livro apressadamente e assim como deduzi, havia algo escrito no verso.
Vi Dan-i burlar sua primeira regra na escola: ela não foi a aula de educação física. Dan-i estava na biblioteca, dormindo ao lado de uma pilha de livros. A luz natural do sol atravessava as janelas naquela área, era nitidamente uma visão perfeita. 17\02\2018
Isso não parece coisa de escritor afinal de contas...
Rooi Pessoas kkkkkkk Espero que estejam gostando da história.
Eu só queria deixar claro que os escritos feitos nos livros que o professor entregou a Emily, são do "ano passado" para quem não está entendendo. Eles estão no presente em 2019 e o Professor fez esses escritos em 2018. ☺️
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O Que Há Nas Entrelinhas?
Romance🥇1° lugar na categoria História de amor do concurso Bevelstoke. 🏅4° lugar na categoria Ficção adolescente do concurso Crystais. Emily Dan-i é uma adolescente de 17 anos que perdeu a mãe por conta do Alzheimer. Ela convive com seu pai há 2 anos e o...