Capítulo 26: O suor, as lágrimas ou o mar

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"A cura para tudo
é sempre água
salgada: o suor, as
lágrimas ou o mar."

— Isak Dinesen


Minha próxima lembrança é a gente correndo em direção à floresta. A imagem de Oliver caído sobre os nossos pés não saía de minha mente. Eu, Isabelle e Emma seguíamos juntas em direção às sombras das árvores, como se fosse impossível alguém nos encontrar por lá. — O que está acontecendo? — Minha irmã perguntou algumas vezes, podia sentir sua voz tremula. Sabia que ela deveria estar com medo, porém, explicaria a ela assim que estivéssemos seguras.

Uma vez que entramos mata, me ajoelhei e envolvi Emma com meus braços. — Fique tranquila, minha querida. — Notei que sua respiração estava ofegante, e ao passar a mão por suas bochechas pude sentir as lágrimas caindo. — Estou com você agora, não deixarei que nada nem ninguém os separe outra vez. Só preciso que confie em mim, tudo bem?

Emma assentiu com movimentos curtos, ainda com lágrimas caindo pelas bochechas vermelhas. Estava tão absorta consolando minha irmã, que só fui notar uma movimentação suspeita quando Isabelle me chamou. — Precisamos correr. — Ela disse.

Alguém havia saído pela porta dos fundos da casa dos Taylor, a figura olhava para a margem da floresta como se estivesse à procura de algum sinal. Nós três nos abaixamos atrás de um arbusto de amoras, fiz um sinal para que Emma fizesse silêncio e ela obedeceu sem questionar. — Espera... — Sussurrei, eu conhecia muito bem aquela sombra. Podia acha-lo não importa qual a distância.

Charles caminhava com certa dificuldade pela grama, tentava se apoiar em sua bengala e, mesmo assim, andar o mais rápido possível. Era como se sua dor estivesse em segundo plano. Eu sabia que a expressão de desespero em seu rosto não era causada por sua saúde debilitada, e sim por estar perdendo alguém que amava.

Meu coração palpitava tão forte que conseguia sentir ele bater em diversas partes do meu corpo. Eu tentei não me mover, deixar que ele fosse embora. Porém, quando percebi já estava correndo em sua direção.

Meus passos eram apressados e nada cautelosos. Há momentos na vida que nossas ações estão acima de todas as regras e medos que nos rodeiam, e aquele era um deles. Sabia que os oficiais estavam logo adiante rondando a residência, e o que estava fazendo não era somente perigoso e ingênuo. Era um ato completamente estúpido de duas pessoas desesperadas por um último adeus.

Sua expressão mudou completamente quando ele me viu. Pude vê-lo apressar o passo com certo esforço, tentava coordenar seus movimentos com dificuldade. Porém, quando nossos corpos se tocaram, nada mais parecia existir. Por um segundo pensei que Charles iria cair, mas logo conseguiu se equilibrar e abriu um sorriso entre as lágrimas que caíam. — O que está fazendo aqui? Perdeu completamente o juízo? — Questionei, segurando seu rosto com as mãos. Tocá-lo novamente depois de tanto tempo era como poder respirar depois de um longo mergulho.

— Estão a sua procura, Helene. Podem não ter citado seu nome, mas só existe uma pessoa corajosa o suficiente para salvar uma amiga. — Sua voz estava rouca e embargada pelo choro, o que fez meu coração se apertar.

— Eu sei que estão. — Senti de repente o peso de todos os meus atos inconsequentes. — Fique tranquilo, nós seremos mais rápidas e mais espertas que eles. Não deixarei que nos encontrem, preciso que confie em mim.

— Sabe o que farão se as encontrarem? — Charles se permitiu ser vulnerável, e já não parecia estar com vergonha por chorar na minha frente. — Irão executá-las. Como quer que eu viva sabendo que não ajudei porque estava preso em uma cama?

— Só preciso que confie em mim. — Olhei em seus olhos, era como se estivesse criando a força necessária para o que viria a seguir. Vê-lo diante de mim tão desesperado e desamparado fazia a minha garra aumentar ainda mais.

Amor e Outras GuerrasOnde histórias criam vida. Descubra agora