Capítulo 12: A Guerra Ainda Não Está Perdida

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"Eu quero ser tudo
que sou capaz de
me tornar."

— Katherine Mansfield


Havia uma guerra acontecendo dentro de mim, enquanto o meu lado racional me mantinha o mais afastada possível de Charles, meu emocional lutava pelo simples prazer de poder vê-lo. Meus dias se resumiam em reprimir todo e qualquer sentimento em relação a ele, e é claro, sob a vigilância constante da Sra. Taylor.

Me sentia observada aonde quer que eu fosse, os olhos ameaçadores de Anna Taylor estavam acompanhando cada movimento meu, portanto, no momento estava deixando o lado racional vencer a batalha, simples assim, não havia espaço no meu mundo para uma paixão impossível.

Havia trocado algumas responsabilidades com Isabelle, jurei que explicaria tudo a ela o mais breve possível, mas no momento eu não tinha forças para continuar entregando chá em seu escritório, ou arrumando seu quarto correndo o risco de encontrá-lo a qualquer momento. Seria melhor desse jeito.  — Onde está a Srta. Thompson? — Grace perguntava entrando na cozinha de repente.

— Achei que estivesse cuidando das roupas — respondi casualmente, despejando um pouco de mel em cada xícara de chá.

— Deus! Essa menina vai me deixar maluca, uma hora está bem aqui e de repente ninguém sabe onde ela se meteu! — Sra. Grace saiu pela porta dos fundos enquanto reclamava, mas logo voltou e apontou em minha direção — Leve o chá para o escritório de Charles Srta. White, não deixe esfriar por causa das maluquices de Isabelle, tudo bem?

— Tenho certeza que ela já deve estar voltando! — Tentei argumentar, porém, Grace abriu a boca em uma expressão de espanto.

— Srta. White! Leve o chá imediatamente! — Voltou para o jardim sem dizer mais nada. Esther estava no canto da cozinha cortando batatas para o jantar, me lançou um olhar brevemente e ergueu as sobrancelhas, mas não comentou sobre o assunto. Ótima hora para Isabelle sumir, pensei.

Segurei firme a bandeja de prata, nela continham cinco xícaras de porcelana com desenhos azuis nas bordas, o chá era de hortelã e mel feito especialmente por mim. Respirei fundo antes de sair da cozinha, como se estivesse me preparando para uma batalha. Meu coração palpitava sob o meu peito, parecia sentir um frio na barriga que tomava conta do meu corpo a cada passo que eu dava.

A porta do escritório estava aberta, pude ver Charles de longe assinando alguns papeis e foi como se todo o ar sumisse de meus pulmões. Céus, como eu sentia sua falta. Meus passos ecoavam a medida que batiam contra o piso de madeira, mas não acho que ele me ouviu chegar. — Com licença Sr. Taylor, o seu chá — falei enquanto deixava a bandeja apoiada sobre o aparador ao lado da porta, o aroma de menta contaminou o ambiente imediatamente.

— Srta. White! — Charles parecia ter se surpreendido com a minha presença repentina — Não tenho te visto muito ultimamente.

— Sim, faz alguns dias. — Engoli em seco, parecia que havia um par de mãos segurando minha garganta e me impedindo de respirar. Quanto mais eu o encarava mais sentia meus olhos marejarem, não podia ficar no mesmo ambiente que ele, olhar em seus olhos e não me jogar em seus braços. Precisava sair dali.

— Por onde andou? — perguntou, assim que deixei uma das xícaras sobre sua escrivaninha. Charles ficou me fitando com aqueles imensos olhos azuis esperando uma resposta, cabia um mundo inteiro naquele instante, uma vida inteira onde seríamos felizes como se nada fosse mais simples.

— Estava atolada com o trabalho — menti, sentindo meu coração acelerar aos poucos. Antes que eu pudesse pensar no que mais dizer, ou sequer voltar para a cozinha, ele se levantou e fechou a porta atrás de mim. Estávamos sozinhos. Fiquei imóvel, me recusava a deixar o lado emocional vencer após todo o meu esforço para me manter afastada.

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