Capítulo 23: Por entre o perdão e a coragem

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"Por entre árvores e flores,
O sonho
Por entre a luta e a força,
A derrota
Por entre a pressa e a espera,
A ansiedade
Por entre a vingança e o ódio,
A dor
Por entre o perdão e a coragem,
O amor..."

Gasparetto


Grace permaneceu alguns bons segundos parada, apenas nos encarando, quase como se pensasse estar vendo um fantasma. Meu corpo congelou e por instinto, apertei ainda mais firme a mão de Emma, a puxando para mais perto. — Helene? — Sra. Grace questionou — O que faz aqui?

— Eu... — comecei a falar, porém, não sabia ao certo o que dizer.

— Por acaso perdeu o juízo? Sabe o que acontecerá se alguém a encontrar? — O nervosismo em sua voz era evidente, e sem dúvida eu não iria gostar de causar ainda mais problemas para aquela família. Contudo, precisava continuar meu caminho.

Emma me envolveu no mesmo instante, se escondendo atrás da saia do meu vestido. Devia estar confusa e apavorada. Afaguei levemente seus cabelos, tomando forças para encarar a realidade, não desistiria no primeiro obstáculo que encontrasse.

— Grace, por favor deixe-me ao menos explicar! — Supliquei, temendo que ela saísse correndo antes de me dar a oportunidade de falar. Dei um pequeno passo adiante quando notei sua hesitação, o assoalho de madeira rangeu sob os nossos pés, mas o silêncio continuou por um tempo.

— Sentem-se, — disse por fim, se acomodando em uma das camas — de fato precisamos conversar sobre o ocorrido.

Respirei fundo, sentindo o ar inundar meus pulmões e me acalmar lentamente. Comecei a história do início, desde quando fomos parar no orfanato e vi levarem minhas irmãs, até o primeiro dia que cheguei à Dover. Grace prestava atenção em cada palavra, sempre com uma expressão séria no rosto, que se agravou no mesmo instante quando toquei no nome de Charles.

— Cheguei à esta cidade somente com uma mala na mão, não sabia se reencontraria Emma ou Abigail, se seria feliz outra vez. E Charles me guiou durante todo esse caminho, ele me ajudou a ver que existia força dentro de mim, que eu preciso lutar por aqueles que estão do meu lado. Eu o amo, Grace, tenho plena noção de que ele está sofrendo neste momento, portanto não irei embora daqui sem vê-lo. Não desistirei dele do mesmo modo que ele não desistiu de mim.

De início pensei que seria expulsa daquela casa, Grace fitava a janela pensativa. Pensei que deveria estar digerindo tudo o que eu dissera, o que era perfeitamente aceitável. Permaneci imóvel, torcendo para que ela estivesse ao meu lado.

— Sabe, Charles sempre fora como um filho para mim, — começou, mantendo sua expressão séria — e penso que ele nunca deixará de ser a criança que corria pela casa com uma espada de mentira na mão, é claro, sempre acompanhado de Oliver. Gostavam de inventar brincadeiras o tempo inteiro e, enquanto seu irmão mais novo queria sempre ser o rei, Charles nunca deixou de escolher ser o herói. Ele sempre teve esse instinto com ele, sempre quis ajudar a todos e defender aqueles que ama a qualquer custo.

Um sorriso surgiu inesperadamente em meu rosto, conseguia perfeitamente imaginar Charles ainda criança, correndo por entre as árvores tentando salvar seu povo. Eu entendia o que Grace estava querendo me dizer, ele sempre tivera bondade em seu coração.

— Sabe Helene, penso que ele cresceu com pensamentos diferentes de seus pais. Sempre desejando ver todos felizes, independente de quem fosse.

— Ele não mudou nada, não é? — Respondi, finalmente tomando coragem para falar algo.

— O que eu mais desejo é vê-lo feliz, contudo, trair a família Taylor iria contra os meus princípios. — Começou, fazendo minha esperança se esvair aos poucos. — Cresci nesta mesma casa, meus pais trabalharam aqui, devo muito a este lugar.

Amor e Outras GuerrasOnde histórias criam vida. Descubra agora