"Se não conto meu segredo,
ele é meu prisioneiro. Se o deixo
escapar, sou prisioneiro dele."— Arthur Schopenhauer
Minhas mãos seguravam firme a cintura de Isabelle conforme cavalgávamos em direção à cidade, e meu coração batia tão rápido quanto o cavalo em que estávamos montadas. Ainda não sabia exatamente qual era o plano que íamos seguir para entrarmos no sanatório, muito menos se iríamos conseguir alguma informação, mas a curiosidade fervia dentro de mim. Precisava saber o que era aquela sombra.
Quando nos aproximamos da praça principal, saímos do cavalo e o deixamos preso junto aos outros. Havia bastante gente passeando por ali, algumas famílias brincavam na beira no lago, outras caminhavam sob o sol, parecia o lugar perfeito para aproveitar a tarde — Uma antiga conhecida minha é enfermeira no sanatório, acho que ela pode nos ajudar — Belle disse com uma voz empolgada enquanto entrávamos pelo portão da praça.
— Então o que estamos fazendo aqui? — Franzi a sobrancelha, me virando para encará-la. Não tinha tempo para passeios, precisávamos voltar antes que sentissem nossa falta.
— Não podemos simplesmente pedir um passeio pelo sanatório, não é? — Isabelle rolou os olhos, enquanto segurava meu braço e me obrigava a caminhar ao seu lado novamente — Sei que na parte da tarde algumas enfermeiras de lá tem uma hora de descanso, qual melhor lugar para isso do que a beira do lago?
Parecia que ela havia realmente pensado em todos os detalhes, agradeci mentalmente a Deus por ter uma amiga tão inteligente e disposta a me ajudar. Andávamos devagar como se estivéssemos passeando em uma tarde ensolarada, o frio estava começando finalmente a ir embora, e o calor tomava seu lugar aos poucos. — Não olhe agora — Isabelle sussurrou, assim que nos sentamos em um dos bancos embaixo da macieira — ela está sentada do outro lado do lago, bem, é a única com uniforme de enfermeira, está vendo?
— Acho que sim — cobri a claridade com a palma da mão em uma tentativa de ver com mais clareza. A moça parecia ter a nossa idade, seu vestido era branco com listras verticais azul claro que iam até o pé, por cima um avental simples e um pequeno chapéu. Impossível não reconhecer, mesmo de longe — O que faremos?
— No momento nada, precisamos esperar — franzi a sobrancelha na mesma hora, o que ela estava pensando? Que tínhamos todo o tempo do mundo em nossas mãos?
— Está louca? — Protestei algumas vezes, apesar de nenhuma delas ter adiantado. Em um dia comum eu adoraria passar o tempo com Isabelle na beira do lago, enquanto jogávamos conversa fora e brincávamos com as pétalas das flores em nossas mãos. Porém, era um dia de trabalho, e cada minuto que passávamos ali era crucial.
— Helene, confia em mim, precisamos abordá-la no momento certo — rolei os olhos impaciente, meu coração continuava acelerado, não sabia se era por causa da adrenalina de estarmos fazendo algo que não deveríamos, ou do medo caso fossemos pegas pela Sra. Taylor.
— Acho que ela está indo embora — falei, assim que vi a moça se levantar. Isabelle me segurou pela mão, me arrastando em direção aos portões. Ficamos alguns minutos atrás de uma árvore, enquanto esperávamos a mulher passar, e de repente todo o plano fez sentido para mim. Céus, ela era mesmo esperta.
— Agnes! — Belle exclamou animada, dando alguns passos para alcança-la. Encostou delicadamente no ombro da moça, que se virou com um sorriso ao reconhecer a amiga.
— Belle, que saudade! — Elas se juntaram em um abraço apertado, como se não se vissem há anos. — Gostaria tanto de poder ficar, mas infelizmente preciso voltar para o trabalho.
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Amor e Outras Guerras
Historical FictionNo ano de 1852, na Inglaterra vitoriana, Helene White enfrenta a dura realidade da vida após a perda de seus pais e o distanciamento de suas irmãs mais novas. Sozinha e desamparada, ela é forçada a passar um ano sombrio no orfanato de Londres, onde...