Capítulo 8: Laços Desfeitos

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"O que era isso,
que a desordem da
vida podia sempre
mais que a gente?"

— Guimarães Rosa


As árvores se fechavam a minha volta como se eu não tivesse saída, precisava chegar até a casa dos Taylor o quanto antes. Meus pés avançavam o mais rápido que eu conseguia, porém, era difícil correr desviando das árvores e olhando para trás ao mesmo tempo. Havia alguém me seguindo, podia ouvir seus passos se aproximando cada vez mais. O vento vinha na minha direção, bagunçando meus cabelos e meus pensamentos. Quem era aquele homem? Por que estava ali? O que ele queria? Meu coração acelerou enquanto o medo me dominava aos poucos. Eu não podia morrer ali, não daquele jeito, pensei.

Um calor subia pela minha garganta, estava ficando ofegante. Diminui o passo e levantei a saia do meu vestido azul para pular um tronco de árvore que havia caído, foi quando ela agarrou em alguma parte da madeira e fiquei presa. Precisava dar um jeito naquilo o mais rápido possível, nem queria pensar no que aconteceria se o homem me alcançasse. Os pássaros cantavam e voavam de um lado para o outro, a floresta continuava viva, não se importavam que eu estava perigo. Puxei minha saia com força, deixando um rasgo na barra e um pedaço de tecido perdido na mata.

Podia ver seus olhos, eram castanhos. A barba estava por fazer e a roupa surrada, definitivamente não parecia amigável. — Não adianta correr moça — falou, em um tom pesado e grave que paralisou meus músculos por alguns segundos. Dei passos fracos e curtos para trás, ouvindo o farfalhar das folhas sob os meus pés. O inverno estava chegando.

— O que você quer? — perguntei, sentindo algumas lágrimas umedecerem os meus olhos. Ele sorriu. Tirou uma faca de dentro do bolso e voltou a se aproximar.

Minhas pernas tremiam tanto que nem sei como mas comecei a correr novamente, devia estar perto da casa dos Taylor então tentei gritar por ajuda. Gritei algumas vezes o mais alto que pude, até minha garganta começar a arranhar.
Tropecei em um galho de árvore caído entre as folhas amarelas e minha visão ficou turva, pisquei lentamente enquanto fitava o topo das árvores. É isso, pensei. Vou morrer. Tudo ficou escuro.

Havia uma movimentação à minha volta. Sussurros. Passos. Uma brisa batendo em meu rosto. Cheiro de torta de maçã. Estava viva. Levantei bruscamente e me situei por alguns instantes, era a cozinha dos Taylor, me encontrei sentada na cadeira perto da despensa com Grace me encarando de perto. — Helene? — Ela perguntou, passando a mão por meus cabelos de forma carinhosa. — Você está bem? Pode me ouvir?

Pisquei lentamente, olhando para os lados e encontrando praticamente todos ali em pé. Me encarando. Assenti com a cabeça, voltando os meus olhos para Grace.

— Andem, voltem todos ao trabalho! — Ela gritou, indo até o fogão e colocando um pouco de chá de maçã em uma caneca. — Beba isso filha, vai se sentir melhor. — Tomei um gole, sentindo o líquido quente me aquecer por dentro.
— Estou bem — murmurei, vendo a porta da cozinha se escancarar e fazer um estrondo quando bateu contra a parede.
— O que aconteceu com ela? — Isabelle correu em minha direção, colocando delicadamente a mão em minha testa — Está doente? Não parece febril, não pode ser nada perigoso não é? — Falou de forma atropelada, se sentando ao meu lado e me puxando para um abraço.

— Ora, ela não está doente. Ouvimos gritos vindo lá de fora, e quando fomos conferir a Srta. White estava estatelada no chão. Pobrezinha, deve ter tropeçado e batido a cabeça. — Grace respondeu parecendo preocupada.
— Havia alguém me seguindo.
— Tropeçou e bateu a cabeça? Bem, Helene é um pouco desastrada mas é forte como um touro. — Belle me ignorou completamente.
— Alguém estava me seguindo! — Aumentei o tom de voz, percebendo todos virarem as cabeças em minha direção. — Um homem, estava segurando uma faca.
— Deve estar delirando, andem, sirvam mais um pouco de chá! — Grace afirmou, pegando minha caneca e a estendendo para Esther.
— Não estou delirando! — exclamei — Encontrei um homem perto do arbusto de crisântemos, pude ver seus olhos, sua barba, suas roupas, ele era real.
— Acredito em você Lene. — Isabelle me apertou em um novo abraço, acariciando meus cabelos devagar. — Está tudo bem, não precisa falar disso agora.

Amor e Outras GuerrasOnde histórias criam vida. Descubra agora