Capítulo 10: Há Um Brilho Em Tudo

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"O problema do silêncio
é que ele fala muito."

— Alexandre Guimarães


Me sentia encurralada, como um pequeno animal assustado na floresta, olhando para os perigos a sua volta sem ter para onde fugir. Precisava de um amigo para desabafar sobre as últimas semanas, e a única pessoa em que eu confiava de olhos vendados continuava a não falar comigo. Por um momento pensei em conversar com Charles, afinal Dylan poderia tornar suas ameaças reais a qualquer instante, porém no momento eu não possuía forças nem para olhar em sua direção. Minhas bochechas coravam sempre que nos esbarrávamos ou meus olhos encontravam os seus, me sentia uma tola. — Srta. White! O chá! — Uma voz fina e claramente irritada alcançou meus ouvidos, me obrigando a sair de meus devaneios enquanto estávamos servindo o chá da tarde.

— Oh, certamente Sra. Taylor, mil perdões. — Me apressei com o bule quente entre as mãos, estava no limiar entre adormecer ou queimar minha pele, mas eu podia aguentar a dor.

— O que deu em você menina? — Perguntou parecendo indignada enquanto sorvia um gole da bebida de maçã e canela. — Sinceramente, quebrando louças e se distraindo deste jeito não irá durar muito mais tempo por aqui. — Assenti com a cabeça, não teria como argumentar, não com Anna Taylor.

— Ora mamãe, releve. Ela ainda está se adaptando com a rotina. — Charles se intrometeu em minha defesa enquanto sentia meu sangue gelar, os olhos da Sra. Taylor se moviam como se estivesse encaixando peças de um mapa perdido. Eu não gostei nem um pouco do sorriso maldoso que surgiu lentamente em seus lábios.

— Que orgulho ter um filho com tanta empatia pelos nossos inferiores, você tem mesmo um coração de ouro, não é Srta. White? —Anna Taylor se virou em minha direção como se me desafiasse a mexer um músculo sequer. Não respondi nada, voltei para minha posição e me mantive alheia ao resto da conversa até o fim do serviço. Era melhor estar invisível.

Assim que cheguei à cozinha me encostei na parede gelada e respirei fundo, parecia estar prendendo a respiração há horas. Fechei os olhos, deixei com que meu coração desacelerasse aos poucos enquanto inspirava de forma lenta. Estava tudo certo, repetia mentalmente para mim mesma. Tudo se resolveria, era no que eu precisava acreditar. — Você está bem? — A voz de Isabelle soou tímida e arrastada.

— Sim, só estou com um pouco de falta de ar. — Menti, enquanto nos encarávamos por alguns segundos. Ambas parecíamos ter tanto a dizer, e ao mesmo tempo tão pouca iniciativa.

— Anna Taylor foi bem dura com você durante o chá. — Ela comentou casualmente, me olhando somente com o canto dos olhos. Deixou uma pilha de louças sujas sobre a bancada de madeira gasta e se virou em minha direção.

— Ora Isabelle, um pouco de provocação não é nada. — Ajeitei o avental do uniforme, sentindo a textura do linho sob minhas mãos. Abri um sorriso forçado, queria parecer forte, não queria que ninguém notasse que eu estava abalada.

— Bem, certamente, mas me pareceu um pouco injusto. — Ela me consolou com um sorriso fraco, deixando a mão sobre a cintura e os cabelos levemente bagunçados embaixo da touca. Deus, como eu sentia falta dela.

A nossa amizade melhorou depois disso, talvez ela tenha se sensibilizado com a minha situação, ou então estava sentindo tanto a minha falta quanto eu sentia a dela. Era difícil se acostumar com uma rotina ao lado de alguém, e de repente não poder mais ser a mesma. Fomos bastante tolas desperdiçando nosso tempo com brigas e orgulho.



Dylan não sumia de vista. Quem sabe fosse de propósito, ou talvez ele simplesmente estava onde não devia, a questão é: a todo momento seu rosto estava lá para me lembrar que ele sabia meu segredo, que era capaz de acabar com a minha felicidade em um instante. Podíamos estar pendurando as roupas molhadas, cortando legumes para o almoço, arrumando os quartos da ala oeste, eu não conseguia me livrar de seus olhos.

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