Capítulo 25: Passo a passo

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"Passo a passo
O mundo se fez
Passo a passo
Eu apareci
Passo a passo
Eu andei
Passo a passo
Eu falei
Passo a passo
Eu errei, caí, levantei
Passo a passo
Eu conquistei
Passo a passo
Eu descobri
Que passo a passo
Tudo já passou"

Gasparetto


O farfalhar das folhas secas sob os meus pés começara a me irritar algumas milhas atrás, andávamos em silêncio por entre o bosque já fazia um tempo, contudo, era quase possível ver a entrada da residência dos Taylor em meio aos galhos e a vegetação. Por dentro, eu me contorcia de ansiedade, e, sem perceber, apertei com um pouco mais de força a mão de Isabelle, que retribuiu o gesto.

Enquanto pensávamos em um plano, precisei travar uma batalha para que Belle não saísse em disparada para casa dos Jones, a fim de ver se a Srta. Amélia estava bem. Fora necessário insistir que não tinha como continuar sem antes buscar minha irmã, Emma, e esta era uma ideia a qual eu não abriria mão. Não a perderia uma segunda vez.

Notamos uma carruagem da guarda oficial de Dover passar em disparada pela estrada, por entre a mata densa consegui perceber que estavam com pressa. A essa altura, a notícia sobre a fuga já havia se espalhado por toda a cidade. Rezei algumas vezes durante o trajeto para que não encontrassem Emma, ou então, caso a achassem, que não soubessem do nosso parentesco.

— Vou esperá-la aqui no bosque, seja rápida Lene. — Isabelle me encarava séria, com os cabelos bagunçados e as bochechas coradas por causa da caminhada. — Entre, encontre sua irmã, e volte para cá. Certo?

— Eu serei o mais rápida que conseguir. — A abracei forte, era bom poder tê-la ao meu lado outra vez, como seria ruim viver em um mundo sem Isabelle Thompson como minha companheira e amiga.

Atravessei o bosque em direção à casa dos funcionários, sentia meu coração palpitar, como se a qualquer momento fosse ser pega de surpresa por alguém. A sala estava silenciosa, o piso de madeira rangia sob os meus pés, e seu barulho parecia mil vezes mais alto que o normal. Pedi a Deus para que não houvesse ninguém ali, tudo o que eu precisava era encontrar Emma e voltar para a floresta.

Subi as escadas o mais rápido que pude, enquanto as anáguas do vestido se embolavam em meus pés. — Emma, acorde! — Falei apressada, abrindo a porta com certa agilidade. Foi quando notei que não havia ninguém no quarto, não existia nada ruim o suficiente que não poderia ficar pior.

Percorri os corredores apertados da casa dos funcionários, sentindo um constante cheiro de poeira e mofo, já não me importava tanto em ser vista. Ela não estava em nenhum lugar daquela casa. Parei no topo da escada velha e me apoiei no corrimão, tendo uma vista clara da residência dos Taylor pela janela.

Antes de tudo troquei de uniforme, após atravessar uma floresta eu já não podia garantir que passaria despercebida na casa dos Taylor. Joguei o amontoado de tecido sujo e rasgado no canto do quarto, e vesti o uniforme reserva de Isabelle, o qual ainda estava no fundo do armário. Se minha irmã não estava ali, só poderia estar com Grace na casa principal.

— Sra. Harris! — A chamei assim que entrei na cozinha da residência principal.

— Shh! Fale baixo, está perdendo o juízo? — Largou as panelas imediatamente e veio ao meu encontro, no mesmo instante em que duas moças que usavam o mesmo uniforme entraram carregando bandejas.

— Onde está Emma? — Perguntei sussurrando, enquanto me virava de costas para as duas jovens que seguiam para a dispensa. Não as conhecia, e seria melhor não deixar que me vissem.

— Bem, ela estava agora mesmo brincando de organizar os botões da caixa de costura! — Surgiu uma ruga entre seus olhos, e então ela passou reto por mim, esticando o pescoço para espiar a sala de jantar pela fresta da porta. — Fique calma, ela não deve estar longe, vamos encontrá-la!

Amor e Outras GuerrasOnde histórias criam vida. Descubra agora