Capítulo 13: Na Luta Por Uma Justa Sobrevivência

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"Ela disse:
— Ousadia é ser eu
mesma em um mundo
onde as pessoas inventam
versões minhas."

— Zack Magiezi


Meus passos eram lentos e cautelosos, a escuridão que se instalou na floresta me impedia de enxergar um palmo sequer a minha frente. Podia escutar o vento assobiando por entre os galhos, o farfalhar das folhas sob meus pés e uma coruja que insistia em cantar continuamente.

Assim que cheguei ao local combinado, uma clareira que havia perto da casa dos funcionários, percebi que Isabelle ainda não estava lá. Cruzei os braços em uma tentativa de me proteger, estar sozinha na floresta novamente me causava um medo familiar, me recordava do dia que havia sido perseguida e escapado por pouco.

Olhava em volta repetidas vezes na tentativa de procurar uma sombra, um barulho, qualquer sinal de que ela já estava se aproximando, mas não conseguia ver nada além do vazio. De repente um par de mãos envolveu meus pulsos e os puxou para trás, fazendo todo o ar que havia em meus pulmões desaparecer — Parece que você está em perigo mocinha. — Uma voz feminina que eu conhecia bem chegou em meus ouvidos afim de me assustar, mas eu não tinha medo dela.

— Deus! Você me assustou! — Pensei que iria me soltar para podermos conversar, ou que me mostraria fosse lá do que seu segredo se tratava, só que suas mãos ainda me seguravam com força.

— Se quiser ser solta terá que fazer o que eu disser. — Isabelle sussurrou em meu ouvido, fazendo um arrepio percorrer todo o meu corpo.

— Ora, pare com isso — argumentei, apesar dela não parecer ligar para as minhas suplicas.

— Gire seu pulso de dentro para fora — insistiu, com uma voz tranquila e empolgada, enquanto eu, relutante, seguia suas direções — Ótimo! Essa foi a sua primeira lição.

Havia conseguido me desvencilhar facilmente com as suas orientações, não era capaz de compreender como Belle podia saber daquilo. Mulheres não tinham conhecimento sobre tais coisas, ainda mais com a nossa posição. — O que é isso? — Questionei.

— Bem, primeiro de tudo você precisa me prometer que irá manter isso em segredo! — Apontou em minha direção com os olhos arregalados por conta da empolgação, assim que assenti com a cabeça ela continuou — Quando eu era pequena meu pai me ensinou algumas poucas coisas sobre como se defender. Ele costumava dizer que vivemos em um mundo muito cruel, e que um dia, quando ele partisse, eu ainda teria comigo uma parte dele para me proteger. E agora estou passando para você, quero que saiba se cuidar também Lene.

Não posso negar o quanto fiquei maravilhada com toda a situação, veja bem, eu sempre admirei Isabelle, e naquele momento minha consideração por ela só aumentou. Passamos horas na clareira enquanto ela me ensinava todos os golpes que sabia, não eram muitos, mas certamente da próxima vez que alguém me encurralasse, eu saberia o que fazer. — Você é uma mulher incrível, sabia? — Perguntei, quando ambas caímos no gramado exaustas.

— Ora, pare com isso, você é uma boa amiga, é o mínimo que posso fazer para retribuir. — Ela abriu um sorriso ofegante e notei que seus cabelos estavam úmidos de suor.

— Eu posso confiar em você, certo? — Perguntei, deixando toda a empolgação do momento tomar conta de mim, Belle assentiu rapidamente com a cabeça sem mover os olhos um segundo sequer. Acabei contando a ela sobre a sombra, sabia que não poderia entender aquilo sozinha e que precisaria de alguém de confiança para me ajudar. Não havia ninguém mais apto para o cargo do que ela.

— Quando a viu pela última vez? — Questionou, apoiando a cabeça em uma das mãos enquanto ainda estávamos deitadas na grama.

— Fui a mercearia buscar suprimentos para Grace, você sabe, no mesmo dia do incidente com Dylan. Decidi segui-la para ver até onde iria, só que desisti assim que a coisa se aproximou do sanatório. — Isabelle se sentou em um piscar de olhos.

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