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"A questão é que Deus nunca parou de falar. Ele apenas diminuiu o tom de voz para aumentar a sua atenção e sua curiosidade. Deus sempre tem algo a dizer, mas você precisa aprender a ouvir...".¹
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Ohana só foi liberada no fim do outro dia, ela ficou feliz com isso, por ter ficado mais tempo ali. Evan queria ter certeza de que ela ficaria bem e também ficou com pena dela, porque qualquer um conseguia ver que ela não queria voltar para o orfanato.
Ela tinha parado de tossir e não estava mais sentindo dor, então Flora veio acompanhada da diretora do orfanato para que ela fosse liberada. A diretora não gostava da menina, mas era uma lista muito grande de pessoas que não gostavam de Ohana, então isso já não era relevante.
Evan se despediu e Ohana apenas acenou de volta. O doutor sentiu um aperto no coração, e até pensou na possibilidade de adotá-la, mas a esposa nunca iria aceitar...
Ele e Sara já tentaram ter filhos, mas a esposa era estéril. Já haviam falado sobre adotar, mas sua mulher desistiu. Essa história machucava muito, principalmente a Sara, que sempre quis ser mãe e se sentia culpada por não poder dar isso ao Evan.
Ela orou muitas vezes. Durante anos ela chorou, gritou, prometeu mudar e ser uma cristã melhor, porém nada aconteceu. Ás vezes é assim, parece que as respostas nunca chegam, mas elas vem... Talvez de maneiras inusitadas, mas no fim são até melhores do que o que pedimos.
Para ela, seria estranho adotar... Ela queria poder carregar aquela criança durante nove meses ou pelo menos presenciar seu nascimento... Sara se sentia egoísta por pensar assim, mas era uma ferida profunda demais para entender sozinha. Não podemos julgar as pessoas tão facilmente, pois a dor do outro nunca vai ser como a sua dor, e vice versa.
(...)
Ao chegar no orfanato, muitos ficavam olhando para Ohana. A diretora disse que quando ela melhorasse, iria ficar de castigo por ficar subindo em árvores como uma criancinha.
Flora levou a menina até o quarto. As outras meninas estavam lá, olhando torto para Ohana. A professora fez questão de dar uma bela encarada nelas, para que não aprontassem.
Ela escondeu o rádio embaixo do travesseiro, para a menina poder escutar as músicas e as notícias. Saiu e suspirou bem fundo... Ela queria poder fazer mais, porém isso estava fora de seu alcance.
-Eu achava que o Stitch tinha caído de uma nave espacial, não de uma árvore... – Carla disse as outras meninas riram.
Ohana pegou sua toalha e suas roupas e decidiu tomar um banho quente, que era um dos poucos privilégios que se tinha ali.
Depois de tomar banho e se vestir, ela se olhou no espelho do banheiro. As meninas sempre diziam que ela era feia e esquisita, mas a jovem não pensava assim... Na verdade, olhar para si mesma, era como olhar para a mãe, pois as duas se pareciam muito. Ohana não tinha fotos, nem recordações de sua mãe, apenas pesadelos e memórias pela metade.
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Sussurro
SpiritualEsta história é um pouco diferente do que estamos acostumados a ler, pois é muito mais que um conjunto de textos e cenas que te fazem rir ou refletir. Ohana Mali é uma menina extraordinária, por mais que não se veja isto em seu interior. Quando ela...