Capítulo 1

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- Eu não quero te dar!

- Se você não me der, vou contar pra todo mundo.

Olhei incrédulo para Lino, tinha aquele sorriso brilhante mesmo depois de receber alguns empurrões e tapas desnecessários. Não é que eu seja egoísta, só não tenho interesse em dividir minhas coisas com as pessoas, assim como não me interesso pelo que elas tem a oferecer. Por causa disso eu procurei ir para o lugar mais isolado do colégio afim de comer minha comida em paz, só não esperava ser interrompido pelo maior pidão da escola toda, Lee Minho.

E vamos contar alguns fatos, eu sou o maior pão duro da escola - depois do professor Jung -, logo o mendingo e o negador juntos num lugar com comida definitivamente não seria boa coisa.

E realmente, eu partiria pra cima e mandaria ele ir embora de vez, mas o infeliz além de ser absurdamente bonito também tem um cérebro que funciona e me ameaçou contar para todos os pidões da escola que eu havia trazido algumas sacolas extras de chicletes. Eu não estava louco para perder as minhas fontes de energia tão rápido, comprei os doces no meio do caminho pro colégio afim de que o açúcar me mantenha acordado o dia todo.

Então a contra gosto eu teria que aceitar as condições do pidão barra chantagista Lee Minho.

Assim que entreguei uns dois ou três chicletes para Lino, enfiei a bolsa no bolso do meu moletom e olhei para ele irritado.

- Satisfeito? Agora você já pode ir embora. - Sorri cínico, pronto para contar o meu troco e afogar a raiva num sonho de padaria qualquer.

- Não se sente mal de negar as coisas assim não? - Lino abriu um dos chicletes e colocou o resto no bolso, ainda estava sorridente e parecia que não ia me deixar em paz tão cedo.

- Eu não ligo, não te pedi nada antes.

- E se eu te oferecesse algo antes?

- Eu não teria pedido, então que se dane. - Bufei e tateei as mãos pelas calças, tirando do bolso traseiro meu celular.

Havia uma mensagem de Changbin me pedindo para encontrar ele e o Chan na saída depois das aulas, não fiz questão de responder e joguei o celular no bolso do moletom também. Lino havia parado de me encarar e ficou olhando para seu reflexo no espelho.

Estávamos dentro do banheiro.

Me encarei também. Eu estava com uma presilha de joaninha prendendo a franja para o lado, minha mãe colocou isso em mim e eu esqueci de tirar, provavelmente o pessoal estaria me achando ridículo. Ri de mim mesmo enquanto tirava a presilha e colocava no bolso da calça.

- Estava fofo, tirou por que? - Lino me encarou pelo reflexo e eu comecei a arrumar a minha franja.

- Porque eu quis.

- Grosso.

Sorri de lado para meu próprio reflexo e sai andando pra fora do banheiro. Provavelmente o sino já estava pra bater, e eu odiava chegar em cima da hora porque os alunos ficavam iguais baratas tontas se empurrando.

Me apressei e entrei dentro da sala de aula, havia apenas alguns alunos e o professor já estava sentado atrás do birô lendo uma revista qualquer. Me sentei no meu lugar e apoiei o rosto no punho.

Eu e Lino não somos só colegas, entretanto não posso dizer que somos muito próximos. Na verdade eu o conheci por causa de Changbin que fez amizade com ele para dar em cima do Félix. Changbin e Chan foram os meus únicos amigos durante o jardim de infância até o oitavo ano do fundamental, quando eu finalmente consegui me soltar mais um pouco e fazer outros amigos. No entanto isso não significou muita coisa pra mim, eles continuavam sendo as únicas pessoas importantes então os "amigos" que eu havia feito se afastaram pelo simples fato de que eu era egoísta demais.

Eu não me importei, mas quando chegamos no ensino médio, os meninos começaram a montar uma tropinha e eu tive que fazer parte disso. Não que eu esteja achando ruim, na verdade nenhum deles me incomoda muito então por mim estava tudo bem; e eu estava de certa forma feliz porque os meus gays favoritos finalmente haviam encontrado pessoas para paquerar. Changbin engajou no Félix bem rapidinho, os dois viviam jogando cantadas um para o outro a todo momento, qualquer solteiro choraria de carência perto daquele grude.

Chan recentemente anda suspirando a todo momento que o Seungmin passa, e o Seungmin é amigo do Hyunjin vulgo grude do Félix futuro namorado do Changbin. Talvez seja um pouco confuso a forma que tudo parece interligado, mas sei lá, é a vida.

Ouvi o sinal tocar e me preparei para mais algumas horinhas de aula.

••∆••

Por algum motivo eu odiava o fato de que os alunos não sabiam se organizar toda vez que o sinal batia, o fato de que saíam se empurrando até o lugar desejado me deixava extremamente irritado, por isso eu preferia sair antes ou depois de todo mundo. E quando as aulas acabaram eu fiquei dentro da sala de aula esperando a multidão ir embora.

Quando finalmente os alunos se dissiparam eu me despedi do professor Jung, que ignorou o meu bom final de semana e continuou a recolher as suas coisas. Não o julgo, ver a cara de um de seus alunos problemáticos deve ser como o inferno. Caminhei calmo até a saída onde provavelmente Changbin e Chan estariam me esperando, e o que eu encontrei foi praticamente a tropa toda no portão da escola, parecia que tinha uns noventa e sete meninos berrando um pro outro.

Me aproximei com a melhor cara de tédio que eu tinha e o Chan veio logo passando o braço pelos meus ombros, estava todo sorridente e de peito estufado. Chan era como um pequeno bichinho orgulhoso, e adorava tudo o que fazia, principalmente quando essas coisas eram feitas para Seungmin. Lembro-me de que Chan fez um cover para Seungmin e ele ficou se gabando dos elogios por uma semana. Changbin que é a pessoa mais amorzinho entre nós três queria tacar um tijolo na cabeça dele, eu não estava tão diferente mas manti a pose.

- Han! A gente vai para o shopping combinar umas coisas pro fim de semana - Chan disse animado, seus olhos de vez em quando indo em direção a Seungmin que estava conversando calmamente com Jeongin e Hyunjin.

- Eu já tenho tarefas para o fim de semana.

- O que você vai fazer?

- Vou ficar muito ocupado em casa dormindo - Chan me olhou com a melhor cara de reprovação.

- Você vai com a gente - Ele diz e me puxa para perto dos outros, Lino também estava lá encenando alguma coisa que tinha haver com anime junto à Félix.

Changbin estava praticamente se mijando de rir olhando para os dois.

- Gente, o Jisung chegou a gente já pode ir - Chan me empurrou para o meio da roda que começou a fazer seus grupinhos dentro do próprio grupo.

Bufei pegando um dos meus chicletes e seguindo junto com eles. O que custava me deixar em casa sozinho aproveitando o cartão do meu pai pra comprar pizza? Não custava nada, na verdade nem sei porque esse pessoal doido queria me levar pra fazer atividade social no fim de semana. Chan mais do que ninguém sabe que eu odeio sair, e qualquer coisa me estressa, nem sei como ele ainda é meu amigo.

- Me dá mais uns? - Lino brotou do meu lado sorrindo como de costume.

- Eu já dei, não enche meu saco - Inflei as bochechas irritado olhando fixamente para a calçada.

- Pessoal o Jisung te-! - Tapei a boca de Minho o mais rápido que pude enfiando alguns chicletes com papel na boca dele, estava fervendo de ódio.

- Vá à merda!

Chicletes • Minsung Onde histórias criam vida. Descubra agora