Capítulo 9

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Estava pairando um clima estranho entre nós oito.

E eu estava profundamente chateado e confuso.

Eu não sei qual foi o momento exato que aconteceu, na verdade eu estava perdido e não fazia noção do tempo. Mas quando acabamos de comer, boa parte dos meninos haviam ido brincar com outro grupo estranho de adolescentes que resolveram pular corda. Ficamos apenas eu, Minho, Felix e Seungmin sentados na grama esperando o tempo passar para voltar pra casa. Eu ainda estava me sentindo mal, e ficar do lado de fora de casa não estava me ajudando e absolutamente nada, mas não comentei com ninguém. Havia deitado a minha cabeça no colo de Minho que começou a me fazer cafuné e nós quatro ficamos conversando e fazendo brincadeiras bobas vez ou outra.

Até Seungmin propôr um beijo entre eu e Minho, obviamente eu reagi de forma negativa. Eu nunca beijei na vida, não sei de nada sobre isso, e digamos que com Minho isso seria um tanto estranho pra mim, tendo em conta que passamos a ser bons amigos depois daquele "encontro". Na verdade, não sei exatamente se é isso que eu sinto, talvez não esteja sendo honesto comigo mesmo. A questão é que no fim das contas o beijo rolou.

Não houve mão boba, não houve língua, foi apenas encostar lábio no lábio e eu sei que Lino estava esperando por mais alguma coisa porque pude sentir sua língua encostar meus lábios como se pedisse por mais, mas eu não consegui manter isso por muito tempo e me afastei. Eu não me senti nada bem com aquilo, Seungmin pareceu um pouco sem graça e Felix também ficou esquisito com o clima. Eu e Lino nos encaramos por bastante tempo, eu estava com vergonha, mas também estava chateado com alguma coisa que eu ainda não entendi.

E como se não bastasse, eu fui bobo o bastante pra perguntar o que Minho havia achado disso, e tudo que ele me disse foi "isso não foi um beijo, Jisung". E essa era a pior resposta que alguém poderia dar para uma pessoa que acabou de perder o BV.

Foi com isso em mente que acabei ficando irritado com Lino, discutimos sobre algumas coisas e eu chamei Chan para voltarmos a ir pra casa. Como se não fosse suficiente o clima entre eu, Lino, Felix e Seungmin, meu mal humor pôde ser sentido pelos outros também que acabaram se misturando com a aura pesada que estava nos envolvendo.

Por causa disso eu estava em casa querendo dormir a todo custo, mas os pensamentos desse momento não paravam de se repetir várias vezes na minha cabeça. Eu sequer entendia porque fiquei tão chateado com algo desse tipo, não lembro qual foi o momento que passei a me importar com o que os outros acham dos meus feitos. Eu nem tinha me dado conta até aquele momento.

Nós havíamos colocado colchões no espaço da sala e arrumado posições confortáveis agora todo mundo deitar, eu havia tomado algum remédio para dores e fiquei esperando esse tempo todo para dormir ainda sem sucesso. Eu sabia que ainda havia gente acordada tentando cochilar assim como eu, mas estava incapaz de proferir alguma palavra.

E naquele momento, encarar o Yin pendurado no meu pescoço nunca foi tão... Como posso dizer? Frustrante?

Me embrulhei no meu cobertor e levantei olhando para os meninos, Chan estava de olhos abertos e olhou para mim assim que levantei.

- Onde vai, Sung? - Perguntou num sussurro.

- Chan... Você pode dormir comigo no quarto dos meus pais? Não quero ficar aqui, mas não quero dormir sozinho...

Chan me olhou assentindo levemente com a cabeça e se levantou, deixando seu cobertor com Seungmin que dormia de boca aberta ao seu lado. Nós dois caminhamos em passos lentos e cuidadosos até o quarto dos meus pais. Eu adorava dormir lá quando estava desocupado ou quando me sentia mal durante as tardes, meus pais nunca viram problemas, contanto que não fosse quando estavam lá, não haveria porque não deixar. Eu achava acolhedor pra mim, e confortável. Me deitei na cama e Chan fez o mesmo, logo tratei de dividir meu cobertor com ele e abraçá-lo por baixo das cobertas.

Chan tinha um abraço tão acolhedor.

- Você não está bem.. - Chan começou enquanto passava sua mão pelo meu cabelo. - O que aconteceu enquanto eu estava jogando?

Como diria a Chan o que houve se não poderia chamar aquilo de beijo? Eu me sinto tão envergonhado por isso.

- Dei um selinho em Minho, e as coisas ficaram estranhas... Desculpe por isso.

- Não tem que se desculpar. - Chan suspirou e deixou que eu colocasse minha cabeça sob seu ombro. - Melhor você tentar dormir e amanhã podemos conversar melhor.

- Sim... - Concordei fechando os olhos, mas não consegui pegar no sono.

Eu e Chan ficamos acordados durante a madrugada calados encarando o teto do quarto. Era possível apenas ouvir os grilos tocando, as nossas respirações serenas, e mesmo com tanta tranquilidade meu interior estava como uma turbina. Uma ansiedade começava a crescer no meu peito conforme as horas passavam, como se a chegada do dia seguinte fosse muito importante para mim. No entanto, tratei de me acalmar quando ouvi Chan cantar algo aos sussurros, sua voz tranquilizava o ambiente num passe de mágica. Em alguns segundos eu havia apagado completamente.

•••

Acordei com um cheiro bom invadindo o quarto, Chan não estava mais comigo e a luz do dia invadia o quarto pelas janelas. Senti preguiça de levantar mas me ergui, me espreguiçando. Eu estava me sentindo um pouco melhor da gripe, por outro lado, ainda sentia meu coração alertar quando lembrava do acontecimento de ontem. Era provável que hoje a maioria não iria para a escola, então alguns dos meninos ainda estariam aqui.

Sai do quarto indo diretamente para sala, papai, Changbin e Hyunjin estavam lá numa conversa a qual eu não entendi praticamente nada. Ignorei eles indo em direção a cozinha, de onde vinha aquele cheiro maravilhoso que fazia minha barriguinha roncar. Lá se encontravam mamãe, Felix e Chan. Os três estavam se ocupando com a comida, mamãe vigiava o fogão, Felix cortava alguma coisa e pegava os pratos. Assim que entrei fui recebido com um "bom dia" em unísso. Me sentei numa cadeira lhes respondendo e deixei meu rosto repousar sob o punho.

- Dormiu bem? - Chan perguntou assim que terminou de ajeitar as tigelas e os hashis.

- Sim... - Respondi só então percebendo o quanto minha voz estava rouca. Até Felix parou o que estava fazendo para me encarar.

- Que bom... O restante do pessoal foi pra casa, todo mundo faltou na escola hoje. - Ele riu e eu soltei um riso fraco.

Aquilo não foi um beijo...

- Que... - Bufei com meus próprios pensamentos enquanto encarava a mesa, Chan pareceu perdido mas deu de ombros.

- Eu conversei hoje mais cedo com o Minho, sobre ontem... - Chan puxou uma cadeira para si mesmo. - Ele realmente foi meio babaquinha, mas, sabe, você não deveria ligar.

Olhei para Chan dando um longo suspiro.

- Como não? Foi o meu primeiro beijo e ele nem é considerado um beijo, por que tinha que ser justo com ele? Tão insensível... - Falei aos sussurros para que a minha mãe não escutasse.

- O primeiro beijo nunca é perfeito, Sung.

- Bebê - Minha mãe se aproximou de repente, servindo as tigelas com a comida. - Não é mais bv? Cresceu tanto...

Bati minha testa contra a mesa, agora é bem provável que a minha mãe comece a planejar o meu casamento com Minho assim que Chan resolver abrir a boca pra fofocar da minha vida.

Chicletes • Minsung Onde histórias criam vida. Descubra agora