⋯ Trigésimo Terceiro Capítulo ⋯

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A garota estava atrasada.

Esperava que o pronunciamento ainda não tivesse começado, pois certamente não iria gostar de perde-lo. Mas o que ela podia fazer? Não era sua culpa que o vestido rosa claro feito pelas criadas havia descosturado bem na cintura. O que restava para ela era permanecer sentada na cama, esperando que Grace concluísse logo os pontos para que ela pudesse vestir a peça.

A criada estava assentada há alguns metros de Arya, com a linha na agulha, tentando fazer o melhor trabalho possível com o restante de tempo que sobrava. O vestido tinha ficado muito bonito, embora fosse de um tecido cintilante, ninguém notaria caso a garota permanecesse longe do sol. Não que Grace visse algum problema em usar um pouco de brilho, mas como o evento era durante o dia, Arya não queria tamanho destaque.

— Estou ansiosa para o pronunciamento — disse Roberta, dando pulinhos em seguida.

Como esperado, o rei seguiu o conselho da garota, e, assim que conseguiu alguma melhora, divulgou nos jornais que atenderia a população dentro do castelo, deixando o público eufórico.

— Continuo achando que não deveríamos ir. — Grace revirou os olhos.

— Acho que é uma oportunidade imperdível — bradou Lya — Os criados não são convidados com frequência.

— Mas não fomos convidadas! — defendeu a mais velha.

— Os panfletos não especificaram quem era ou não convidado. Você está sendo ranzinza mais uma vez. — Lya zombou da irmã.

— Lya tem razão — disse Arya, sem querer chatear a mais velha — Vocês deveriam comparecer.

Roberta sorriu, esperançosa. Sendo a criada mais nova ela não poderia ir sozinha, então dependia sempre de suas irmãs para obter um pouco de entretenimento.

— Soube que todos os jornalistas do reino estarão aqui para ver o rei doente.

Arya tossiu.

— Isso é apenas um rumor — disse ela — Não há nada confirmado sobre o estado de saúde dele.

A garota tentava negar sempre que o assunto surgia, mas aparentemente todo o reino tratava aquilo como uma verdade, e não somente como uma fofoca. Ela sabia que o rei já estava ingerindo a infusão por duas semanas e que provavelmente ele estaria bem, mas não podia ter certeza — pelo menos não certeza o suficiente para negar

— Pronto! Aqui está o vestido. — exclamou a criada mais velha, assim que finalizou o último ponto. — Com a costura bem feita dessa vez. — Grace olhou de soslaio para Roberta.

Arya revirou os olhos e agarrou a peça, vestindo-a em um segundo.

— Estou indo. — Ela se despediu. — Espero encontra-las lá.

As criadas assentiram e Arya saiu do quarto, caminhando até a Sala do Trono onde o rei faria o discurso. O castelo estava tão vazio que Arya teve certeza de que estava muito mais que atrasada, mas ela caminhava rapidamente, ansiosa para chegar logo ao destino.

O cheiro de charuto que ecoava no ambiente a lembrava da noite no escritório com o príncipe mais velho, jogando xadrez e bebericando o vinho amargo que ele gostava. Ainda que ela ficasse enfurecida em todas as partidas que era derrotada, havia sido uma boa noite.

Os guardas, estavam de pé na entrada da Sala do Trono, usavam armaduras de ferro de um jeito que não era possível enxergar nem os seus olhos, nas mãos carregavam lanças e tinham espadas afiadas na bainha. Arya se indagou se realmente era necessária toda aquela precaução em um evento tão positivo, mas depois do ataque ao Príncipe Henry, tudo era justificável.

A Coroa PúrpuraOnde histórias criam vida. Descubra agora