⋯ Trigésimo Segundo Capítulo ⋯

266 49 145
                                    

Cinco dias depois, a infusão ficara pronta e Arya estava a caminho do quarto do rei. Ela concluiu que, embora tivesse a assustado, a receita havia sido útil no final das contas.

Os guardas, que estavam na entrada como de costume, abriram passagem para ela assim que a viram, com o vestido bege e liso e as madeixas presas em um coque. Eles estavam preocupados com o futuro da nação, assim como ela, e o motivo era apenas um: no mesmo dia em que a garota achara a receita, uma manchete escandalosa abalara as estruturas do país.

Não que o jornalista anônimo e sensacionalista tivesse alguma confirmação, mas bastava uma centelha para ver toda a corte pegar fogo. A doença do rei, chamada de "fatal" pela matéria, havia sido exposta para a população, fazendo o seu quadro piorar drasticamente. Bastou apenas alguns jornais distribuídos e os nobres já estavam se reunindo para decidir o que fariam caso o rei falecesse.

Arya esperava que não fosse daquela vez. Não sob os seus cuidados.

Arya empurrou as duas portas pesadas e o viu: deitado, como da última vez, com a barba mal feita e o cabelo grisalho fazendo cachos. Conrado estava com os olhos fechados, adormecido e solitário, com a coroa repousada ao seu lado juntamente com o seu anel.

A garota se perguntou se ele sabia da notícia, e qual seria o impacto dela em sua saúde.

Não foi necessário que alguém a procurasse para contar sobre a manchete do jornal, as criadas linguarudas tinham um exemplar em mãos, e quando a rainha a contatou, ela sentiu-se culpada, pois estava feliz. Feliz por não ser uma suspeita. Aparentemente, o primeiro médico — que já tinha sido dispensado quando Arya foi consultada — tinha sumido, fugido do enforcamento que o esperava por trair o rei.

O quarto do rei estava cheiroso, com velas aromáticas distribuídas pelo aparador e as janelas abertas amenizando o peso que as paredes e cortinas vermelhas atribuíam ao ambiente.

— Majestade. — Arya chamou, descansando um dos bules em uma bancada enquanto enchia uma pequena xícara.

O rei abriu os olhos, e, com ajuda da garota, ele conseguiu se sentar.

— Fiquei esperando por você ontem — admitiu ele — Foi um dia difícil.

Os olhos de Conrado estavam vermelhos e ela percebeu que estavam rodeados por olheiras, aparentemente o dia anterior havia sido, de fato, muito cansativo.

— Perdoe-me, demorou um pouco mais do que eu esperava. — Ela enxugou a testa dele com um pano úmido. — Ainda bem que dias felizes virão. Estou confiante.

— Não precisa agir deste jeito — O rei pediu, deixando os braços caírem para o lado — Eu já sei sobre o jornal.

Arya ficou envergonhada, pois estava soando como uma puxa saco.

— Não precisa se desculpar — O homem, ainda que estivesse fraco, estava muito falante — Gosto de seu comportamento.

A garota sorriu.

— Acho que devemos ser positivos, Majestade. O chá está pronto e... realmente acredito que irá funcionar.

Tinha que funcionar.

O rei sorriu um pouco.

— Tome.

Arya estendeu a xícara para o rei e esperou que ele desse o último gole para conferir o relatório feito pelos criados que estavam o observando diariamente.

— O gosto não é bom. — Ele fez uma careta.

Arya riu, lembrando de sua mãe que havia sugerido comer a erva pura ao invés do chá.

A Coroa PúrpuraOnde histórias criam vida. Descubra agora