⋯ Terceiro Capítulo ⋯

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Movimentos e reflexos tão ligeiros apoderavam-se da garota, uma onda de fúria que, combinada com toda energia matinal provocava arrepios nos demais presentes, a paisagem verde e os imensos respingos de água faziam da Arena um lugar ainda mais assustador. Encharcada de um líquido insosso e transparente, Arya tentava ao máximo se defender das poderosas investidas de sua amiga Ava, uma Ciano eminente, que pertence a única família aquática do Acampamento.

Os Cianos eram os mais poderosos de sua espécie, quando evoluídos conseguiam manejar água em altíssimas temperaturas e fazer mergulhos em consideráveis profundidades sem terem a necessidade de oxigênio. Lamentavelmente, foram os mais caçados na Guerra, por conta de suas interessantes habilidades aquíferas que despertava curiosidade nos humanos da época, a última família remanescente enfrentou durante anos incapacidade de reprodução, devido às altíssimas frequências de radiação usadas em maldosos experimentos. Malyn foi um milagre — após seu nascimento, Oristânio obrigou que o casal continuasse tentando proliferar, o pedido resultou na morte de Leen, sua mãe, que morreu trazendo à vida seu segundo filho: Ava.

Ao invés de culpar Oristânio pela morte de sua mãe, Malyn expulsou todo o remorso na família, partindo o coração de seu pai e avós. O garoto fugiu do Acampamento e desde então, ninguém o viu. Ava em toda sua humildade amou o irmão, mesmo depois de tanto tempo, ela ainda esperava o seu retorno.

De maneira incansável, Ava insistia em afogar sua amiga no combate do treinamento matinal.

Arya estava furiosa.

— Basta, Ava! — dizia Soren, o treinador dos Coulor.

— Deixe-me interromper. —Idra tentava convencer o homem desesperado.

Soren fazia um sinal com as mãos para que a Ciano interrompesse o ataque, gritos de entusiasmo faziam o campo de treinamento parecer um sangrento combate em um circo, a loucura só aumentou quando Arya conseguiu contra-atacar sua oponente conduzindo toda água jorrada para longe de si em um forte vento, era como se ela controlasse um revoltoso maremoto.

— Eu preciso que vocês me ouçam! Parem já! — o treinador já estava impaciente.

— Deixe que se matem. — a voz irônica ecoou pelo lugar.

Nikolai, filho de Oristânio, Escarlate e o herdeiro de toda vitória Coulor.

Fogo e intensidade definiam o ruivo que gritava para impedir que Soren parasse o combate, seu maior prazer estava nisso: na demonstração de poder dos irmãos e de seu clã. Por ter nascido em berço de ouro, Nikolai acreditava que um dia herdaria o posto de seu pai, que nunca escondeu sua vontade de ver o filho governar o Acampamento.  Arya sempre preferiu olhar para o Escarlate de seu clã com olhos de bondade, diferentemente de Ava que nos momentos oportunos deixava o garoto repleto de cinzas, fedendo a fumaça.

— Idra. — respirou fundo. — Faça elas pararem, filho! — o treinador implorava com as mãos na cabeça.

— Deixe-me impedir. — o garoto com cabelos de fogo interviu.

— Agora não é a sua vez, Nikolai. — respondeu o Ocre com os olhos dourados. 

Em uma das mãos Idra sustentava algo parecido com raízes de árvore fazendo a plateia vibrar.

Definitivamente, ele era o favorito.

Com as outras mãos, o garoto habilidoso fazia o chão tremer e se dividir em dois, abrindo um grande precipício entre as duas amigas, que estavam claramente descontroladas.

— Idra, é melhor não se meter! — rosnou Arya tomada pela energia Violeta.

— Preciso que vocês parem, aérea. — falou enroscando os pés da irmã de clã com uma estirpe forte.

A Coroa PúrpuraOnde histórias criam vida. Descubra agora