⋯ Décimo Quinto Capítulo ⋯

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— Então... — a criada do meio iniciou uma conversa. — Como é lá?

Arya pensou duas vezes antes de contar os detalhes da Casa do Lago, sabia que Lya estava se tornando uma grande amiga, mas a fama de linguaruda era um alerta, uma advertência brilhante e chamativa, piscando em seus olhos para que ela lembrasse de ter cuidado com as palavras. Mesmo assim se arriscou:

— É linda. — sorriu ao lembrar, mas o rosto das criadas ainda estavam insatisfeitos ansiosos por mais detalhes. — A Casa do Lago é fria, um pouco diferente do castelo, menor, mais simples. O piso é tão brilhante que dava para ver o meu reflexo. — disse tentando lembrar-se da casa onde ficara tão pouco tempo. A maior parte do almoço estava sendo feita do lado de fora, então não tivera muito tempo para observar. — Não tive a oportunidade de conhecer os cômodos, mas externamente é repleta de grama e tem um lago muito bonito.

Os detalhes do final de semana ficavam cada vez mais empolgantes, as moças ficavam encantadas facilmente: mordiam o lábio, arranhavam a garganta e, às vezes até pulavam. Pareciam crianças ouvindo histórias de ninar, acompanhavam as palavras de Arya com empolgação.

— Ah. — expressou com uma voz aguda lembrando de um detalhe. — Notei os chapéus.

— São ridículos! — afirmou Roberta.

Todas riram.

— Não seja tão insensível, Roberta. — pediu a irmã mais velha. — Algumas mulheres ficam elegantes com um chapéu. A rainha por exemplo, fica linda.

Grace era muito prestativa: era vista por todos como a líder de suas irmãs. Sua família era humilde, camponeses que prestavam serviços à coroa por gerações e segundo Lya, era a primeira vez que serviam alguém importante, sempre trabalharam na cozinha, na lavanderia ou nos estábulos. As moças viam em Arya uma oportunidade única, estavam empolgadas e torciam fervorosamente pelo bem estar ama que sempre fora muito gentil.

— A rainha sempre está linda. — a do meio retrucou. — O que pretende fazer agora, Senhorita? — tossiu de leve. — Durante a tarde.

— Espero não ter obrigações reais hoje. — Arya disse apoiando os cotovelos sobre suas pernas. — Gostaria de passar um tempo sozinha. Há dias eu não fico só. — sorriu e fitou as moças.

— Tudo bem, Senhorita. Estaremos aqui às oito.

As criadas saíram do cômodo em sincronia e Arya agradeceu mentalmente pela oportunidade de estar sem ninguém por perto, mesmo que por algumas horas.

Em silêncio, sentiu falta de usar seus poderes, aquilo era um processo lento e doloroso e seu corpo precisava daquela energia, mas o seu disfarce escondia muito mais do que uma modificação genética, escondia a sua alma. Felizmente, ela sabia que não era a única passando por isso, Pratt também passava: ele também reprimia os olhos, os sentimentos e a vontade, de um jeito tão bem feito que, o único motivo pelo qual ela descobriu sobre ele foi porque ele quis.

Sua origem e sua história ainda eram desconhecidas pela menina e a cada segundo ela parecia estar mais perto de perder o controle. Sentir seus olhos mudarem para a cor verdadeira era um consolo para sua saudade e por minutos, se permitiu pensar em sua antiga vida.



Estavam todos sentados na grama, escorados em uma árvore centenária que enfeitava o Acampamento. Arya estava com os cabelos trançados e as calças de napa mais justas que o normal, sua blusa estava um pouco surrada assim como a da irmã Ava, que não parava de discutir com Nikolai sobre algum animal. Idra estava distante naquele dia, parecia conversar com seus próprios pensamentos enquanto analisava um metal. Ordens do pai, ela pensou.

A Coroa PúrpuraOnde histórias criam vida. Descubra agora