⋯ Quarto Capítulo ⋯

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Os cabelos desamarrados de Arya estavam esvoaçantes ao vento da tarde, o sol das duas horas fazia sua pele branca parecer prata, essa combinação contrastava perfeitamente com o pelo negro do cavalo. O cheiro da grama recém cortada e o som das ferraduras que batiam no chão fazia a garota fechar os olhos e sentir o pesado ar que entrava em seus pulmões. A tentação de controlar tudo aquilo era forte, quase insuportável, a única coisa capaz de cessá-la foi a visão de dezenas de homens parrudos segurando lanças afiadas, treinando a poucos metros dali.

Em meio à brados e gritos de motivação era possível ouvir uma ou cinco palavras de alguma canção que eles recitavam. Estavam enfileirados, atacando um ao outro com a face mais aterrorizante que podiam fazer, pareciam bravos mas era apenas encenação — achavam que, podiam assustar assaltantes com uma carranca. Os soldados vestiam roupas esquisitas, calças folgadas adornadas com tiras metálicas cobriam as pernas fortes, nos braços as tiras se transformavam em um tipo de armadura, grossas o suficiente para proteger o corpo de qualquer arranhão.

Ao se aproximar do lugar, a garota puxou a rédea do cavalo de maneira calma, pretendia apenas observar por um tempo, estava achando o combate armado interessante, mas ela não esperava que o animal fosse fazer um som estrondoso e captar toda a atenção dos homens para si.

— Veja! Uma mulher! — um cascudo gritou para seus companheiros.

— Uma mulher no Centro de Treinamento. — a fala foi suficiente para uma balbúrdia ser instaurada no local, homens domados por seus instintos corriam de um lado para o outro, por exceção de um.

Atrás de todos os perturbados, estava uma figura masculina forte, com um semblante calmo e trajes consideravelmente pomposos. Ele lia um livro estranho com a capa acinzentada, a menina espremeu os olhos tentando traduzir a capa, que estava claramente em outro idioma, ao seu lado estava um soldado gordinho cujo rosto era familiar: Bruce, o pateta.

— Não é possível que você se meteu em outra encrenca, garota! — o baixinho veio em sua direção quase soltando fumaça pelos ouvidos.

A Violeta amarrou o cavalo com uma corda em uma árvore próxima, torcendo para não chamar mais atenção, torcendo para ser invisível.

— Eu vim para ver o Príncipe Edward. — respondeu à Bruce com autoridade, não podia se deixar intimidar.

— O Príncipe Edward não deseja ver uma mulher atrevida como você. — seus olhos analisavam o corpo da Violeta. — Vejam! Ela cavalga de vestido! — dirigiu-se aos companheiros que riram da colocação.

O rapaz de trajes bonitos e olhos ardentes se aproximou ainda com o livro nas mãos.

— Acho que o príncipe pode decidir com quais mulheres ele fala, Soldado Bruce. — lançou um olhar de autoridade e desprezo ao menor. — Ouvi que quer falar comigo. — direcionou o olhar à menina, que sentiu um arrepio inquieto.

Ver que o rosto do filho mais velho de Conrado era diferente foi uma surpresa, esperava que ele se parecesse pelo menos um pouco com o irmão, mas eram completamente diferentes. Edward tinha um semblante sério, uma formalidade incomum que o deixava impecavelmente charmoso, seus cabelos pareciam ainda não concordarem em um tom exato, desequilibravam-se entre cores de luz e trevas. Seus olhos eram fundos, contornados por uma áurea valiosa e desconhecida, poderiam ser descritos como claros, mas ainda eram escuros — assim como seus cabelos.

O príncipe era indecifrável e por mais que a garota tentasse, não conseguia ver além do que ele permitia.

— Peço que não demores com as palavras. — disse impaciente, contraindo os músculos faciais.

— Preciso de uma autorização para cavalgar nas terras do reino. — a garota cruzou os braços em um gesto confiante. — E ouvi dizer que só você pode me dar uma.

A Coroa PúrpuraOnde histórias criam vida. Descubra agora