⋯ Décimo Quarto Capítulo ⋯

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— Pratt! — clamou ao ver o soldado deitado no piso de madeira molhada.

As janelas estavam abertas mas a água que inchava o chão não secava, se a garota prestasse um pouco de atenção uma porção bem pequena do céu já estava clara e as criadas não demorariam de chegar. Ignorando os outros possíveis problemas, ela voltou-se para o rapaz descontrolado e com os olhos brilhantes, a água não parava de brotar e se ele não voltasse ao normal logo inundaria o corredor inteiro.

— Tudo bem, Pratt. — disse ajoelhada perto dele. — Vamos ter calma. — levantou para pegar algumas toalhas pensando em qual mentira inventaria para justificar o uso excessivo delas. A garota estava em choque, as mãos tremendo e suando só demonstravam o quão nervosa ela estava.

O oceano azul nos olhos do soldado a lembrava de sua melhor amiga Ava — que também era uma Ciano. Mentalmente ela desejou tê-la ali. Ava certamente saberia como agir, sempre com o pensamento ágil e pronta para ajudar qualquer um que fosse, a irmã de clã era uma das pessoas mais bondosas que Arya conhecia. Lembrou-se de quantas vezes já havia ficado tomada pelo poder do ar e as palavras gentis de Ava a salvara.

Apesar de tantos episódios de descontrole, nunca havia visto algo assim. Não sabia se estava mais surpresa pela certeza de que ele era um Coulor ou pela enchente que estava — acidentalmente — provocando.

— De onde você é? — perguntou a Violeta colocando uma toalha grossa em cima de seu corpo.

Ele sorriu em uma espécie de transe, os olhos vidrados e profundos fitando o teto como se quisesse derrubá-lo.

— Pensei que fôssemos ter calma.

— Pratt, preciso que respire fundo e pense em locais molhados. — falou atenciosamente olhando para o rapaz. — Sei que quando jorram água pensam em desertos. Agora pense no mar. Pense em água. — afirmou desesperada. — Já sei.

Levantou e pegou um pouco de água fria na torneira do banheiro.

— Isso deve funcionar. — atirou a vasilha no rosto do soldado que teve um leve engasgo.

Nada.

A água parecia multiplicar a cada segundo e se caminhasse mais um centímetro molharia o estofado do baú cinzento.

Segure o ar, solte. Segure o ar, solte.

Envolta em uma atmosfera arroxeada a garota controlava o lugar com a ponta dos dedos, o vento forte que entrava pela janela passava pelos seus braços como se apreciassem o toque da pele da Violeta. Ela colocou as mãos frias sobre o rosto de Pratt e impulsionou sua face com todo o ar do ambiente, fazendo imediatamente com que seus olhos voltassem ao normal e desencadeando uma tosse seca na garganta do rapaz.

— Me perdoe. — disse Arya ainda sentindo o efeito dos poderes se esvaírem de seu corpo. — Eu tive que fazer isso.

— Violeta, huh? — disse o ruivo, ainda se recompondo.

— Sim. — confirmou recolhendo as toalhas do chão. — Como soube?

— Soube de quê? — ele soldado levantou, cambaleando e passando as mãos pela roupa preta e justa.

— Sobre mim.

O homem sorriu.

— Arya Coulor? — mencionou de forma irônica. — Não tinha outro sobrenome para usar?

— Então você sabe do Acampamento? — um lampejo de esperança brilhou no olhar da Violeta, uma esperança de saber um pouco mais sobre como estava sua casa, sua família e seus amigos.

A Coroa PúrpuraOnde histórias criam vida. Descubra agora