⋯ Décimo Primeiro Capítulo ⋯

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Era cedo. A luz resplandecente do sol alumiava a porta da pequena cabana em que a menina dormia, um claro sinal de que a chuva forte da noite anterior já havia passado. O mundo fora da cabana estava silencioso — por alguns momentos pelo menos — já que os homens do Centro de Treinamento ainda não haviam acordado para fazer barulho. O visual do local era diferente durante o dia, a grama que na noite anterior estava encharcada e pontuda, aparentava ser tão macia quanto a cama do palácio, o vento forte atravessava as árvores robustas fazendo um som agradável, o lugar era de longe, bonito, um bom lugar para se morar com dezenas de homens carrancudos.

O tique-taque de um relógio velho despertou a Violeta, que estranhou o lugar onde estava — às vezes, sua memória conseguia ser péssima e quando lembrou dos últimos acontecimentos, das acusações imerecidas, de sua fuga de repente e das lágrimas — agora já secas — desejou que aquele fosse um dos momentos em que sua memória falhava. Seu nariz estava irritantemente entupido e ela sentiu a voz fanha mesmo sem ter dito nenhuma palavra. Era uma infelicidade poluir um dia tão bonito com um humor tão arrastado.

Acordar em um lugar iluminado pela luz natural e sem ouvir os gritos berrantes das criadas, lembravam seu coração de como era acordar em seu verdadeiro lar, se fechasse os olhos, poderia fingir por alguns momentos estar lá: ouvindo os sons dos passarinhos alegres enquanto brincava com o ar.

Em um minuto de clareza, percebeu que Edward não estava na tenda e até onde ela se recordava ele havia estado ali.

Em sua mente confusa, tentou inventar alguma mentira para justificar o desespero que revelou na noite anterior, mas não conseguiu pensar em nada que fosse plausível ou até mesmo crível, já que as únicas opções iriam colocar o príncipe contra a própria mãe ou colocar o príncipe contra ela. Decidiu ficar quieta e esperar que ele fizesse o mesmo. Também procurou um espelho para conferir sua aparência, se as criadas a vissem desse jeito e ainda por cima perto do querido príncipe iriam arrancar os próprios cabelos.

Como não obteve sucesso em sua procura resolveu levantar, seu vestido, antes feito por um tecido delicado, estava todo sujo de lama e com a metade da saia plissada amarrada em um nó mal feito. Assim que saiu do lugar aconchegante, avistou o príncipe mais velho sentado na grama verde à sua frente, o rapaz acariciava um cachorro grande e peludo — tão grande que ela pensou ter visto uma onça ou até mesmo um leão — e logo ao seu lado, uma cesta repleta de pães.

— Finalmente. — disse o príncipe reparando sua presença. — Já estava preocupado, pensei que nunca fosse acordar.

— Bom dia. — a garota respondeu se sentando ao lado dele.

O cachorro não havia se mexido um centímetro sequer, continuava deitado com a cabeça entre as patas e as orelhas compridas balançando com o vento, um folgado — ela pensou. A expressão no rosto de Edward era engraçada, o cenho franzido e a vontade de rir revelavam como estava a aparência da recém-acordada.

— Você está horrível. — zombou rindo da situação.

— Obrigada, Alteza. — disse Arya revirando os olhos. — Passei a noite chorando e com febre, esperava que eu estivesse bonita?

— Você não trouxe nenhuma roupa então terei que me acostumar por uns dias. — olhou para o horizonte dando de ombros e acariciando o animal.

— E quem disse que irei ficar por uns dias?

— Eu.

— E quem você é para me dizer aonde devo ficar? — cruzou os braços e assumiu uma posição autoritária, levantou a sobrancelha pedindo para ser desafiada.

— Príncipe e General do Exército Real de Regan. — sorriu. — E a pessoa que fez você dormir ontem.

— Acho bom você nunca mais dizer isso em voz alta. — seu rosto ficou levemente vermelho com a colocação.

A Coroa PúrpuraOnde histórias criam vida. Descubra agora