⋯ Epílogo ⋯

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O chão gelado doía na pele sensível de Arya.

Era engraçado até a ironia do universo, pois se ela fechasse os olhos ainda pareceria que estava desfalecida sobre a gelada neve da Floresta do Norte. Ela desejava que fosse, desejava que fosse levada daquele lugar e que nada daquilo tivesse acontecido com ela.

Talvez isso curasse o seu coração do buraco que havia nele.

Estava deitada no chão de mármore do Salão Principal, em um círculo, incapaz de se levantar, pois seus ossos pesavam demais e as lágrimas eram insustentáveis. Nem mesmo com um grito a dor se esvairia, ela havia tentado, minutos após a notícia, havia espetado todo o seu interior com o autocontrole para não destruir aquele castelo com todo o ar que habitava dentro dela.

Cinco horas haviam se passado e ela não havia se mexido nem um centímetro. Foi a segunda a se deitar no chão, ao lado da rainha Eleonora que estava inconsolável, todas elas em um círculo: A rainha, a princesa, a noiva do príncipe mais velho e Arya, uma mera convidada naquela corte de segredos.

Todas elas desoladas.

A rainha não conseguia emitir nenhum som de choro, as lágrimas pareciam ter esgotado e deixado para trás apenas um soluço rouco. As vezes ela se ajoelhava, rezando para uma salvação, rezando por uma esperança.

— É o meu bebê — Ela gritou, desesperada — Eles levaram o meu bebê, o meu Henry, a minha criança. Eles o tiraram de mim.

Blanche foi a primeira a se levantar, abraçando a mãe e a impedindo de sentir mais alguma dor.

O salão estava vazio. A festa havia acabado no minuto em que o rei anunciou a infelicidade com o microfone, naquele momento, mais nada importou.

A rainha gritou mais uma vez, e Arya chorou sem suportar o peso que martelava em seu peito. Um homem surgiu no horizonte e ela foi forçada a abandonar o círculo, torcendo para que ele estivesse ali por ela e não pela outra.

Idra.

— Arya — Ele a abraçou, tão forte que poderia acabar com qualquer dor, mas não com aquela. Quando se afastou, ele continuou: — Edward vai liderar uma tropa. Os sequestradores deixaram rastros. Todos os homens da corte vão partir agora, apenas cinco soldados ficarão aqui.

— Cinco?

— Cinco. — repetiu ele. — Até o rei vai conosco.

— A rainha já sabe? — Ela olhou para a mulher devastada.

— Ele deve passar aqui para comunicá-la — Idra deu um beijo em sua testa — Fique segura. Eu seria destruído se a perdesse.

A dor pela falta do príncipe mais novo era tão grande que Arya não conseguia dar atenção às suas suspeitas. Ela o abraçou mais uma vez e voltou para o círculo, observando cada um dos homens que passaram por ali, dois na verdade. Edward e seu pai. Chamaram apenas a rainha e depois saíram.

Quando estava retornando para o círculo, Eleonora desfez a trança e rasgou o vestido negro de tecido caro com uma faca, ficando apenas com a anágua.

— Majesta... — Cassandra disse, oferecendo consolo.

— Não diga nada — A rainha respondeu entre os soluços — Esta merda é preta e não há ninguém de luto neste castelo. Quando o rei não está presente eu sou a responsável pelo país, e mesmo que eu esteja quebrada, ainda sou uma rainha.

Os olhos de Arya cintilaram orgulho.

— Vou contar a vocês como tudo isso começou.

As três se sentaram e ficaram atentas.

— Quando o meu marido ficou doente — disse a rainha com um certo esforço. Aparentemente, Cassandra não tinha conhecimento daquilo —, ficamos vulneráveis por tempo demais. Eram muitos nobres com insinuações diferentes e pouco argumento para nos proteger. A primeira carta foi uma ameaça, um bilhete na verdade, sucinto e impessoal, pedindo para que meu marido anunciasse o herdeiro de Regan. Conrado se calou. Não fizemos nada.

Mesmo que estivesse contando uma narrativa difícil, a rainha não chorava mais, estava concentrada e parecia mortal, canalizando toda a sua raiva para algo ou alguém.

— Recebemos outras duas cartas ameaçando Henry — Ela suspirou, fungando uma ou duas vezes no caminho — Ele é o mais próximo do rei e não esconde a sua vontade de subir ao trono. Edward é mais reservado, discreto, se expõe menos por motivos unicamente dele, não me convém dedurar o meu filho. Por isso Conrado anunciou a diminuição dos impostos e o baile aberto, tentou apaziguar a população para que os revoltosos voltassem atrás caso quisessem de fato assassinar o-o meu príncipe. Hoje nós soubemos que nada disso foi necessário.

A rainha não conseguiu se conter quando percebeu que as três choravam e abraçavam umas as outras.

— Eu preciso das três se eu quiser continuar viva. E eu quero. Quero estar aqui quando o meu anjo voltar para mim.

A Coroa PúrpuraOnde histórias criam vida. Descubra agora