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- Essa é a sala, você pode assistir televisão a hora que quiser, ali é a cozinha, lá daquele lado tem o banheiro. Nesses corredores ficam os quartos, o meu é no corredor, tem dois a frente e o seu é o do final, vai adorar a vista, é inteiramente pro lago e da pra ver o sol se pôr - me olhou - Vem, esse é o seu, espero que goste

Lindo, grande e basicamente todo em madeira, o colchão parecia ser extremamente macio e os detalhes em branco em todos os panos do quarto eram incríveis, a janela estava aberta e a vista realmente era do lago completo. Simplesmente incrível.

- É lindo - admirei com um sorriso bobo - Mas eu não trouxe nada além do celular, das chaves e carteira...

- Não se preocupa, eu comprei algumas roupas, um, dois e três números maior, vista as que couberem em você, tem bastante coisa até - ele foi na direção do armário e abriu mostrando as variedades e roupas - O mesmo vale para as cuecas, meias, sapatos e comprei toucas também, aqui costuma fazer frio a noite, também tem short de tomar banho, luvas e um cachecol - foi apontando para onde estava cada coisa

- Você... comprou tudo isso... pra mim? - arregalei os olhos e enfiei minhas mãos nos bolsos da calça, meu corpo parecia derreter por inteiro.

Que merda ele está fazendo?

- Claro que sim, eu queria que fosse surpresa e não poderia fazer surpresa se pedisse pra você trazer roupas, gatinho - sorriu - E não se preocupe, se você não quiser ficar com as roupas, eu apenas junto com as roupas mensais que dou ao orfanato, eles sempre usam ou fazem um bazar, não vai ser desperdício - deu de ombros e pareceu se lembrar de algo - Ah, aquela porta ali é um banheiro, também tem produtos de higiene pessoal e eu imaginei que você gostasse de coisas pro cabelo, então pesquisei e comprei o que eu acho que você vai gostar, eu precisei pedir ajuda pra dermatologista da família e não vou mentir que olhei o seu banheiro naquele dia que você não quis acorda - ele correu pro banheiro e eu não tive nem tempo de processar porque ele já estava de volta com dois produtos na mão - Aqui, pra cabelo cacheado e sem química, comprei com cheiro de lavanda, é o meu favorito - sorriu e me olhou - Inclusive tem muito produto que você usa que não é pro seu cabelo, eu confirmei

Fiquei estático olhando pra ele, é simplesmente impossível descrever o que está acontecendo.

- Espero não ter te assustado. Está assustado? Não quero te assustar - disse rápido

- É o meu favorito também - senti meu rosto ficar inteiramente vermelho e desviei o olhar, Louis voltou ao banheiro e eu tratei de me fazer parar de parecer uma adolescente apaixonada, ele estava apenas sendo legal

Legal até demais, o que é estranho em alguns pontos, mas no momento eu prefiro não reclamar.

- Já é quase hora do almoço, quer me ajudar na cozinha? Comprei comida também - parou na minha frente e eu franzi a testa

- Você arrumou tudo isso só hoje? - ele riu jogando a cabeça pra trás

- Claro que não, gatinho, tenho preparado o chalé desde o início da semana - disse óbvio e saiu

Ele planejava me convidar desde o início da semana? Harry, por favor, acalma esse coração porque é ilógico ele ter feito isso pra você, como ele mesmo disse, ele sempre passa os fins de semana aqui e é normal.

- Okay... - sussurrei - O que está acontecendo?11

- Esse chalé é realmente incrível - estávamos sentados no chão da sala, já tínhamos acabado de comer e agora estávamos apenas conversando

- Minha família tem desde antes de eu nascer, meus pais vinham muito mais aqui quando o meu avô era dono da companhia, era incrível, todos os meus aniversários eram aqui - olhou nostálgico para todos os cantos e eu pude imaginar que ele estava tendo lembranças da época - Era bom, tudo era simples, sabe? - me olhou brevemente - Eu os tinha todos os dias, claro que eles cuidavam da companhia com meu avô, mas era só pra aprender... então ele faleceu e meus pais assumiram tudo, desde então nós nunca mais voltamos aqui juntos

- Sente falta, não sente? - o olhei e ele, pela primeira vez na vida, me pareceu perdido, o olhar preso nas pernas, os ombros caídos e a boca franzida

- As vezes. Eu não sou ingrato, eu sei que tudo o que fazem é pro meu futuro, eu sei que toda a Inglaterra depende deles pra terem energia e que esse é um negócio de família que rola desde a época vitoriana. Eu vou assumir a empresa e eu não tenho objeções conta isso, mas... eu sinto falta de quando tudo era simples, entende? As vezes eu só queria que eles estivessem aqui no meu aniversário, que me trouxessem um bolo escrito parabéns, com a vela em formato de árvore de natal e um sorriso no rosto, eu sei que parece infantil--

- Não parece - o cortei e ele me olhou - Não tem nada de infantil em querer ter os pais juntos de você. Eu nunca senti completamente a falta dos meus pais, mas eu entendo como se sente e não é infantil - garanti e sorri de leve - Sonhar com uma vida diferente te faz humano, não bobo

- Zayn acha infantil as vezes, ele diz que eu tenho que aproveitar enquanto não tenho responsabilidades, que eu tenho dinheiro a hora que quero, o presente que quero e ninguém em cima de mim. As vezes eu me sinto ingrato porque tudo o que as pessoas querem é dinheiro sem ter responsabilidade... mas... seria bom ter um deles pra me perguntar como foi o meu dia - mordeu o lábio e desviou o olhar novamente, meu coração se estilhaçou, eu sempre tive uma imagem do Louis como alguém forte, inabalável, que estava sempre sorrindo, sempre sendo gentil e agora eu percebi como é fácil você acreditar numa imagem quando não conhece intimamente o que acontece por trás das câmeras.

- A última vez que estivemos aqui, eu tinha dez anos - ele disse novamente e olhou ao redor - Foi o último aniversário que passaram comigo, o último natal, o último ano novo e a última vez que me deram um presente de verdade

- Seus pais não te deram mais nada? - estranhei

- Eu passei essa casa pro meu nome quando fiz dezoito - deu de ombros

- Esse chalé é seu? - me espantei e olhei ao redor - Wow, você ganhou um chalé de aniversário - ri de leve

- Se você se surpreendeu com isso, não quero nem contar o que ganhei com dezesseis - riu sem humor

- O que? Aquele carro? - o olhei

- Não, aquilo foi de natal, eu ganhei uma ilha - arregalei os olhos e ele gargalhou, chegou a bater na própria coxa de tanto rir

- Eu ganhei um computador com dezesseis anos e foi da microsoft- disse pausadamente e ainda espantado - Que tipo de pessoa ganha uma ilha? - ri

- Se chama HawaLou - ele estendeu as mãos na frente do rosto e fez como se estivesse escrito bem na nossa frente

- Que original, Louis - rimos - Não quero nem imaginar o que ganhou com dezessete

- Uma franquia de hotéis em quatro países diferentes - murmurou e eu voltei a rir, ouvi a risada dele também e senti um leve empurrão - Para de rir dos meus presentes, eu não tenho culpa, pais culpados e ricos costumam dar coisas fúteis e caras.

- É só que - continuei rindo - Parece impossível alguém ficar triste sendo dono de uma ilha e hotéis - fui parando e ele também

- Seria legal se fosse eles me dando - deu de ombros e eu parei com os risos vendo que ele voltou a ficar incomodado - É chato quando você passa seu aniversário sozinho e chega o assistente pessoal com papéis e uma caneta pra você assinar e te dá um cartão compartilhado dos seus pais te dando parabéns - mordeu o lábio e eu quis abraça-lo, eu pensei mesmo em fazer, mas acho que ficaria estranho e eu não quero tornar isso pior pra ele - E nem era a letra deles - deixei de me importar com pensamentos e coisas do tipo, apenas tomei a iniciativa mesmo que pudesse ficar estranho depois

Passei meu braço pelos ombros dele e o puxei, como estávamos de lado o abraço acabou saindo assim, um tanto desajeitado, mas diferente do que eu imaginei, ele não achou estranho, ele retribuiu e me apertou com muita força. Isso fez meu coração se despedaçar ainda mais porque quando alguém te abraça assim significa que ela está totalmente desarmada e precisando urgentemente de um apoio, ou ela está a muito tempo sem um abraço sincero e precisa de um apoio. Eu não sei qual opção é pior, eu só sei que eu faria de tudo pra proteger o Louis de todo o mal, faria até um seminário com os pais dele e apresentaria uma planilha mostrando como eles poderiam ser melhores.

Ficamos nesse abraço pelo o que pareceram horas, eu queria passar segurança pro Louis, queria que ele se sentisse bem e que soubesse que alguém estava lá por ele, mesmo que esse alguém fosse apenas eu e não significasse pra ele o que ele significa pra mim.

Borahae (l.s)Onde histórias criam vida. Descubra agora