•Que amanhã eu não me arrependa.•

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LENNON

  Ela tava de brincadeira?

— Vou ali na cozinha, alguém quer alguma coisa? — Perguntei desviando o olhar dela.

— Quero não! — Ret falou.

  Ninguém mais se manifestou. Levantei e sai dali.

  Eu tava com a sensação pesada, era como tudo voltar. Como se não tivessem passado os três anos.

  Peguei uma das latinhas de cerveja e dei um gole grande, mas nem isso conseguiu me tirar aquele nó na garganta.

  Me apoiei na ilha e respirei fundo. Eu não podia deixar ela fazer isso comigo de novo!

— Lennon?

  Ela me chamou.

  Fechei os olhos suspirando. Eu não podia deixar ela me ver abalado, isso só aumentaria o ego dela.

  Virei de frente com a melhor expressão que eu tinha.

— Eu? — Perguntei.

Ela se aproximou receosa.

— Desculpa se te fiz ficar desconfortável...

— Não fiquei. — Respondi antes mesmo dela terminar de dizer.

— Eu não fiz com nenhuma intenção de te afetar. — Ela disse enquanto olhava nos meus olhos.

Eu queria muito achar que era pra me provocar, mas era tão sincera cada palavra.

— Tá tudo bem Mavi. — Disse tranquilo, por mais que minha vontade fosse dizer o quanto ela ainda me machuca, mesmo as vezes não fazendo absolutamente nada.

— Aproveitando que você aparenta estar bonzinho comigo. — Ela riu fraco. — A gente pode conversar?

Encarei ela por alguns segundos. E o não tava na ponta da minha língua, mas eu não consegui falar isso.

— Acho que sim. — Falei dando de ombros.

Ela me encarou surpresa e em silêncio por um tempo. Como se não tivesse acreditado na minha resposta, e na real, nem eu acredito.

— É. Vamo pro terraço? — Ela perguntou.

  Assenti receoso.

  Ela ficou desajeitada, mostrando que tava nervosa. E eu confesso, também tava. Seria a primeira vez sozinho com ela. Eu tenho medo do que posso sentir.

  Mavi tomou a frente, eu apenas segui. Não tinha a mínima noção de onde ela tava me levando.

  A gente subiu as escadas até um tipo de laje.

  Andamos até mais ou menos a ponta e era alto pra caramba.

  Ela sentou no chão mesmo, eu fiz o mesmo, um pouco mais afastado dela.

— Olha, eu quero conversar contigo há alguns dias já. — Ela confessou.

  Encarei ela curioso.

— Fala aí. — Eu disse e ela suspirou.

— Eu não sei exatamente como chegar nisso, talvez eu faça bastante rodeio ate. — Ela riu fraco.

  Era uma surpresa a Maria Vitória não dizer o que ela quer na cara, ela sempre foi bem direta.

— Ta tranquilo. — Falei dando de ombros.

  Ela suspirou pela milésima vez, eu até peguei esse costume dela.

— Tá. Eu vou começar dizendo que eu sei todo o mal que eu te causei, e olhando agora nos seus olhos eu tô jurando que eu mudaria isso. — Ela falou olhando fundo nos meus olhos. Tinha tanta intimidação que eu engoli em seco. — Faz poucos meses que eu tô nessa tentativa de evolução. No decorrer dos anos eu perdi pessoas que eu gosto, por conta dessa minha falta de responsabilidade afetiva, mas eu tô tentando mudar. E o que eu queria mesmo dizer é que eu quero tentar mudar a sua visão sobre mim. Mostrar esse meu novo lado, que tem mudado todos os dias.

  Enruguei o cenho. Juro que se eu não estivesse olhando nos seus olhos, juraria que ela estava metendo o louco, e que era um jogo. Mas tava difícil de ir contra a minha razão.

— Vitória. — Umedeci a boca enquanto procurava algo pra dizer pra ela. — Tu foi a pessoa que mais me fodeu na vida. Por meses eu fiquei esperando por você, mas também graças a isso eu consegui me amar um pouco mais. Também não vou mentir que tudo em você me lembra da forma soberba que você me deixou, e que eu também não acredito muito nesse papel de boa moça.

  Eu não estava sendo grosso. Tanto que ela nem revidou, apenas assentiu.

— Mas você me conhece melhor que ninguém. Sabe quando eu minto. — Ela se aproximou de mim. — Eu pareço estar mentindo?

  Ela perguntou olhando fundo nos meus olhos, e eu fiquei confuso com a proximidade. Ela tava perto demais.

— Não, e por isso que eu tô aqui. — Respondi como se não tivesse abalado.

— Eu também não estaria aqui se realmente não quisesse mudar a sua visão. — Ela falou volta do pra onde estava.

  Pude voltar a respirar de novo.

— Porque eu? — Perguntei curioso.

  Ele me olhou com a sobrancelha franzida.

— Você saiu como um monstro na visão da Yá também, porque também não tenta mudar a visão dela? — Perguntei.

  Ela me encarou com um sorriso mínimo.

— Ela nunca gostou de mim, não tem como eu querer mudar isso. — Ela deu de ombros. — Mas eu quero especificamente me acertar contigo por ter sido uma pessoa importante pra mim. Isso pesa pra mim. — Ela disse meio cabisbaixa.

  Confesso que fui ingênuo em querer me comparar com a Yá. Mas eu sempre vou ficar desconfiado.

— Acho que entendi. — Falei.

— Podemos ser amigos? — Ela perguntou esperançosa.

  Pensei por alguns segundos.

— Sim! — Fui contra a minha mente e segui o meu coração e a minha intuição.

  Mavi sorriu largo.

  Ela ergueu a mão pra gente fazer um toque e eu assinto fiz.

  Espero que nenhuma das cervejas tenha tomado essa decisão por mim, e que amanhã eu não me arrependa.

$.$

Vem de maratona.

1/5

nada é pra sempre | L7NNONOnde histórias criam vida. Descubra agora