Acordo antes do despertador, apesar de uma noite cheia de surpresas e comentários ácidos, o final foi muito, muito e muito agradável. Desço toda animada para tomar café, mas minha animação logo acaba depois de perceber que Tia Cassandra e Vovó Tieta, continuam no mesmo teto que eu.
Mamãe está cabisbaixa. Com uma xicara na mão, Cassandra me analisa da barriga até meu rosto, com um semblante de nojo. Vovó Tieta, está com as mãos na mesa, com os dedos entrelaçados, me olhando seriamente. Layanne surge da cozinha com uma sacola na mão e diz:
— Só estava esperando você descer para ir logo embora desta casa. Toma! — entrega a sacola. — Vai tomando o café no caminho mesmo, ou quando chegar na escola. — Ela olha para trás e se vira novamente. — Aqui não está calmo para tomar um café tranquilo.
— Quanta audácia dessa garota. — Dispara Tia Cassandra, ela se vira para mamãe e fala: — É esse o tratamento aos mais velhos, que você ensinou aos seus filhos, Laura?
— Essa sua casa é uma vergonha Laura. — Vovó toma um gole de café e continua. — Eu garanto a você que na minha casa, uma filha minha não engravidaria sem estar casada. E Você sabe bem disso.
— E porque vocês duas não vão logo embora para casa de vocês? — Interfere Layanne revoltada. — Porque além de comer, dormir e não pagar nada. Vocês duas se acham no direito de falar o que pensam aqui dentro.
Mamãe levanta rapidamente e bate as duas mãos na mesa direcionando a atenção de todos para ela e grita:
— PARA LAYANNE! JÁ NÃO BASTA A VERGONHA POR TER UMA FILHA GRAVIDA E SEM MARIDO, AINDA TEM VOCÊ QUE ACHA QUE PODE RESPONDER A SUA AVÓ.
— Então, você sente vergonha de mim? — Digo em um tom baixo e triste — Tem mãe?
Mamãe baixa a cabeça e fica em silencio, vovó se vira para mim e responde:
— E quem não teria? Gravida, sem marido. — Me analisa dos pés à cabeça.
— Eu não acredito mãe, que a senhora está ficando do lado de uma pessoa que não está com você o tempo todo.
Mamãe levanta a cabeça e limpa uma lagrima que estava escorrendo de um dos seus olhos tristes e abatidos e diz:
— Ela é minha mãe.
— E nós seus filhos. — Layanne rebate.
— Um dia eu vou lembrar dessa cena. — Engulo em seco. — E um dia você vai precisar de mim. — Me viro para Layanne. — Vamos?
— Vamos.
Durante o caminho até a escola, conto tudo para meu pai que fica surpreso ao saber que mamãe sente vergonha de mim. Ao contrario dela, papai diz me compreender e apoiar todas as minhas decisões. Layanne expressa a indignação dela, mas ela diz achar que mamãe disse aquilo por causa de Cassandra e vovó Tieta.
...
Na segunda aula, a professora Valdineia entra na sala seria e coloca a bolsa e uma pasta em cima da mesa, a mesma tira os óculos do rosto e passa o olhar por toda a sala, em seguida, pega um lenço e limpa uma das lentes dos óculos enquanto diz:
— Eu vi uma página no Instagram, que incita o assédio e o ódio. — Passa a limpar a outra lente. — Chamada "segundo ano 'te situa'". — Coloca os óculos no rosto. — Só quero deixar claro, que muitos aqui podem até ser ricos, mas o respeito prevalece independente da classe social. E se eu souber quem é o lindo administrador dessa página, não vai assistir aula minha por um bom tempo, ouso dizer que até reprovo. — Valdineia olha para Mateo. — E se dependesse de mim, você estaria expulso dessa escola Mateo, E você sabe que ainda não foi expulso, porque o seu teto não é de vidro, mas de chumbo, mas não se preocupe... porque um dia ele cai em cima de você.
— E quem é você para falar isso? — Mateo confronta Valdineia, levantando visivelmente alterado.
— Certamente uma pessoa que não sai assediando os outros como você. — Dispara Vanessa fazendo todos baterem palmas, até mesmo Valdineia.
— Se eu fosse você, calava a sua boca!
— Quem deveria calar a boca é você. — O afronto.
Acho que o acontecido hoje cedo, me deixou alterada e claro que enfurecida, além de triste, mas acho que falei uma coisa que esse idiota merecia saber há muito tempo. Eu nunca fiz nada para ele, para ter me tratado daquele jeito.
Mateo se senta novamente na cadeira em meio aos risos e sussurros, mas com um olhar doentio fixado em Vanessa. Falando em olhar, Derick me olha com um meio sorriso, como quem ficou orgulhoso do que falei, mas foi uma surpresa até mesmo para mim, que sempre me sinto um ser sensível e que se encolhe a cada vez que alguém me ataca com palavras e ações.
...
Derick e eu chegamos à clínica para saber o sexo do bebê às seis da noite, assim que saímos da escola, viemos para cá. Ao chegar na recepção, a recepcionista diz que o doutor Alberto já está nos aguardando. Entramos na sala e o doutor pede que eu deite, e coloca o gel gelado na minha barriga.
— Hum... Interessante. — Diz o médico olhando para o monitor.
— O que foi doutor? — Pergunto preocupada.
— Tem alguma coisa errada com o bebê doutor? — Derick se aproxima olhando para o monitor bastante preocupado.
Calmamente, doutor Alberto se levanta da cadeira e tira as luvas jogando-as no lixo, em seguida, pega uma toalha, se vira e olha para nós dizendo:
— Não aconteceu nada. — Me entrega a toalha. — Apenas o bebê que não quer que saibamos o sexo hoje.
— Eu não acredito! — Derick passa a mão na cabeça descrente.
— Eu pensei que era algo de errado com o meu bebê. — Digo limpando o gel na minha barriga.
Doutor Alberto cai na gargalhada.
— Não rir não, doutor. Porque até eu fiquei preocupado.
— Vocês dois são hilários. — Diz o médico tentando conter os risos. — Acho que serão ótimos pais com esse humor.
— Você que faz a piada, e a gente que somos engraçados? — Falo rindo também.
...
No caminho para a minha casa, Derick e eu estamos conversando, e olha que pensei que não tínhamos muitas coisas em comum, mas eu estava totalmente enganada. Ele já me contou que já assistiu ao filme "um lugar silencioso" duas vezes, e que nas duas vezes que assistiu, chorou quando o pai das crianças morreu. Eu também chorei horrores. Ainda me lembro que assoei o nariz, na blusa nova de Layanne.
— Você já escutou "lean on" do major lazer? — Falo empolgada. — Porque eu adoro essa música, é aquele tipo de música que sempre escuto quando estou triste.
— Eu escutei muito essa música Geovana. — Diz com as mãos no volante e olhando para estrada com um sorriso. — Lembro que foi uma febre.
— Ela é muito boa, eu adoro.
— Eu lembro de uma festa na casa do Caio, onde essa música tocava muito e eu estava bebendo feito um louco porque o time tinha ganhado o campeonato estadual e Lamara também tinha terminado comigo. Eu estava um jogado. — Concluí aos risos.
— Nossa! foi muita coisa para um dia só.
— Foi! Mas na mesma noite eu superei a dor que estava sentido pela Lamara, ficando com uma menina, que aliás, é aquela sua amiga.
Nesse momento, meu sorriso se desfaz e olho para Derick que continua fixado na estrada. Pelo o que parece, ele deixou essa gafe sair despercebida. Aproveitando o momento, pergunto:
— Que amiga?
— A Vanessa. — Fala despercebidamente. — Eu acho que é Vanessa, que é sua prima.
— Espera ai! — Digo fazendo-o me olhar. — Você já ficou com a Vanessa? A Vanessa minha amiga? A Vanessa, Vanessa? — Derick vai parando o carro e percebo que pareço estar bem interessada em saber disso, o que de fato estou. E muito!
Por mais que Derick e eu não estivéssemos juntos, Vanessa não tinha o direito de ter feito isso comigo. Nós tínhamos um pacto.
Você me paga Vanessa!
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Tudo Começou Em Uma Viagem
Fiksi RemajaGeovana é uma garota que engravida precocemente em uma viagem organizada pela escola e tem que enfrentar a conturbada família tradicional, os julgamentos e olhares dos colegas no colégio, sendo submetida a momentos constrangedores e estando sujeita...