Os átomos todos dançam

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As palavras e ações de Namjoon sempre ecoavam em todas as paredes que constituíam Jungkook.

Toda parte é todo e o todo é cada parte.

A primeira linha do primeiro poema escrito por Namjoon reverberou imediatamente os pensamentos de Jungkook. Pausou o vídeo após ouvi-la. Deixou-a repetindo-se em sua mente algumas vezes antes de continuar.

Namjoon Kim estava diante de seus olhos em apenas duas dimensões, preso no tempo e espaço de alguns minutos na tela de um celular. Pressionando o play outra vez, Jungkook viu a imagem se mover e sentiu o som daquela voz grave, suave e determinada invadindo seus ouvidos. À medida que o vídeo recomeçava, foi sentindo prazer em ter aquele cara desconhecido em suas mãos, declamando uma poesia para ele. Na verdade, a poesia era enunciada para os seguidores dele no instagram, mas parecia ser só pra Jungkook.

A frase impactante se repetiu e aí o rapaz entendeu que a função do coração, marcando aquele compasso descompassado sob o estímulo da voz de Namjoon, na verdade era de compor uma melodia. Namjoon era como uma sereia hipnotizando com seu canto. Era como um músico dedilhando, sem sequer usar as mãos, cada instrumento da orquestra que era o corpo de Jungkook. Era o maestro guiando as harmonias para formar uma sinfonia acompanhada de um canto surrealmente bonito: Jungkook estava apaixonado. À primeira vista, por todas as dimensões que pôde ver de Namjoon. O eco daquela frase, toda parte é todo e o todo é cada parte ficou vibrando nas paredes de sua mente. Era o canto da sereia fazendo Jungkook procurar no mar alto da paixão pelo dono daquela voz.

O jovem recém formado no ensino médio soube, desde o primeiro momento, que aquilo que o fez se encantar por Namjoon, mesmo à distância, tinha nome. Já tinha sentido aquela atração antes e havia desistido de questionar se aquilo era certo. Ele aceitava o jeito que cada partícula de Namjoon parecia exercer uma atração inevitável sobre todas as células que compunham seu corpo. Naquela dança de seus átomos, os tecidos cardíacos eram o couro do tambor recebendo as batidas que marcavam o compasso. A música era aquela atração, o músico, Namjoon.

Quando terminou de ouvir a poesia, Jungkook repetiu o vídeo. O porte com que Namjoon se assentava naquele banquinho em sua varanda repleta de plantas, o jeito adorável e displicente com que se afastava ou se aproximava da câmera para ajustá-la, a voz grave, a consciência de uma infinidade de sentidos para cada palavra escolhida para formar aquele poema, o primeiro que Jungkook via ao outro declamar. Também tinha o jeito como a luz do sol deixava apenas metade de seu rosto iluminada e a outra metade propositalmente sombreada, a seriedade ao declamar os versos se desfazendo enfim em um sorriso largo, graciosamente decorado por duas covinhas em seu rosto. Até o modo como ficava de pé ao fim do vídeo, com suas pernas arqueadas se movendo com uma elegância desarticulada até a câmera para desligá-la. Tudo aquilo havia encantado Jungkook.

Jungkook agora era o marinheiro navegando até a ilha onde as sereias cantavam. Não havia jeito de tirar da mente as poesias, que obcecadamente foi lendo e ouvindo, uma atrás da outra. Namjoon era inteiramente um poema: métrica, ritmo, palavras perfeitas flutuando em sua língua, quebrando como ondas em seus lábios, molhando a areia da praia. Quando a imagem dele ou as palavras estavam prestes a se dissipar de sua mente, Jungkook voltava a lê-las ou assistia outra vez algum dos vídeos. Mentalmente, revisitava as poesias, pensamentos e os traços únicos daquele rosto diversas vezes ao longo do dia e da semana. Só à noite tinha descanso daquele navegar constante pelo mar do desejo. Até que, enfim, sonhou com ter encontrado com o dono daquele sorriso.

Namjoon havia dominado seu território onírico e agora começava a colonizar sua realidade também, sem ter sequer invadido Jungkook. Ele simplesmente havia começado a habitá-lo sem ter recebido convite e agora povoava a mente de Jungkook com fantasias e sonhos. E aí esses sonhos e fantasias se solidificaram um pouco mais com uma decisão.

Longe da razão, perto do coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora