O mundo que nunca vi

564 61 45
                                    

Oliver revirou os armários de Ilíria, tentando achar alguma coisa por ali que realmente servisse como café da manhã, mas, ao que parecia, ela não andava preocupada com fazer refeição alguma. Encostou no móvel, pensando no que faria com ela. Mandara Ilíria tomar um banho, e embora ela tenha o encarado como quem ia protestar, discutir e arremessá-lo para fora, ela suspirou exausta, se rendendo.

Bom, aquilo era um início, não era? Poderia jurar que os olhos escuros se tornaram um pouco frágeis com a ideia de que alguém não desistiria dela, mas tudo sumiu em um instante. A levaria para tomar café em alguma lanchonete próxima, então iriam para um mercado, porque ela definitivamente precisava de comida. Talvez a convencesse a fazer uma corrida mais tarde, ou ir em algum médico.

Piscou surpreso quando viu ela surgir novamente, os fios negros molhados e algumas gotas correndo pelo pescoço da garota, vestia uma calça comprida azul, um casaco de moletom cinzento e pantufas. Oliver gostava de admirar aquele sorriso audacioso e os olhos espertos, e de alguma forma ambos pareciam muito apagados, mas Ilíria continuava linda de uma forma que só ela era capaz de ser. Merlin, daria qualquer coisa para por um sorriso naquele rostinho.

Ela parou a frente dele em silêncio, esperando por qualquer coisa que ele fosse dizer, porque simplesmente não sabia o que fazer com o Wood enfiado em sua casa. Levantou os ombros casualmente, pensando no que poderia comer uma vez que ele parecia ter forte oposição quanto a seus pacotes de biscoito. Não entendia como Oliver poderia estar ali, como ele podia dizer que se importava com ela, porque parecia difícil demais acreditar que alguém poderia sinceramente fazer isso. Quando o silêncio se estendeu demais, abriu a boca.

—Não sabia que continuava apaixonado pela Heather. —e não se importava também.

—Quê? —Oliver perguntou sem entender. —Eu não estou apaixonado pela Heather.

—Não está aqui para impressionar ela? —perguntou um pouco maldosa, o garoto bufou.

—Não, Ilíria, não estou aqui para impressionar Heather. —falou com seriedade, então se descolou do móvel, a encarando. —Eu já te disse porque estou aqui.

Um resmungo qualquer foi tudo que ganhou como resposta, como se ela desconsiderasse todas as suas palavras.

—Calce os sapatos, estamos saindo. —mandou, ela arqueou uma sobrancelha e ele gostou de ver aquela expressão de "você pensa que está falando com quem?" voltar a ter um lugar naquele rosto.

—Não quero sair. —deu de ombros, se virando e voltando para a sala calmamente.

—Se você quiser comer, quer sair. —apontou a seguindo, Ilíria não se preocupou em se virar, soltando um som de desdém.

Estava com fome. Era estranho uma vez que estava todo aquele tempo ali sentindo nada. Considerou lentamente, poderia botar Oliver para fora e se afundar nos biscoitos recheados, mas queria desesperadamente se agarrar nas palavras dele.

Não vou desistir de você —Oliver dissera isso, e talvez fosse a coisa mais emocionante e assustadora que já ouvira. Precisava de alguém que não desistisse de seu eu ferido, e ao mesmo tempo não conseguia confiar que alguém faria isso por si. Heather faria, mas Heather estava do outro lado do mundo, sentada com sua família de sangue puro que jamais aceitaria Ilíria. Não era culpa dela, claro que não, mas precisava ser aceita em algum lugar.

Suspirou baixinho, sentando no sofá e puxando os tênis que estavam pousados em sua lateral, calçou meias e então os tênis, amarrando os cadarços devagar o bastante para juntar coragem de sair de dentro de sua casa. Levantou a cabeça, encarando o garoto que continuava lhe olhando.

—Onde vai? —perguntou como se não tivesse qualquer intenção de sair.

—Nós vamos tomar café da manhã. —frisou, ela revirou os olhos e ele riu, se satisfazendo com qualquer reação que conseguisse tirar dela, se precisasse irritar Ilíria uma vez após a outra para mantê-la longe da apatia, faria isso. —E depois vamos ao mercado, você precisa de comida.

Levantou-se, esticando as costas, então os braços e as pernas. Seu corpo estalou como se não fosse alongado há muito tempo, e de fato não era. Caminhou escada acima sem oferecer nenhuma explicação, entrando no próprio quarto e abrindo seu malão ainda feito, pegou a carteira que ficava escondida no canto dele, então o fechou novamente. Refez o caminho, descendo a escada com os olhos presos no pedaço de tecido duro, conferindo se suas duas identidades, trouxa e bruxa, estavam ali, assim como seu cartão e a chave de seu cofre no Gringotes.

—Pronta? —Oliver perguntou quando ela levantou os olhos para ele, Ilíria apenas concordou antes de pegar seu chaveiro na cômoda.

Caminhou para a entrada da casa, destrancando a porta bonita e a abrindo para o mundo. Seus olhos se estreitaram pela claridade repentina, então se lembrou de algo.

—Esse é um bairro trouxa. —explicou, esperando para ver qual seria a reação do Wood, mas ele apenas pareceu um pouco surpreso, então sorriu.

—Nunca visitei um. —falou, cruzando o batente e deixando Ilíria, agora com suas lentes de contato de volta nos olhos, trancar a porta. —É muito diferente?

—As escolas sim. —pensou um pouco. —Estudei em uma escola trouxa quando era pequena. —Oliver não sabia se olhava para as coisas a sua volta, para Ilíria ou para sua frente, um pouco fascinado pelo mundo novo. —As matérias são bem diferentes, e não existem casas.

—Então como são separados? —questionou confuso.

—Não são. —a observou atento, interessado por aquilo.

Oliver amava a sua casa, sabia que era um verdadeiro membro da Grifinória, mas estava impressionado com o fato de que os trouxas não promoviam aquele tipo de separação, pensou em como seria não ser definido por um pequeno grupo de características. Ouviu Ilíria lhe explicar sobre aquele mundo, fazendo várias e várias perguntas enquanto caminhavam, absorvendo os detalhes, comparando com o mundo bruxo, observando o seu entorno. O mundo que jamais conheceu.

Naquela manhã Oliver e Ilíria aproveitaram o sol que surgiu entre as nuvens, e o vento que correu as ruas.

Todos os Erros - Oliver WoodOnde histórias criam vida. Descubra agora