"Fique" era tudo que eu queria dizer

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Ilíria se sentia dispersa e um tanto vazia, os dias pareciam não passar, principalmente quando mal conseguia dormir.

Uma semana já havia se passado. Uma longa e interminável semana de silêncio.

Adrian Pucey não estava muito melhor, naquela manhã sequer se lembrara de prender a gravata, se olhava no espelho e ainda assim detalhes passavam batidos uma vez que não conseguia voltar seu foco para eles, estava exausto e com olheiras que nem mesmo a magia poderia cobrir inteiramente. Não conseguia deixar de pensar que já estavam no final do ano, e poucos dias atrás haviam combinado que passariam suas férias juntos, mas agora isso parecia um futuro distante e inalcançável.

Se sentia letárgica, sabia que estava preocupando suas amigas, durante várias noites Heather se deitava na cama ao lado da amiga e esperava até que Ilíria conseguisse dormir para descansar, mas não conseguia deixar isso. Era sempre assim. Quando sua mãe morrera, quando seu pai fora levado, quando ninguém a quis. Durante dias se tornara apática, até que fosse arrancada de seu estado para mergulhar em um mundo de tristeza e raiva. Sentia falta de Adrian a cada segundo que se passava.

Estava cansado. Cansado de aceitar a distância que Ilíria impora entre eles como se aquilo estivesse sendo difícil apenas para ela. Sabia que ela estava sofrendo, e não era possível que ela não soubesse que assistir aquilo o matava. Durante toda sua vida Adrian entendera o peso de seu sangue, de preservar sua linhagem, e ela precisava entender o quão chocante era para ele descobrir que ela tinha o sangue sujo.

Se levantou rapidamente, mandando toda sua árvore genealógica ao inferno. Entendia a importância do sangue puro, restava a eles entender o quanto ela significava.

Quando encontrou Ilíria a segurou pela mão, a garota se virou confusa, mas já estava sendo puxada até uma sala vazia. Não teve tempo de reagir, ele trancou a porta e a fez sentar em uma mesa, seus olhos na mesma altura.

—Mas o que… —começou a falar, apenas para ser interrompida.

—Nós precisamos conversar. —seu tom não dava brecha para aberturas. Ela o olhou com atenção, não parecia tão arrumado quanto em seu normal, mas Adrian era lindo de um jeito quase impossível de se apagar. —Eu amo você.

De todas as coisas que esperava que ele dissesse, essa certamente não era uma delas. Mas ele segurou-a pelo rosto com tanta gentileza que nada diferente disso poderia ter escapado daqueles lábios. Quis chorar quando percebeu que a resposta que precisava dar e a que queria dar não eram a mesma.

—Eu continuo mestiça. —disse, ainda que só quisesse dizer que o amava de volta. Não passou despercebido o jeito como a boca dele se franziu involuntariamente ao ouvir aquela palavra.

—Eu não ligo. —replicou, mas ela estava cética.

—Liga. —foi direta.

—Tudo bem… —suspirou, mexendo nos cabelos rapidamente enquanto pensava em como continuar. —Eu não posso fingir que não me importo com isso. —completou incerto, mas a garota não o deixou continuar.

—O que você quer de mim então? Eu não posso mudar meu sangue.

—Ilíria, eu amo você. —beijou as bochechas dela com carinho. —Amo esse seu jeito, amo sua inteligência e até o fato de você ser meio maluca.

—Mas não o suficiente para aceitar o que eu sou. —a voz dela soou tão dolorida que a resposta de Adrian foi imediata, impensada.

—Eu estou disposto a isso! Não é o ideal, mas poderia ser pior. —o arrependimento o acertou no mesmo segundo.

—Como seria pior? —sabia a resposta, mas precisava disso, porque a vontade de tê-lo de volta a enchia de desespero.

—Você não quer ouvir isso. —sussurrou.

—Quero, eu quero. —precisava.

—Você poderia ser uma sangue-ruim… —a palavra soou cruel mesmo para ele, mas sabia que Ilíria queria ouvir. —Eu sei que você está magoada, amor. Sei que isso não é o que você queria. —tentou. —Mas pense um pouco, eu estou sacrificando gerações de uma família sangue puro por você, tente ser compreensiva comigo.

O problema era que Adrian obviamente não entendia o que estava pedindo, era claro que a única vontade dela era se agarrar a ele e esquecer tudo aquilo, não existia um único pedaço de seu corpo que quisesse dizer não a ele, que não considerasse a ideia de aceitar o que ele podia oferecer, mas não era justo.

—Eu não quero ser um sacrifício. —era tão difícil dizer isso, mas a verdade era que estava tão cansada de ser um peso, de ser sempre o que sobrava e era rejeitado, e agora precisava rejeitar alguém que amava para não ser submetida a essa posição novamente. —Você pode aceitar que eu sou, mas não aceitaria as pessoas como eu.

Ilíria seria a excessão, não a regra. Adrian não teria como abrir mão de tanto de sua vida de uma só vez, ambos sabiam disso.

—Eu posso tentar. —a voz saiu fraca, não queria abrir mão dela, mas parecia errado demais dizer que ela seria o fim de uma linhagem, Ilíria não merecia o peso disso.

—E o que você vai fazer quando as pessoas te odiarem por culpa minha? —não existia resposta para isso. —Quando os seus pais te odiarem?

O coração dele poderia ter sido arrancado, dissera que não se importava em acabar com tudo aquilo, mas não havia pensado em seus próprios pais. A ideia de que eles o odiariam era horrível.

O silêncio entre eles se arrastou ainda mais ferino do que durante toda aquela semana, porque simplesmente não havia o que ser dito.

Se queriam, e ainda assim seriam o pior dos castigos um para o outro. Ilíria soluçou nervosa ao entender que aquilo era o fim deles, não podia ter a culpa de atrapalhar toda uma vida, como diria que o amava se fizesse isso? Adrian a apertou em um abraço, deixando a garota se enroscar nele e chorar desesperada, queria poder dizer qualquer coisa que a consolasse, mas estava tão quebrado quanto ela, não pode impedir as lágrimas que escorreram.

—Eu queria tanto te odiar. —soluçou. —Seria tão mais fácil, mas eu não sei… Eu não sei como não amar você.

Todos os Erros - Oliver WoodOnde histórias criam vida. Descubra agora